16 de outubro de 2019

Ideologia do absurdo

A Assembleia Legislativa do Espírito Santo, seguindo uma tendência nacional pelo obscurantismo intelectual e político, deverá votar e aprovar hoje um texto que criminaliza professores acusados de propagar "ideologia de gênero" entre os estudantes, sobretudo do primeiro grau. Essa reação nasceu de uma série de graves equívocos (?) didáticos de professores, como a que passou para uma estudante de 12 anos lição de casa onde a mandava pesquisar na internet assuntos como sexo oral e masturbação. Obviamente, isso não é nada didático.
Esse termo "ideologia de gênero" nasceu em 1995 na ONU, numa das reuniões da Organização, trazido a ela por sociólogos. Hoje é usado por aqueles que contestam o princípio de que os gêneros seriam construções sociais. Para eles já se nasce menino e menina e ponto final.
Se fosse assim tão simples não haveria o homossexualismo, que é a atração sexual de um ser por outro do mesmo sexo ou gênero. Está claro que o indivíduo nasce fisiologicamente menino ou menina. Mas se a pessoa será heterossexual ou não, isso vai depender de uma série de fatores. E a esmagadora maioria deles será, sim, social. Ou isso ou o sujeito não seria o fruto do seu meio.
Nada justifica o fato de um professor querer substituir o papel do pai e da mãe na escola e pretender dar aulas de pseuda orientação sexual para crianças. Da mesma forma, nada numa sociedade laica como a nossa permite a um legislador, sobretudo marcado por conceitos religiosos que podem ser considerados manipuladores, de querer interferir nas funções do Estado.
O texto a ser votado hoje é extremamente subjetivo. De propósito, pois sua intenção é a de permitir que, por visões teológicas, os detentores do poder possam impor seus dogmas aos outros, mesmo que isso signifique contrariar os princípios do Estado Laico. Ou seja, a Constituição da República.
Não existe "ideologia de gênero". E aqui não importa se a gente considera a ideologia com definição filosófica ou política, tenha essa características marxistas ou não.
O que existe é "identidade de gênero". Um ser  humano, depois de formado intelectualmente, vai inevitavelmente se identificar no terreno das preferências sexuais. Como resultado do meio ou de sua abstração intelectual, será heterossexual, homossexual ou o que mais houver. E a vida seguirá seu curso, independente do que pensam aqueles que desejam impor dogmas aos demais movidos pelo calor das montanhas de dinheiro recolhido em cultos evangélicos suspeitos, ou então das aulas de educadores que fazem mal ao próximo tentando substituir as famílias.
E como se não bastasse isso tudo, o texto a ser aprovado hoje tem conotações inconstitucionais. Cabe aos governantes analisar isso antes de aprovar tais leis de ocasião.             

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