6 de outubro de 2020

Nosso deserto de ideias


Somente nas últimas 24 horas recebi por WhatsApp ou Facebook, produzidos pelas fábricas de fake news a serviço dos interesses do atual governo federal, dois envios de mensagens propagandísticas. Num deles um homem sustenta o corpo faminto de certa mulher idosa (a própria mãe?) e o texto nos remete à "crueldade dos comunistas venezuelanos". A foto bem pode ser da Venezuela, posto que a miséria lá é grande.

No Brasil varonil dos tempos modernos, temos agora em números do IBGE informações de que nossa pobreza passou de 26,7 por cento para 27,4 por cento da população nos últimos dados fechados. Os extremamente pobres, aqueles que não têm sequer para comer, chegam a 13,5 milhões de pessoas. Isso porque a pobreza extrema é medida para quem recebe até R$ 145,00 por mês e, no caso atual do estado fascista brasileiro essa cifra cai para R$ 89,00 mensais. O contingente é muito superior ao Venezuelano, mesmo com a "amizade" entre um fritador de hambúrgueres e os filhos do atual presidente dos Estados Unidos.

No outro envio o cidadão Ricardo Salles, hoje ocupando o cargo de ministro do Meio Ambiente, diz que o atual governo protege os milhões de moradores das regiões amazônicas enquanto os anteriores, de esquerda, teriam feito o inverso só pensando na manutenção de árvores e com seus membros acumulando condecorações. Fala isso de forma falsa - os números não são reais - enquanto o Brasil queima por obra e graça de incendiários incentivados a colocar a cada dia mais fogo no país justamente pela ideologia do governo federal. Ao menos o título da postagem é real: enquanto o ministro fala a palavra "Avassalador" aparece em grande destaque logo acima de suas palavras vazias de sentido, mas feitas do fogo que avassala.

E por que esse tipo de discurso tem efeito, arregimenta apoiadores e alimenta a rede de fake news mantida pelas dezenas de sites a serviço do fascismo atual? Porque a oposição não tem um discurso uno, não tem um horizonte definido. Não denuncia com força! No caso dos seguidores de Bozo, o que eles fazem é lembrar a cada dia os roubos atribuídos aos governos anteriores, sobretudo ao PT - e vamos combinar que se roubou mesmo muito naquelas administrações! - e atribuir ao atual todas glórias e todas as virtudes.

Ora, sabemos dos vínculos dessa administração com milícias criminosas, sabemos das rachadinhas, das agressões ao Estado Democrático e de Direito, dos atentados contra os princípios de país laico, das empresas chocolateiras ou não de lavagem de dinheiro e do imenso esquema montado para evitar que o presidente e seus filhos respondam a processos criminais. Sabemos dos acordos com o Centrão e que o presidente é oriundo dele. Sabemos disso e de muito mais coisa. E não fazemos nada.

Quando o atual governo terminar deixaremos aos nossos filhos e netos não apenas a miséria absoluta desse cidadão da foto aí acima, passando fome enrolado na bandeira do Brasil, mas também a herança de um país com o meio ambiente destruído. E poderemos, se sobrevivermos a isso. dizer àqueles que nos sucederão que além de um Brasil destruído estamos deixando a eles um deserto de ideias.               

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