12 de abril de 2021

Como um castelo de cartas

 A falta de uma definição ideológica clara nos partidos políticos brasileiros é um mal que depõe contra eles já faz décadas. Mesmo aqueles que tinham em sua nomenclatura termos como "Democrático" nunca especificaram o que isso significava como horizonte, como norte político para eles. Clara era a sigla "Comunista" no nome de partido, embora houvesse dois, cada um com uma diretriz diferente.

Desde que o PCB, antigo Partidão abriu mão de seu nome oficial para se tornar primeiro PPS e depois Cidadania ele passou e se descaracterizar. Hoje, existindo com sua última nomeação, não se sabe se é uma agremiação de situação ou oposição. Embora tendo em seus quadros antigos e respeitáveis membros do velho Partidão, "comunistas de carteirinha", dá-se o direito de contar com um líder no Senado que mantém laços de intimidade política com Jair Bolsonaro, extremista de direita. E outro que grava e divulga contato telefônico com esse presidente, de teor muito suspeito. Aos poucos a legenda corre o risco de se tornar mais uma sigla de aluguel.

O imenso número de partidos brasileiros concorre para com esse samba do crioulo doido. De forma clara, indisfarçável, grande parte deles são alugados a políticos de nenhuma envergadura pessoal, ética ou moral, e a propósitos pouco claros. Há de todo o tipo de gente: ladrões de dinheiro público, oportunistas de toda sorte, enfim, arrivistas sem limites que se mostram sobretudo e principalmente como indivíduos que vendem apoio em troca de cargos públicos, emendas parlamentares e blindagem política. Como o grupo de legendas chamado "Centrão", de onde o presidente da República é oriundo e de onde ele jamais se afastou apesar dos discursos demagógicos.

Vai ser muito difícil a um país como o Brasil, habitado por analfabetos funcionais políticos mudar essa realidade. É mais provável que ela permaneça, sobretudo agora que estamos diante de um quadro confuso em nossa realidade e quando pessoas vão às ruas com discursos que, sendo inconstitucionais são criminosos. E sem que o Estado faça nada para coibir. Ao contrário, os incentiva.

Mas uma realidade se impõe: ou nossa democracia vai se sustentar em partidos políticos respeitados, ideologicamente claros e com programas abertos a todos os cidadãos ou ela vai ser tão frágil a ponto de desmoronar um dia como um castelo de carta. E com derramamento de sangue.                           


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