15 de junho de 2022

Não tenhamos esperanças


É muito difícil entender como foi possível à embaixada do Brasil no Reino Unido manter contato com os familiares do jornalista Dom Phillips, anunciar o encontro de seu cadáver mais o do indigenista Bruno Pereira para depois tudo ser desmentido porque a viúva de Dom comunicou isso a um jornalista competente, digno e que colocou a notícia no ar em sua emissora. E levou outros a noticiarem o fato, como foi meu caso na crônica anterior. Duas certezas moram comigo no que diz respeito a esse episódio: ordens superiores determinaram o desmentido da embaixada (cabeças vão rolar..) e não existe a menor possibilidade de que os dois desaparecidos em Atalaia do Norte estejam vivos.

Não tenhamos esperanças.

Esse caso nos remete a um passado não muito distante para todos os que acompanharam a história do Brasil recente, pós 1964. Se a gente se recordar da Guerrilha do Araguaia (foto) vai entender como funcionavam as coisas naquela época: prender, julgar, condenar, dava muito trabalho. Sumir com as evidências era mais fácil. Isso foi feito também fora do Brasil porque os métodos são todos oriundos dos Estados Unidos. Por isso Ernesto Che Guevara foi assassinado depois de ter sido capturado vivo na Bolívia. Dar a ele o marketing de um julgamento público, do qual sairia endeusado para muitos, estava fora de cogitação. Era melhor "morrer em combate". Como as PMs fazem no Brasil até hoje quando matam e dizem que o inimigo ou inimigos resistiram à prisão armados. Claro, sem testemunhas.

Na Amazônia é fácil abrir o ventre de um cadáver, colocar um peso dentro dele e afundá-lo no rio mais próximo. Fica praticamente impossível encontrar alguma coisa, até porque a imensa maioria dos peixes são carnívoros. Eles fazem a pior parte do trabalho. Quantos presos políticos até hoje estão desaparecidos no Brasil? Por isso as autoridades insistem em parar com as buscas.

Dom Phillips e  Bruno Pereira, dentre outras coisas, estavam ensinando índios e ribeirinhos a operarem drones para monitoramento e denúncia de garimpo e pesca ilegal, mineração criminosa, grilagem e outros crimes comuns na região. Tinham que morrer pela lógica do crime organizado. Talvez, e isso é uma aposta minha, nunca venham a ser encontrados. Quem sabe tudo são aqueles que deram as ordens superiores.

Mas eles não vão falar...           

Um comentário:

MT disse...

Tenho uma irremovível opinião a esse respeito: culpadas e testemunhas sao as piranhas e os jacarés da selvagem região. É isso mesmo: ter corpo é materializar e perpetuar ícones. E estamos com eleição em curso. É melhor queimar o sofá , qual na anedota.