5 de setembro de 2025

Um Frankenstein da política

 

Há no Brasil de hoje, esse da política cheia de ódio e pobre de boas propostas, algumas pessoas que não sabem ao certo o que estão fazendo em seus cargos públicos. Um deles é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, militar reformado, levado à cena pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, carente de planos e projetos e que recentemente disse não acreditar na Justiça. Ele é um Frankenstein do exercício do poder no Brasil e, inclusive, já disse em mais de uma oportunidade que sem esse ex-governante não seria nada. Está certo. Mas será que ele é alguma coisa em nosso cenário político atual?

Recentemente o governador enviou à Assembleia Legislativa de seu (sic!) Estado um projeto já aprovado e que vende 720 mil hectares de terras públicas devolutas a fazendeiros com até 90 por cento de desconto sobre o preço de mercado. Coisa como a gente entregar um bem de R$ 100.000,00 por R$ 10.000,00. Negócio da China, mais do que de pai para filho. No total, a renúncia de patrimônio público somado durante o governo desse cidadão pode chegar aos R$ 7,6 bilhões. Ele vende tudo o que é do Estado. Na prática isso quer dizer grilagem de terras com entrega dessas a latifundiários improdutivos de São Paulo, alguns dos quais respondem a processos, mas que ainda assim são a base de apoio político de Freitas. Como se não bastasse isso ainda ressuscitou a Polícia mais letal do mundo. 

E não é só isso. A imprensa descobriu que alguns dos auxiliares diretos do governador, como secretários de Estado por exemplo, mais do que dobraram seu patrimônio pessoal em um ano. Isso sem ganhar na MegaSena... O que fez esse Frankenstein político brasileiro? Proibiu a divulgação de dados sobre o patrimônio pessoal de todos os seus mais próximos auxiliares. E os dele também, óbvio. Isso vai de encontro a uma prática comum no Brasil e também gerantida pela Lei de Acesso à Informação e que determina aos detentores de cargos públicos divulgar seus patrimônios anualmente como forma de provarem que exercem os mandatos com lisura. Tarcício quer fazer assim? Claro que não quer.

É esse o tipo de figura dominante na política brasileira dos dias atuais. Como ele consegue fazer com que seus projetos mais estapafúrdios sejam aprovados pela Assembleia Legislativa? Simples: a imensa maioria está cooptada e filiada a partidos ligados à extrema direita brasileira. São atrelados ao governador e a seu projeto de poder graças ao fato de que, assim agindo, ficam no mesmo espectro ideológico do chefe do Executivo, embora sem saber o que isso significa, e ainda podem usufruir de cargos públicos no Estado. Se o governador se eleger presidente, esse exercício de poder de barganha passa ao nível federal. Assim é no Brasil descarado de hoje, projeto pronto e acabado de Jair Bolsonaro.

Sim, o sonho de Tarcísio é ser presidente da República ano que vem. Sabe que seu criador, Vitor Frankenstein, o moldou a partir de restos mortais reunidos de diversas figuras desprezíveis de onde ele habita desde sempre e agora quer ter uma cara só sua, mesmo com cicatrizes e parafusos. Graças a isso declara a quem quiser ouvir que não acredita na Justiça e pretende a anistia para todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado mais recente do Brasil. Sabe que essa anistia é inconstitucional sob muitos aspectos e será derrubada ao final, mas seu projeto envolve  aumentar a instabilidade política nesse País.

Sabe igualmente que a Justiça está fazendo seu papel, como sempre acertando e errando, mas dizer que não cre nela o torna próximo da extrema direita brasileira, ávida para destruir o Supremo Tribunal Federal e, a partir daí, moldar um país onde o poder ou não precise se submeter às leis ou as tenha representadas por vassalos de seu projetos pessoais e de Estado. Simples assim. E também esse é o objetivo de gente como Sóstenes Cavalcanti, Ciro Nogueira e mais uma carrada de medíocres como alguns capixabas tipo Magno Malta, Marcos do Val, Gilvan da Federal, Evair de Melo, Messias Donato, Amaro Neto, etc.

Tem tudo para dar errado, mas eles vão tentar.     


      


     

3 de setembro de 2025

O Brasil que não conhecemos

 

Imagine um filme que seja nossa cara. E além de tudo a cara do Brasil e daquele país que nós pouco ou nada conhecemos, nos cafundós da Amazônia. Estou falando de "O último azul", de Gabriel Mascaro, vencedor do prêmio máximo de Melhor Filme Íbero-Americano de Ficção no México e de melhor atriz para a atriz principal. É a história de Teresa, mulher de 77 anos vivida por Denise Weinberg, ótima interpretação e que na foto acima aparece em uma cena junto com Rodrigo Santoro. Além deles a película também tem Miriam Socarrás e uma história distópica da sociedade que decide obrigar os idosos dos 75 anos em diante a serem enviados para um exilío forçado onde vão esperar a morte para que os jovens possam produzir em paz. Claro, isso não existe, mas podemos estar caminhando para lá.

A distopia é o inverso da utopia. Trata-se de termo vindo do grego "dys-tópos", lugar ruim, condição de miséria, opressão, autoritarismo e desespero, como uma crítica social e alerta sobre o futuro. Teresa, o personagem de Denise, não quer isso. Velhinha do balacobaco, ela foge porque quer voar. Literalmente. E corre para sua aventura chamada liberdade. O projeto dessa sociedade distópica é maquiavélico, mas é melhor não contar os detalhes para que você vá ver o filme. Não se trata de um tapa na cara como "Ainda estou aqui", até porque a obra é ficcional. Mas ela tem substância, faz pensar e isso não vinha sendo comum no cinema brasileiro até pouco tempo atrás, mesmo nas melhores obras.

O que é o azul? Trata-se de um caracol da baba azul, animal mágico, em estado de extinção e que não existe verdadeiramente na natureza. Foi inventado para essa narrativa. Sua baba tem que ser pingada no olho como uma espécie de colírio que leva a visões. Teresa quer isso. Quer qualquer coisa que não signifique se submeter aos ditames de um estado totalitário e que considera os velhos como seres descartáveis. Imprestáveis. Para embarcar na sua aventura ela encontra uma parceira vivida por Miriam Socarrás e seu barco onde são vendidas bíblias digitais com a promessa do paraíso. Aliás, todos os falsos profetas prometem isso, estejam onde estiverem. Até e principalmente em Brasília.

Esse aparente resgate do cinema nacional é oportuno porque se contrapõe ao momento negacionista que estamos vivendo no Brasil de pouco brilho intelectual e muita distopia política. O filme é de ficção, mas o que ele mostra são pessoas que podem resistir, mesmo passivamente, a condições adversas e ainda se essas vierem na forma de gaiolas que as levam à força para os lugares onde vão esperar a morte porque, e isso é inevitável, ela vai chegar para todos aqueles que vivem. Só não deveria ser dessa forma.         

2 de setembro de 2025

Anistia nunca mais!


Se houver anistia para os criminosos da tentativa da golpe militar no Brasil, mais um deles, seus autores ou descendentes vão tentar de novo. Não desistirão de seus próximos sonhos de aquarteladas, pois isso está embutido no cerne da política brasileira e na cultura da nossa vida militar desde o final do Império, em fins do século XIX. E notem bem: os golpistas brasileiros estão sempre na extrema direita do espectro político nacional, embutidos na série de partidos de aluguel usados desde muito como seu abrigo.

Assim é hoje como foi ontem. E quem são esses novos pregadores da destruição da nossa democracia? São out siders, na maioria dos casos, chegados ao poder pelas mãos de Bolsonaro, um saudosista do passado mais recente de ditadura do Brasil, como é o caso do governador de São Paulo, Tarsísio de Freitas, carioca levado para lá terras paulistas pelo ex-presiente e que, vez ou outra, diz candidamente que não seria nada sem seu patrono. E com ele, conseguiu fazer renascer a polícia mais letal do nosso país, levando a cabo aquele velho princípio do "bandido bom é bandido morto". Contanto seja pobre e preto.

Hoje pela manhã falaram o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes e o Procurador Geral da República, Paulo Gonet Branco. O primeiro relatou as peças dos autos e o segundo mostrou porque não se pode simplesmente perdoar os golpistas. Numa fala brilhante. Paralelamente a isso, parlamentares sobretudo da extrema direita do espectro político brasileiro iam para o Congresso Nacional, a maioria vestidos de verde e amarelo, defender anistia. Defender o indefensável, que mais uma vez façamos vista grossa para o golpismo, como se nada houvesse ou se, como dizem os gaiatos, tudo não tivesse passado de um passeio no parque.

Domingo mesmo o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal teve que ser defendido dentro de um avião que o transportava de São Luís para Brasília porque corria o risco de ser agredido por uma doidivana enlouquecida. Assim vive hoje parte da população brasileira, inconformada pelo fato de seu "mito" estar para ser preso porque tentou destruir a democracia brasileira. E fez isso desde que chegou ao poder está provado nos autos dos processos que enfrenta juntamente com seu sete capangas próximos

Ele sobrevive ilusões porque tem ao seu lado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse diz que conhece todo mundo que é honesto. Talvez como ele, que roubou e levou para casa documentos secretos do governo de seu país quando deixou a presidência concluído o primeiro mandato e ainda incentivou seguidores a invadir o Congresso dos Estados Unidos num episódio no qual foi anistiado e houve três mortes. Todos os fascinoras que estavam com ele receberam anistia também.

Esses criminosos são muito inocentes. E me fazem lembrar a piada do ladrão que entrou no quintal do vizinho e roubou um bacurinho, um filhote de porco. Quando estava saindo foi supreendido pela Polícia.

- Ladrão, estava roubando o porco - disse o policial.

- Porco? Que porco?- perguntou o ladrão.

- Esse no seu ombro - respondeu.

- Tira esse bicho daqui, tira esse bicho daqui - gritou ele.

Os grandes constitucionalistas dizem que não existe anistia para crimes de tentativa de golpe de Estado e dissolução do Estado Democrático e de Direito.