22 de janeiro de 2010

Os políticos e os púlpitos


A proximidade das eleições gerais brasileiras, que vão definir até mesmo o próximo presidente da República, desnuda um dos maiores problemas brasileiros: somos um Estado laico, mas onde inúmeras igrejas - na verdade, seitas - são usadas rasgadamente para cabalar votos.
Um dos melhores negócios que existem hoje é criar uma igreja. De preferência, pentecostal. E para isso bastam poucas providências legais. Essas instituições surgem com a velocidade das formigas. Depois, é preciso que elas "adotem" um ou mais políticos. E cabalem votos para ele(s) em troca de favores como, por exemplo, uma gorda parcela anual de sua verba de "emendas parlamentares". Outras de nossas aberrações republicanas.
Se enviar o dinheiro diretamente para a seita não for possível, basta a ela criar uma ONG. Uma instituição ligada à "célula mãe" e com aparência de ser benemerente. Nem precisa ser: basta parecer. E ter a capacidade de arrecadar muito dinheiro. De emendas e dízimos.
É assim que proliferam no Brasil "confissões" que estão sendo processadas, em alguns casos criminalmente. Muitas têm problemas com a Justiça. No caso de uma, seus donos foram presos e processados nos Estados Unidos. Mas todas são muito ricas.
Um Estado Laico não poderia permitir isso. "Bancada evangélica" é coisa própria de país onde os partidos não têm a menor importância. Coisa de país onde as agremiações partidárias, que deveriam ser referências na vida política, tornam-se apenas instrumentos nas mãos de caciques políticos, muitos dos quais se escudam nos púlpitos de seitas sem escrúpulos para se aproveitar da boa fé das pessoas e se perpetuar renovando mandatos.
Sim, porque o alvo de todas essas falsas religiões são as pessoas incultas, as pessoas sem informações, as que estão fragilizadas socialmente, perderam empregos, famílias ou se destroçaram em acidentes ou por causa de doenças. São elas que "pastores" e donos de outras denominações arregimentam. E são elas, também, que sustentam os maus políticos no poder.
Em nome de quem? De quem mesmo?




Nenhum comentário: