25 de janeiro de 2010

A demagogia e a tragédia

Não há nada pior, mais dantesco, mais insensível do que um governo se aproveitar de uma tragédia das proporções da do Haiti para fazer demagogia e tentar vender imagens falsas, nacional e internacionalmente.
O Brasil quer destinar mais de R$ 130 milhões ao Haiti especificamente para a construção de dez hospitais, que pelos projetos anunciados, seriam identificados por uma sigla que os chamam de unidades de pronto atendimento ou coisa parecida.
O Haiti precisa de ajuda. Muita. E o Brasil o está ajudando há quase seis anos, de modo brilhante. Após o terremoto, essa ajuda se intensificou. No que nos toca, estamos fazendo o possível. Mas pergunto: há uma única e miserável justificativa ética e moral, para um governo que ao longo de sete anos não construiu hospital algum aqui, de repente fazer dez lá?
Ao contrário, meus caros, a situação da saúde no Brasil é caótica. Em Sinop, no Mato Grosso, há um hospital (foto ao lado) construído há anos e até agora sem funcionar porque não há lá equipamentos necessários à realização, sequer, de uma sutura. E milhares de brasileiros morrem sem atendimento médico na região todos os dias. Esse, creiam, é apenas um exemplo!
O programa Saúde da Família só tem contado com recursos estaduais e municipais pelo Brasil afora. O Governo Federal não vem entrando com nada. Isso ocorre no Espírito Santo, onde estou e as carências são enormes. Nós estamos órfãos de pai e mãe, inclusive da tal Mãe do PAC, e ainda queremos construir dez hospitais em outro país, por motivos meramente eleitoreiros. É um absurdo. O mundo todo, unido, pode fazer tudo pelo Haiti, bastando haver vontade política e coordenação. E vai fazer, acredito. Nosso governo deveria ter como meta principal prover seu povo, sua população. Mas pouco faz em áreas como saúde e educação, para ficarmos em apenas dois exemplos. Ao contrário, concentra-se única e exclusivamente em demagogias.
É preciso ver isso. É necessário refletir sobre isso. É a hora de os brasileiros lutarem para que nossos recursos sirvam aos outros depois de nos servirem em nossas necesidades.
EM TEMPO: àqueles brasileiros e brasileiras chorosos, ávidos por adotar crianças haitianas, lembro o seguinte: não há meios legais de isso ser feito agora, pois os procedimentos legais estão emperrados naquele país. Crianças não são brinquedos e precisam ser tratadas com uma dose maior de comprometimento, programação. E temos, aqui no Brasil, milhares de pequenos, nossas crianças jogadas nas ruas, à mingua, ou em centros de triagens e favelas, sem serem adotadas por ninguém. Crianças sem passado, sem presente e sem futuro.
Claro, se não forem arregimentadas pelo tráfico. E ele "adota". Pensem nisso!

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