29 de julho de 2010

Um bom negócio



Segundo números oficiais, a cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, tem agora, no final de julho de 2010, nada menos que 1.512 semáforos para trânsito urbano. Nada mal para uma cidade apenas de porte médio e que faz parte de uma região metropolitana de grande porte. Agora, o município da Serra - parte dessa região metropolitana - vai instalar mais 70 equipamentos em sua área interna. E esse número vem crescendo também em outros municípios limítrofes à capital capixaba, como são os casos de Vila Velha, Cariacica, Viana e Guarapari, o que fecha a área da chamada de metrópole.
Sempre que vejo isso, reservo-me o direito de perguntar: entupir a cidade de semáforos é um bom negócio? E uso essa pergunta com sentido claro: bom negócio em termos de dinheiro?
Não sei o que ocorre na cidade dos leitores, mas é possivelmente um bom negócio também reformar praças e outros equipamentos públicos do gênero. As prefeituras fazem isso sempre que querem ou podem. Não param de fazer. E as praças e outros espaços públicos de descanso e lazer são sempre construídos com materiais capazes de sobreviver a no máximo uma administração. Quatro míseros aninhos. E por conveniência.
Isso também acontece com obras privadas. É muito difícil fazer com que as prefeituras, em muitos casos, façam com que sejam compridas as regras de códigos de obras, ambientais e outros. Agora mesmo, na cidade de Vitória, um empresário do ramo de bares e restaurantes está montando um estabelecimento num dos bairros residenciais da cidade. Totalmente irregular. Mas a PMV alega que o empreendimento do cidadão vai dar segurança 24 horas aos moradores do entorno. Mas isso não seria uma função do Estado?
Alguém sabe me dizer que motivos lícitos existem por trás de decisões - ou omissões - tão claras e tão distantes das normas que as prefeituras deveriam fazer cumprir, mesmo sob pressão? Porque a perspectiva dos ilícitos, essa tenho em mente.
Todos os especialistas ouvidos por jornais, rádios e TVs são unânimes em dizer que a Grande Vitória, essa tal região metropolitana da qual já falei, tem semáforos em demasia, alguns dos quais caros e até mesmo com emissão de luzes a LED. Sobretudo e principalmente a cidade de Vitória. Mas as prefeituras, em época de eleições importantes, continuam colocando mais e mais equipamentos em locais às vezes menos de 50 metros distantes um do outro. A ponto de fazer com que as pessoas passem por cinco ou seis deles em um quilômetro, como mostram as duas fotos do artigo, ambas da capital do Espírito Santo.
Deve ser mesmo um bom negócio!

27 de julho de 2010

A segurança particular e seus motivos


Dois assuntos que estão sendo muito comentados ultimamente se fundem na realidade do Brasil de hoje: primeiro, a morte do filho mais novo da atriz Cissa Guimarães, atropelado no Rio de Janeiro. Depois, a constatação através de números, de que as empresas de vigilância privada já possuem contingente que excede em número as polícias civil e militar brasileiras somadas.
O que significa isso?
Isso mostra um Estado ausente, omisso, incapaz, campeão mundial de arrecadação de impostos e ao mesmo tempo incompetente até a raiz. E isso para dizer o mínimo.
O túnel onde o Rafael, filho de Cissa, foi morto, estava fechado para reparos mas ninguém o reparava. O rapaz entrou lá junto a amigos para andar de skate - o que é errado - ao mesmo tempo em que outros rapazes aparentemente faziam um racha de automóvel. A Polícia Militar apareceu depois. Para pedir propina, ameaçar e tentar maquiar o local do acidente.
Esse é o motivo também por trás dos gastos brasileiros com segurança particular. Como o Estado nunca está presente, cabe ao cidadão pagar pela segurança própria, de seus filhos e suas residências. Isso depois de ele já pagar por educação, saúde e outros itens, muitos deles garantidos na Constituição como sendo direitos inalienáveis de todos nós.
Eis o Brasil. O país de um presidente gaiato, falastrão, que geralmente só abre a boca para falar bobagens e que aumenta impostos a cada dia, a cada mês, a cada ano enquanto os brasileiros gastam cada vez mais a cada dia, a cada mês, a cada ano, até para se manterem vivos.
E isso quando conseguem.

19 de julho de 2010

Corrupção e material de construção


Ontem - 18/07/2010 - houve uma eleição no pequeno município de Apiacá, sul do Espírito Santo. Um prefeito foi cassado e houve novo pleito. Tudo correu às mil maravilhas segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Espírito Santo, desembargador Pedro Vals Feu Rosa. Ele vem comandando uma campanha no Estado que tem por objetivo que haja eleições limpas no final do ano, sobretudo com a erradicação da compra de votos.
Na véspera, esteve no 2º Simpósio de Inverno da Sociedade Capixaba de Oftalmologia, na paradisíaca Pedra Azul, para que houvesse mais uma assinatura do protocolo de intenções do Programa de Ética e Transparência Eleitoral (Prete), uma espécie de carta-compromisso pela lisura da atividade política - que já foi assinada por mais de 400 entidades civis do Espírito Santo -. Em seu breve pronunciamento quando dessa ocasião, disse publicamente algo que, só por esse motivo, reproduzo aqui:
Numa das andanças dele pelo interior, descobriu que num determinado município de parca expressão e população, cerca de R$ 1,5 milhão havia sido distribuído por um político a moradores locais. A justificativa foi de que não se tratava de suborno nem oferta de dinheiro por parte de político, mas que os munícipes haviam decidido reformar suas casas. Isso corresponde a dizer que, em um mesmo dia e hora, toda a população da cidade havia resolvido, conjuntamente, refazer suas moradias. Com "dinheiro próprio" e acabando com o estoque de material de construção do município. Não teria sobrado um prego sequer. A Polícia, claro, foi colocada a par da questão e está cuidando dela.
Nós temos, mesmo, que dar cabo à corrupção política no Brasil. Ela vem descendo desde Brasília, onde é uma instituição "venerável" e venerada, passa pelos Estados, ocupa os três poderes da República, e acaba com o material de construção de pequenos municípios brasileiros. Como esse do Espírito Santo, onde ela foi detectada pelo presidente do TRE.
Isso é uma praga. E pragas devem ser erradicadas. Ou com a ajuda da Polícia, como está acontecendo na região do R$ 1,5 milhão distribuídos para a compra de voto, ou com o gesto dessa imagem que encerra o texto: o cidadão dizendo "NÃO" à compra de votos.

7 de julho de 2010

Pobres "Marias Chuteiras". Pobre futebol!

Faz não muito tempo, estive no sepultamento de um ex-jogador de futebol na Grande Vitória. Lá, revi ex-jogadores, amigos do morto e meus, que não via lá se vão muitos anos. Todos já com os cabelos grisalhos, muitos deles avôs, estavam novamente unidos em torno das despedidas a um velho companheiro. Homens que foram desportistas, sonharam com a riqueza e a glória, mas conseguiram apenas carreiras comuns depois de passada a época de futebol. Nenhum era ou é desonesto, até onde se saiba. São todas pessoas dignas.
Sou jornalista, convivi com jogadores, treinadores e dirigentes, durante três décadas. Amei e amo o futebol. Erra quem pensa que esse é um meio sujo ou mais sujo que qualquer outro. É um ambiente de sonhos, de vida profissional breve, mas habitado por uma imensa maioria de pessoas honestas. Sincera e verdadeiramente.
Causa horror imaginar a situação que vivemos hoje. A moça cuja foto ilustra este texto era uma das chamadas "Maria Chuteira". Moças que se envolvem com atletas poucos sérios, metem-se em orgias e engravidam desses homens porque eles têm dinheiro. Eliza Samudio foi provavelmente morta em circunstâncias de extrema crueldade, quem sabe - há grandes suspeitas quanto a isso - por iniciativa, ordem ou orientação de um ídolo do Flamengo. Ou com a ajuda dele: Bruno não passaria de um criminoso nesse caso. Os dados que vão sendo conhecidos aos poucos deixam isso muito claro. E claro também fica que em todas as profissões humanas pode haver criminosos ou crimes. Não apenas no futebol, claro, atividade como qualquer outra.
Tenho pena de "Marias Chuteiras". E de jogador que vive de orgia em orgia, até mesmo porque essa não é a vida de desportistas ou que desportistas devam levar. O episódio de Eliza Samudio deveria nos fazer pensar. E rever valores. Definitivamente, clubes de futebol são entidades que formam ídolos, atletas em cujas biografias crianças se espelham, e é lamentável, é inconcebível que alguns deles abriguem sob contrato indivíduos capazes de cometer crimes covardes ou que se deixam fotografar, armados, ao lado de bandidos perigosos. Isso precisa ser revisto.
Meu texto não é uma crítica ao Flamengo. É um pedido geral de revisão de valores.

Apoio é imprescindível

Em grande parte dos casos, jogadores de futebol são oriundos da base da pirâmide social. Eles começam suas vidas em favelas ou periferias. Quando têm talento, é comum darem um salto social imenso em muito pouco tempo. É é terrível, pois poucos têm conhecimentos ou estrutura emocional para assimilar coisa do gênero. E os clubes, sobretudo os grandes, que detêm os contratos desses jogadores, não possuem departamentos para dar-lhes acompanhamento social, psicológico, econômico. Nada. Basta que joguem e pronto.
Mas essa realidade precisaria mudar. Ao longo dos tempos, muitos craques promissores jogaram as carreiras fora por falta de orientação, pela ausência de mão amiga. Porque não tiveram aconselhamento. Eles nasceram nas favelas, cresceram nas favelas, ficaram ricos, famosos, mas o futebol acabou e alguns voltaram aos locais de origem.
Vamos mudar a realidade atual. Deveria haver, e também por parte de ex-jogadores que ficaram famosos e hoje têm vidas estáveis, continuando vinculados ao futebol, um cuidado maior para com jovens como Neimar do Santos, por exemplo - o moço dessa foto -, que não parece ir pelo melhor caminho. Isso seria uma forma de eles serem protegidos e de também serem protegidas as instituições, que se ferem com episódios graves. O caso Bruno poderia jamais ter acontecido.
Sabemos que esse acontecimento, sobretudo pela violência, talvez seja único. Mas o consumo de drogas e o uso de doping infelizmente não são raros no futebol. E, nesse caso, atingem também e em larga escala os jogadores que não obtiveram sucesso ou estão no final da carreira, sem mais perspectivas para o futuro. Aqueles que não sentem mais os tradicionais tapinhas nas costas, tão comuns enquanto jogavam e eram paparicados.
Vamos pensar bem nisso?
Que pensem sobre isso Júnior, hoje comentarista de TV; Zico, agora dirigente, e muitos outros como Casagrande, Falcão e outros. Eles têm potencial para ajudar. Amar o futebol é proteger seus ídolos. Eles são de vidro. Quando quebram, seus cacos atingem a juventude e as crianças que têm neles um espelho para a vida futura.

2 de julho de 2010

Chega de "Era Dunga"


Em nome de tudo, rigorosamente tudo o que existe de mais sagrado no mundo, a "Era Dunga" tem que acabar. Nosso futebol não merece isso.
Durante três anos e meio esse cidadão treinou a Seleção Brasileira. E Seleção não é lugar para ninguém iniciar carreira de treinador. Fez um time à sua imagem e convicções. Uma equipe apenas forte, mas defensiva. Que jogava no erro do adversário e na possibilidade de não errar, como se isso fosse possível. Vencemos a Copa das Confederações porque as principais seleções investiram pouco nela. Vencemos a Copa América porque a Argentina vinha muito mal. E as Eliminatórias pelo mesmo motivo. Poucas pessoas se atreviam a ver que o time do treinador era dirigido despótica e incompetentemente por um grosseirão ignorante. E ainda obrigado a atuar como não gostava e não acreditava. À força, sob pressão, à custa do medo.
Ninguém vence dessa forma. Não eternamente. Um dia perde e às vezes o destino faz com que a derrota surja justamente no momento em que não deve surgir. E isso machuca a todos nós. Agora que o Brasil está fora da Copa do Mundo, tudo o que aconteceu ao longo desses três anos e meio vai surgir. E vai nos colocar diante de um quadro que se assemelha à época da ditadura militar no Brasil, que vivi e considerava sepultada.
Também é preciso acabar com a era Ricardo Teixeira. Precisamos substituir os viciados - para dizer o mínimo - dirigentes do futebol brasileiro por outros, por gente nova, comprometida com o futuro e distante da falta de seriedade que marca boa parte do futebol mundial.
Chega: vamos, definitivamente, dar adeus à Era Dunga. À época em que esse moço da foto foi uma espécie de rei sem trono, de gênio sem talento, líder sem liderança, entendido que não entende, no futebol do Brasil.
Uma fraude, enfim!