27 de agosto de 2010

O gato e quem comeu o rato


Sigilos bancários, sobretudo de pessoas ligadas ao PSDB, adversário histórico do governo Lula, foram violados com o uso da senha de uma servidora da Receita Federal. E o governo tomou uma providência "enérgica": mandou essa mesma Receita Federal investigar o fato.
Mandaram o gato descobrir quem comeu o rato!
Ou nós somos uma democracia no pleno uso desse conceito, ou teremos de admitir que corremos o risco de nos tornarmos uma república sindicalista onde as leis, ou seja, o Estado de Direito, é um mero assessório para ser usado nos momentos em que interessar aos donos do poder. Nos demais, que seja colocado de lado em favor de interesse corporativos.
Todos sabemos que o governo Lula jamais teve um projeto de governo. Teve, tem e terá um projeto de poder. Assim se explica a candidatura Dilma Roussef. Mas o grosso da população não sabe disso. Não tem conhecimento desse fato. E isso sobretudo e principalmente porque milhões temem o prestígio pessoal de Lula. E aí se incluem os meios de Comunicação. Eles têm conhecimento de todos os desmandos, de todos os movimentos de bastidores, da maioria das ilegalidades cometidas nos últimos anos no âmbito do Governo Federal e isso poderia ser explicado didaticamente a todos. Mas eles preferem o silêncio ou a denúncia tênue, esporádica e medrosa do que se passa no Brasil de hoje. Todos os dias a todas as horas.
Dessa forma, uma imensa parcela da população, ignorante e desinformada, continuará sem saber o que se passa em seu país. Nesse Brasil de cerca de 20 milhões de analfabetos e mais cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. Estou falando de qualquer coisa em torno dos 50 milhões de pessoas às quais interessa ao Estado brasileiro que continuem assim. Bem como aos que vivem do Bolsa Família e de benesses diretas e indiretas do poder. Pelo menos até depois das eleições, sejam elas de primeiro, segundo turno ou prorrogação, se for criada.
E até lá o gato vai continuar investigando quem comeu o rato.

25 de agosto de 2010

A comida farta e o "santo sovaco"


Falta pouco - ainda bem - para as eleições. E falta pouco para que os brasileiros escolham quem vai passar os próximos quatro anos como hóspede do Palácio do Planalto. Isso num país onde o povo vota de acordo com o estômago e seguindo imagens de TV que mostram falsos messias induzindo a população a colocar seus representantes no Congresso Nacional.
Às vezes fico pasmo: todo dia na TV um cidadão aparece para dizer a milhões de pessoas que seu suor é milagroso. E milhões de pessoas acreditam nos poderes celestiais daquele "santo sovaco". Pior do que isso: milhares sobem ao palco para prestar depoimentos. Dizer que CC cura até câncer.
E não é tudo. O presidente da República está promulgando um Decreto Lei que, segundo ele, vai permitir a todos os brasileiros comerem com dignidade. Aqui neste país onde vivem 37 milhões de pessoas que vez ou outra dormem na rua, 5,8 milhões de famílias que não possuem lares, 13 milhões de brasileiros que não conhecem banheiros, 30 por cento da população constituída por analfabetos funcionais e a maioria dos jovens com formação média que não encontra trabalho.
Quem é o maior artista de todos: o cidadão do "sovaco mágico" ou o presidente da República?
Um Decreto Lei não vai fazer com que todos tenham alimentação digna. Mas retirar todos os impostos de sobre os itens da cesta básica ajudaria, e muito. Agora, convenhamos, isso é difícil de fazer porque o custo Brasil sobe todos os dias, todas as horas, e sabemos os motivos. A figura que ilustra esse texto, mais acima, mostra bem o tamanho da goela que ele tem.
Que pena, meus amigos. Quem define eleição no nosso Brasil ainda é aquele cidadão que entra na fila do Bolsa Família imaginando-o dádiva divina em vez de demagogia barata. Sem saber que se esse tal "programa de transfertência de renda" tivesse mesmo o intuito de (tentar) acabar com a miséria, seria uma ponte entre o desemprego e a falta de um ofício e o aprendizado desse ofício para o encontro do trabalho desejado. E não um meio de vida por esmola.

13 de agosto de 2010

O fundo do poço e a promiscuidade política


Tramita no Congresso Nacional, na Ilha da Fantasia de Brasília, um projeto de lei que pretende eximir de desconto tudo o que ultrapassar o teto da Previdência Privada para os aposentados do serviço público federal. Ou seja; se essa irresponsabilidade passar, até mesmo aposentados que ganham acima de R$ 25 mil reais mensais, o que excede o teto do serviço público, pagarão a Previdência em apenas R$ 3.418,15, o teto da Previdência Privada.
Chamar tal fato de irresponsabilidade é simples: hoje, da forma como estão, as aposentadorias do serviço público federal custam aos cofres do Governo um deficit anual de cerca de R$ 50 bilhões. Um rombo muito superior ao da Previdência Privada e que crescerá terrivelmente se o tal projeto de lei for aprovado, como vários meios de Comunicação estão denunciando (ilustração abaixo, à direita). E o pior é que isso pode acontecer, numa Belíndia onde os poucos milhares residentes da Bélgica são sustentados pelos muitos milhões sobreviventes da Índia.
Não vou perder aqui meu tempo para explicar como decisões destas já comprometem e vão comprometer ainda mais a capacidade de investimentos do Estado, além de aumentar a injustiça social brasileira. Basta dizer que, paralelamente a isso, também foi para o Congresso um, digamos, "pleito" do Supremo Tribunal Federal, que pretende passar de pouco mais de R$ 24 mil para mais de R$ 30 mil os vencimentos dos ministros daquela corte. O que gerará um aumento em cascata para todo o Judiciário, em todo o Brasil. E criar novo teto do serviço público. Depois a ser pleiteado também por membros do Executivo e do Legislativo. Não obrigatoriamente nessa mesma ordem.
Por que essas coisas acontecem?
Porque no Brasil há dois poderes efetivos: o Executivo e o Judiciário. Gravitando em torno deles vem o Legislativo, que vive de favores, de favorecimentos às vezes ilícitos e que se reúne para defender alguns privilégios, criar outros e explicar todos.
Em Brasília, uma grande parcela dos parlamentares responde a processos. Há casos de quem responda por pedofilia, embora isso seja incrível. Numa situação assim, qual vai ser o deputado federal ou o senador capaz de negar um "pedido" do Judiciário? Todos eles são aprovados sem serem ao menos discutidos. E danem-se as contas públicas!
O "trabalho" do legislativo municipal, em milhares de municípios, é marcado por troca de favores entre os vereadores e as prefeituras. Para obter a aprovação de projetos, prefeitos empregam apaniguados dos parlamentares. Em Vitória, capital capixaba, é chamada de "parceria" a promiscuidade existente entre Legislativo e Executivo. Cada vereador tem direito a "X" cargos comissionados municipais e, em troca disso, o prefeito aprova o que quiser. O que bem entender. Nem sequer custos são discutidos.
No plano estadual, o apoio dos deputados aos governos envolve também e principalmente a obtenção de favores. No Espírito Santo chegou-se a mais do que isso: os deputados decidiram entre eles nomear para cargos comissionados todos aqueles que trabalharem diretamente nas campanhas políticas vitoriosas. Ou seja: cabo eleitoral de deputado capixaba é pago com dinheiro público. Isso aconteceu nas últimas eleições e vai acontecer nessas próximas. Basta esperar e conferir o que estou dizendo.
Finalmente, em Brasília disputa-se ministérios e cargos de segundo e terceiro escalão todos os dias, a todas as horas. O Presidente da República é hoje amigo fiel e fidalgal de pessoas que chamou em desonestas no passado. De ladras. Tenta justificar isso como sendo um dever de Estado em nome da governabilidade (sic!). E nem é preciso tentar esconder a promiscuidade: as negociações (negociatas?) são feitas às claras e as concessões de cargos saem no Diário Oficial da União quase todo santo dia.
Até onde vai isso, não se sabe. Mas um dia o fundo do poço será alcançado. Desse poço por onde escorre diariamente a dignidade nacional. E floresce todo tipo de promiscuidade!

5 de agosto de 2010

"Onde a coruja dorme"


Ver o sol nascer? Muita gente não gosta. Não quer. Não sabem o que estão perdendo, estes. Muita gente não consegue levantar da cama. Ora, basta um empurrãozinho. Bem de leve. Faço isso - pular cedo da cama - pelo menos quatro vezes por semana, sem levar empurrão algum. Um amigo um dia me chamou de "pássaro madrugador". Aceito o apelido. De bom grado.
E, caminhando na praia, encontrei um igual. Em Vitória, capital do Espírito Santo, a melhor praia é a de Camburi. Corta a zona norte da cidade, mostra parte de Vila Velha e o complexo siderúrgico de Tubarão (na foto, é ele que está ao fundo). É bonito andar ao longo do calçadão curtindo a paisagem e vendo o sol ir brotando sonolento pelos lados de Leste, aos poucos ganhando força, jogando luz sobre a noite, tornando-a lusco-fusco e virando dia. Nenhuma guerra impede isso. Cura qualquer mal humor!
Nesse final de madrugada de 05 de agosto de 2010, sai "armado". Nos ombros a máquina fotográfica. Amadora, é claro. E num trecho da praia, onde praticamente ela não falta, estava lá a coruja buraqueira, minha companheira madrugadora, em pé exatamente na junção entre uma das traves verticais e a trave horizontal de um dos gols de um dos campinhos de futebol de areia.
Na gíria, no linguajar da crônica esportiva futebolística, costuma-se dizer que quando uma bola entra justamente num ângulo desses, ela entra "onde a coruja dorme".
Fui conferir. Sem flash para não assustar o bicho, sem recurso algum que não fosse a lente, cheguei bem próximo da trave e, na hora em que ia apertar o obturador da máquina, dois olhos imensos me focaram. Mas ela não ligou. Posou para a foto candidamente, deu-me as costas e ficou olhando a paisagem, curtindo o nascer do sol lindo de fim de inverno. Pelo menos essa coruja não dorme onde a bola entra no gol nos lances mais bonitos.
Quem disse que o nascer do sol é só dos humanos? Nem só estes acordam cedo!
Em tempo: basta dar um clique de mouse para ver a foto grande. Com um segundo clique ela fica imensa. Acho que vale a pena ver.

3 de agosto de 2010

Os ladrões de águas


Não se assuste, caro leitor, com a foto ao lado: veja televisão, ouça rádio e leia jornais brasileiros e você concluirá o mesmo que eu: trata-se de um perigoso terrorista palestino de cinco anos de idade morto - e poderia ser de outro modo? - pelo zelo e justiça das forças armadas de Israel.
É isso mesmo: nos meios de Comunicação ocidentais, um palestino lançando paus, pedras ou foguetes de fundo de quintal contra tropas ou civis de Israel é um terrorista. Já uma das maiores forças armadas do mundo, quando ataca civis e mata crianças, está se defendendo. É o "direito de defesa". O do estilingue contra o tanque. O do míssil balístico contra a catapulta.
Se você viu televisão por esses dias e acompanhou as imagens do menino palestino que lutava contra soldados de Israel para impedir que seu pai, um pobre que tentava regar algumas plantas nas áridas terras onde vive, fosse preso por tropas israelenses e levado a uma prisão. Bondosas tropas, pois não jogaram uma bomba sobre aquele terrorista júnior.
O homem foi preso porque "roubava água" de um assentamento israelense. Ou seja, para que os cidadãos de Israel bebam, é preciso que as plantas morram. E morram também os palestino. Assim, os terroristas juniores não viverão para se tornar terroristas adultos. Ficarão pelo meio do caminho como o outro garoto, na foto do outro lado, logo abaixo, morto e carregado pelo pai palestino.
Quem é dono da água? De um bem que jorra do chão para todos aqueles que dele precisam e podem fazer uso? Em um país como o Brasil, tão desigual, a água que nasce no campo atravessa as fazendas e é igualmente usada - na maioria dos lugares - por todos aqueles que vivem ao longo de seu caminho. Não há dono da água. Ela é de todos.
Um dia desses, um velho caçador de nazistas dava entrevista à GloboNews e dizia que Israel é criticado por aqueles que não respeitam os direitos humanos. E porque ele é, no Oriente Média, o país que mais faz isso. Pior do que ouvir, foi notar que, aparentemente, o homem não estava alcoolizado. Falava lúcido. Horrorosamente são.
Ele, provavelmente, havia se esquecido de 1982. Na ocasião, os israelenses invadiram o Líbano. Tomaram militarmente o país para "manter a paz". Um belo dia, vendo que cristãos libaneses iriam atacar dois acampamentos de refugiados palestinos, retiraram-se. Durante algum tempo, uma caçada a civis desarmados acabou com mais de mil homens, mulheres, muitos deles mulheres e crianças, mortos em Sabra e Chatilla. Foi o "holocausto" palestino patrocinado por Israel. Uma lição aprendida entre 1939 e 1945 e que a extrema direita israelense, sempre no poder, usa sempre que pode, sionista que é, para reprimir e massacrar os "inferiores". Esse grupo de fanáticos, sempre ávido para acusar alguém ou milhões de pessoas de anti-semitas, distila o ódio e distribui a violência por onde passa!
Mahamoud Ahmadinejad, líder do teocrático Irã, amigo do presidente Lula, tem um pouco do louco e do lúcido que habita aquelas terras onde nasceu a humanidade. Tanto do louco que nega o óbvio, os massacres nazistas da II Guerra Mundial, quanto do lúcido que á saciado todos os dias de sua fome e, principalmente, sede. Porque todas as vezes que Israel, dono de cerca de 300 bombas atômicas, prende um homem que "roubava água", Admadinejad toma da fonte da intolerância, do racismo, o líquido que usa para convencer aqueles que o acham no direito de ter ao menos uma bomba.
Por mais perigoso que isso seja!