23 de setembro de 2013

De onde viria o dinheiro?

De onde viria esse dinheiro? Ou, melhor dizendo, de onde virá caso um processo judicial dê ganho de causa a quem o move? De um  passe de mágica, claro, não virá.
A revista Época dessa semana, edição especial número 800, publica na coluna do jornalista Felipe Patury uma nota na qual é dito que a marqueteira Bete Rodrigues, responsável pela campanha de Iriny Lopes à Prefeitura de Vitória, cobra na Justiça à candidata uma quantia de R$ 3,8 milhões. Em entrevista, a marqueteira diz que o valor real é de qualquer coisa em torno de R$ 6,4 milhões.Teria sido contratada e não paga depois da eleição e da derrota da candidata.
R$ 6,4 milhões é muito dinheiro para uma campanha de prefeita de Vitória. Sim, a campanha envolve aluguel de imóveis, equipamentos os mais variados, estúdios, gravações de rádio e TV, uma grande gama de pessoas para todos os serviços, gráficas, veículos para deslocamentos e muito mais. Nos dias de hoje, o arsenal de meios para se tentar eleger um candidato é vasto. E caro.
Mas o que intriga é o seguinte: ou Iriny Lopes acredita em Papai Noel ou ela sabia, desde antes da eleição, que não tinha chance alguma de vencer. De início, o favorito era o candidato do PSDB, Luiz Paulo Velloso Lucas. De erro em erro ele foi cedendo espaço para o candidato do PPS, Luciano Rezende, até ser derrotado no segundo turno. Iriny jamais figurou como uma candidata capaz de ganhar. Nem ela nem todos os nanicos que concorriam, incluindo aí até mesmo um estelionatário. Além do mais, ela nunca foi a candidata consensual do PT, seu partido. Muito pelo contrário.
Então, desenhado esse quadro, como foi possível a ela contratar um serviço caro como esse? De onde imaginava que tiraria o dinheiro para pagar? Do nosso bolso? E como a empresa da marqueteira Bete teve coragem de fazer a campanha sabendo que a candidata não venceria, sem desconfiar de que também não receberia?
Um dia ouvi isso de uma pessoa próxima: "Promessa de palanque não se escreve". Prova inequívoca de que a política brasileira é feita no mínimo por mentirosos. Melhor acreditar, por corruptos. E em promessas de pagamento de dívidas de campanha de candidatos que não vão ganhar, nessas a gente deve acreditar? Nessas os marqueteiros devem se fiar ao assinar contratos? Ou são informados eles, no curso das negociações, por que ralos ou esgotos o dinheiro chegará?
A política brasileira precisa ser saneada. Para ingressar na Justiça cobrando R$ 3,8 milhões a marqueteira da campanha do PT em Vitória acredita ter sido lesada. Para não pagar, a candidata derrotada acredita que já pagou. Ou então, o mais provável, acabou não tendo acesso ao dinheiro prometido depois do seu resultado desastroso nas urnas.
Nada disso importa. Os pés de barro ou de lama de nossa política sempre aparecem por baixo dos lençóis depois de episódios como esse. Por isso é preciso sanear as campanhas brasileiras, quer sejam elas de nível municipal, estadual ou federal. Passa um rio de lama por baixo delas. E todas, claro, estão ligadas ao Poder Legislativo. O mais vilipendiado de todos.

 

18 de setembro de 2013

Não temos ídolos!

Ao dar seu voto com o qual aceitou os tais "embargos infringentes" e com isso proporcionou sobrevida aos condenados no processo do mensalão o ministro Celso de Mello (foto) disse, dentre outras coisas, que a aceitação desse instrumento jurídico não defende o cidadão tomado isoladamente, mas a todos os cidadãos. Um dia antes, outro ministro, Gilmar Mendes, havia dito que caso os recursos fossem aceitos deveria o Supremo Tribunal Federal agir com extrema presteza no novo julgamento porque esse Tribunal não é um colegiado de pizzas nem uma instância jurídica "bolivariana".
Estaríamos todos apenas diante de filigranas jurídicas caso esse processo, que leva o número 470, não fosse tão emblemático. Ele vai nos dizer se os poderosos são mesmo intocáveis no Brasil e se Zé Ninguém tem mesmo os direitos iguais aos de Zé Dirceu, ainda que não possa gastar rios de dinheiro - as vezes nem filetes - para contratar as maiores e mais caras bancas advocatícias brasileiras.
De nada adianta discutir aqui os méritos contidos em cada um dos votos. O Supremo de hoje, com os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Teori Zavascki e Roberto Barroso não é o mesmo de antes deles chegarem. Apesar de serem intocáveis as posições dos demais ministros que votaram a favor dos recursos, o mesmo não se pode dizer dos citados. Eles foram feitos ministros sem méritos efetivos para tal, talvez com a exceção de Zavascki. E isso é dizer o mínimo. O escritório do ministro Barroso ganhou, sem licitação, um contrato de R$ 2 milhões com a União. Após ele ser nomeado ministro.
A Justiça não deve ouvir o clamor das ruas? Quase todo mundo assegura que deve sim. A Justiça deve se curvar ao clamor das ruas? Dizem os magistrados que nem sempre pode ou deve fazer isso. Mas o processo do mensalão, em suas milhares de páginas e centenas de tomos, contém mais provas de corrupção e desvio de dinheiro público do que tinha o Tribunal de Nuremberg em termos de provas de crimes de guerra para condenar os líderes nazistas ao final da II Guerra Mundial.
É interessante notar que antes desse voto final - até o momento - do STF na apreciação dessa matéria, os brasileiros haviam eleito o STF como seu colegiado de ídolos. A reserva moral que a nação necessitava em meio ao cipoal de sujeira que emana dos poderes Executivo e Legislativo.
Não, não temos ídolos!exigir um novo Brasil. Precisamos fazer com que os brasileiros comuns, aqueles de junho, voltem às ruas para pedir um novo Brasil. Atropelando os que querem acompanhar os protestos apenas para cometer violências, mas mostrando aos donos do poder que esse País está cansado. Quer novas leis, novo pacto social, novos líderes. Nova divisão de poder e riqueza.
Um país que não crê nos que o governam pode se tornar um país ingovernável.           

6 de setembro de 2013

O dia de amanhã

Conta uma velha anedota que um ditador de uma republiqueta qualquer chamou sua assessoria ministerial para decidir como seria distribuído o dinheiro do país no ano vindouro. Mandou que fossem feitas estradas de péssima qualidade, hospitais piores ainda, escolas de desabar um ano depois, demais bens públicos sem qualidade alguma, tudo para economizar dinheiro porque as contas dele nos paraísos fiscais andavam abaixo de um bilhão de dólares, o que era inconcebível. Mas, antes de terminar, determinou: quero penitenciárias de alto luxo, com todo o conforto do mundo moderno, como se fossem suítes de hotéis cinco estrelas. Quem sabe tipo essa aí da foto.
Os assessores não entenderam nada e perguntaram: "Mas qual a razão disso, excelência?". "É que ninguém sabe do dia de amanhã", respondeu o ditador.
Em Brasília, celas de presídios estão em reforma. Vão ter banheiros privativos e outras comodidades mais. Diz-se que é para receber presos deficientes físicos, tadinhos. Mas a gente pode acreditar nisso da mesma forma como acreditamos que não viriam médico cubanos para o Brasil.
O processo do Mensalão está na reta final (?) e, ao que parece, vai haver gente graúda tendo que cumprir pena em penitenciária caso alguns dos ministros não voltem atrás em votos já proferidos, sabe-se lá por conta de que tipos de "reflexões". Essas pessoas não podem correr o risco de ir para celas iguais à de Natan Donadon, aquele deputado federal condenado por roubo de dinheiro público e que reclama da péssima qualidade da "xepa" servida no presídio da Papuda, em Brasília. Deve ser ruim mesmo, principalmente para quem comia tão bem com o dinheiro dos outros.
É o tal negócio: ninguém sabe do dia de amanhã!