9 de maio de 2015

Mujica e a miséria moral do Brasil

"Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens [...] Essa era a única forma de governar o Brasil" - segundo O Globo, esse trecho consta do livro lançado recentemente por José Mujica, ex-presidente do Uruguai e que muitos contatos teve ao longo dos tempos com o também ex-presidente Lula, autor das declarações. Mujica é reconhecido como uma figura digna.
Poucas pessoas não sabem que o Poder Legislativo do Brasil é uma instituição à venda. Conseguir apoio para aprovação de projetos, para governar, é fácil: basta o Poder Executivo distribuir cargos à vontade entre os parlamentares municipais, estaduais e federais. Em troca disso tudo passa. Sem isso, nada. E os cargos geralmente são dados com "porteira fechada", ou seja, o nomeado tem o direito de, a seu único critério, nomear subordinados. A corrupção no Brasil, o grosso dela, vive aí.
Já disse uma vez e repito; ninguém pode ser obrigado a ceder a chantagens ou imoralidades. Ninguém de caráter. Um presidente da República tem à sua disposição cadeias nacionais de rádios e televisão para uso seu, de livre convocação. Pode convocar também entrevistas coletivas sempre que quiser. E denunciar, denunciar, denunciar, apresentar provas, mais provas, mais provas, até o País se levantar contra os imorais os chantageadores. Ir às ruas, avançar contra eles.
Tenho uma convicção íntima: essa prática nefasta, mãe de todas as aberrações políticas de nossa Pátria, só vai desaparecer no dia em que um Chefe de Estado tiver a coragem cívica de enfrentar a situação. Ainda que sofra ameaças, inclusive de impeachment. Sem comprovação de crime de responsabilidade, nenhuma votação de impedimento passa. A Justiça, acionada pela Advocacia Geral da União barraria tudo. Você pode dizer: mas o Brasil pararia com o enfrentamento Executivo X Legislativo. Sim, pararia. Mas por algum tempo, talvez pouco. E depois disso nasceria dessas cinzas infectas uma Pátria Amada, idolatrada, onde valeria a pena vivermos todos nós.
Alguém em sã consciência acha que o ex-presidente Lula lutaria contra as pressões do Legislativo? Claro que não. Ele cederia, como cedeu, dando dinheiro a todos os corruptos. Diz que é honesto, que jornalistas de Época e Veja, enfiados um dentro do outro não chegam a 10 por cento da honestidade dele, mas sabe que está sofismando. E esse hábito, nele, é patológico.
O escândalo da Petrobras é só um exemplo da miséria moral do Brasil. Seus efeitos são hoje de conhecimento mundial e contribuem para que nosso prestígio internacional tenha a estatura de um rodapé. Estamos no fim do poço, ou perto dele. E não há luz no fim do túnel.
Acredito que esse trecho do livro de Mujica reflita a verdade. O que o autor ouviu efetivamente em algum encontro de Estado. E creio que ele nos retrata em toda a nossa vergonha.     

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