25 de novembro de 2015

Os dois oceanos de lama

Vi o senador Delcídio do Amaral há menos de um ano aguardando embarque no Aeroporto de Brasília. Sentado a uma poltrona ao lado da ponte de embarque que usaria, estava sorridente. Parava de ler o jornal que tinha em mãos para sorrir, sempre que alguém passava por ele. Quando uma senhora o cumprimentou, levantou-se e, cerimoniosamente, beijou-a nas mãos. Um gentleman! Mas, da mesma forma que grande parte de seus iguais, tem pés de barro. Ou lama, se preferirem.
Não sei hoje qual mar de lama faz mais mal ao Brasil. Se o que nasce em Mariana e corre até o mar de Regência, destruindo tudo o que lhe passa pela frente, ou se o de Brasília, formado por pessoas que se tratam por "excelência", inclusive quando um vai xingar a mãe do outro, e roubam dinheiro público com uma desfaçatez que torna difícil à gente acreditar. Sabemos hoje que esses dois mares formam um oceano de sujeira em nosso País. E somos vítimas de ambos. Quase todos nós.
Dos três poderes da República, o que desempenha melhor seu papel nos dias atuais é o Judiciário. Não estou dizendo que seja perfeito, que não tenha em seu meio pessoas capazes de nos envergonhar. Longe disso. Mas tem se portado com dignidade cívica em muitas de suas ações que têm por objetivo livrar o Brasil desse cancro mole chamado corrupção. Ela é endêmica entre nós.
O Executivo e o Legislativo são cúmplices na criação e na formatação do oceano de lama que nos cerca. Um depende do outro, não para construir um Brasil digno de nosso orgulho, mas para esconder sujeira e se proteger mutuamente de cassações de mandatos, impeachments e outras coisas mais. Fazem isso abertamente. Descaradamente. Canalhamente. O PT sabe que não deve tentar cassar Eduardo Cunha, que é corrupto. Senão ele coloca em votação o impeachment de Dilma Rousseff, que cometeu crimes pelo menos de "pedaladas" fiscais - e isso é o mínimo -. Se ela cair, cai juntamente com ela todo o restante do esquema que nos assalta desde 2003.
Que triste é o Brasil de hoje!
Vemos lama avançando sobre o mar a partir de Regência, paraíso morto de surf no litoral do Espírito Santo, por irresponsabilidade empresarial e omissão governamental, ao mesmo tempo em que a cada dia e episódios lamentáveis, mais casos de corrupção são expostos em Brasília. Nunca antes na história desse País tivemos tantos motivos para sentir vergonha de ser brasileiros!
Foi o Ministro Gilmar Mendes que, repito, melhor exemplificou o Brasil de hoje: "Ele foi tomado por ladrões de sindicato que o transformaram em um sindicato de ladrões".
Mas nem tudo está perdido. Temos que acreditar que vai ser possível salvar grande parte dos danos causados pela Samarco/Vale. E, principalmente, que teremos forças para varrer de Brasília a lama que a torna espúria aos olhos - e bolsos - de todos nós.
E a hora é essa!

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