12 de novembro de 2015

Somos o cocô do cavalo do bandido!

Bombeiro acaricia o cavalo na tentativa de que ele não morra no mar de lama
Nós não somos nada no universo das preocupações de empresas de grande porte como a Samarco. Seríamos, em última análise, o cocô do cavalo do bandido, como se dizia antigamente. E não o esterco desse pobre cavalo de tração da foto e que o bombeiro tenta salvar acariciando-o em meio à lama que a empresa provocou, enquanto não surge um meio de tirá-lo de onde está.
A Samarco pertence à Vale e a outra empresa multinacional. E a Vale nos inunda a todos diariamente com um pó preto insuportável. Ele suja nossas casas, nossas roupas de cama, nossas plantas, utensílios. Pior do que isso, a gente respira esse "rejeito", nome que eles usam. O que a longo prazo isso nos vai trazer de prejuízos para o organismo? O que vai fazer a nossos pulmões?
Quando um fato dessa natureza ocorre - o caso da lama da Samarco - as autoridades correm a fazer discursos elétricos exigindo isso, ameaçando aquilo. Mas depois a poeira baixa. Ou então a lama seca e vira uma espécie de concreto imundo. E, como se sabe, que no Brasil sobram recursos jurídicos a serem usados. Samarco, Vale e todas as demais empresas de grande porte contratam ótimos advogados para poder continuar a fazer o que bem entendem. Sem medo de nada ou quase nada.
Um amigo tem uma fazenda perto de Linhares. No caminho para lá passamos por uma grande extensão de área pertencente à Fímbria. São quilômetros e mais quilômetros de eucaliptos. Eles destroem o lençol freático, mas isso não tem a menor importância para a empresa. Além do mais, para obter essa grande extensão de terra, os empresários foram adquirindo sítios de pequenos proprietários. Gente de cultura de subsistência. Acenavam com dinheiro à vista e as pessoas vendiam. Ao final, as restantes negociavam só para não ficarem sozinhas no mundão de eucaliptos. Notei que não havia uma única casa mais por lá. A explicação foi curta, lógica e cruel: "Compravam a terra e botavam logo casas, cochos e tudo o mais abaixo. Assim o MST não invade".
Esse é o Brasil. Ninguém lá em Brasília está preocupado conosco. Com o drama das famílias que tiveram os bens destruídos pelo mar de lama da Samarco. E por que estariam se vivem também eles em outro mar de lama, só que esse não é pegajoso e ainda dá muito dinheiro vivo? Vão fazer discursos, "protestar" e depois aceitar, como sempre fizeram, convites das grandes empresas. Elas têm dinheiro e é o dinheiro que move os interesses do mundo. Do Brasil, então, nem se diga.
A Vale, por sinal, deve estar comemorando: o pó preto não dá essa mídia toda. Não faz reboliço. Então que ele continue sendo lançado ao ar, nas nossas casas, móveis, utensílios e pulmões. E daí? Somos apenas, como já disse, o cocô do cavalo do bandido. Mas não o deste pobre coitado da foto.          

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