10 de novembro de 2020

Aqui vai acontecer a mesma coisa


Em tom professoral, um homem explicava a dois outros hoje pela manhã em frente a uma banca de jornais e revistas do bairro de Jardim da Penha: "Bolsonaro quer a coisa certa!" E com esse argumento buscava trazer para sua crença política pessoal e irrefutável as duas ovelhas desgarradas, pois elas teimavam em acreditar em "rachadinhas" e outras coisas mais.

O episódio de me fez lembrar conversa mais ou menos recente com uma dileta amiga jornalista, Helena de Almeida, que faz anos é ativa em marketing político por aqui: "Continuem demonizando a política e vocês vão ver o governo conservador e reacionário crescer no Brasil de maneira desenfreada".

O assunto que não sai das manchetes dos jornais nos remete ao fato de que Joe Biden venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas Donald Trump, com acusações toscas de fraude, recusa-se a aceitar a derrota. O caso fatalmente parará na Suprema Corte e só ela dará a palavra final. Alguém por aqui tem a menor dúvida de que Jair Bolsonaro fará a mesma coisa no Brasil caso perca em 2022? Eu não tenho. É da essência da democracia comemorar as vitórias e reconhecer as derrotas, mas só os democratas verdadeiros fazem isso. Trump e Bolsonaro são negacionistas e sua "ideologia" nasce a partir da negação dos valores democráticos. E da destruição de suas mais caras instituições como, por exemplo, o sistema político eleitoral.

O fenômeno norte-americano é igual ao do Brasil. Aqui a realidade do bolsonarismo, como é chamado, começou na cauda de cometa da descrença no plano político. O brasileiro comum, da mesma forma que o norte-americano, não se sente representado ou protegido pelos políticos tradicionais. Vai daí, acreditam nas mentiras que surgem, tornam-nas verdades e arremetem contra os adversários criando universos próprios, distantes do real. Na maioria das vezes têm reações violentas contra seus "inimigos".

Hoje nós pudemos ver aqui mesmo o presidente lutar junto à ANVISA contra a vacina que o Instituto Butantan produz junto a uma empresa chinesa porque, para ele, essa droga é patrocinada por um adversário político, é comunista e dane-se o interesse público: ela não pode "ganhar". Quem ganha é ele embora perca sempre e todas. Mas isso é ruim porque prejudica os brasileiros, inclusive aqueles seus apoiadores e intitulados um belo dia por seu filho Eduardo como "gado".

Onde vamos parar? Se tudo der certo, em 2022. Se tudo der ainda mais certo, numa eleição presidencial que pode tirar o negacionismo do poder, devolvendo-o a verdadeiros democratas, sejam eles de que matiz política forem. Mas não devemos esperar por comportamentos sãos nas próximas eleições. Como exercício, acompanhemos com atenção os acontecimentos dos Estados Unidos porque eles tendem a se replicar aqui. Tomara que não, mas tendem sim.

Nós demonizamos a política todos os dias, em parte por causa do comportamento errático da maioria de nossos representantes legislativos. Eis aí o resultado!         

Um comentário:

Helena disse...

Como dizem os antigamente conhecidos como crentes e crentes sem outros penduricalhos, tá amarrado!!!!