16 de novembro de 2020

Os recados das urnas

 As eleições realizadas ontem e com vários desdobramentos para dentro de 13 dias deixaram recados das urnas aos brasileiros. O melhor de todos é que o presidente Bolsonaro não é cabo eleitoral de respeito em lugar nenhum. Afundou alguns correligionários e outros agora vão guardar distância de segurança dele no segundo turno. Interessante, não é? Pode ser um indicativo de que a onda de extrema direita está prestes a começar a mostrar esvaziamento maior. Tomara venha a ser assim.

Aqui em Vitória (ES) onde moro o delegado de Polícia bolsonarista Pazolini chegou ao segundo turno em primeiro lugar contra o candidato do PT, o ex-prefeito João Coser. Ele derrotou Gandini, do Cidadania, antes favorito. O que houve? Primeiro, para muita gente a candidata ideal era Lenise Loureiro, secretária de Estado do governador Renato Casagrande. Segundo, Gandini foi derrotado pelos erros de seu cabo eleitoral, o prefeito Luciano Rezende, político de talentos questionáveis, arrogante, distante e que passou os mandatos trancado em gabinetes, saindo para receber homenagens ou andar de bicicleta. Jamais debatia com os munícipes. Transferiu sua rejeição para o "pupilo" que ainda foi prejudicado por uma incursão da Polícia Federal em seu gabinete e na PMV, dias antes da eleição. Incursão suspeita porque o bolsonarista é delegado de Polícia e a investigação de uso de dinheiro publico na campanha o beneficiou diretamente.

As urnas mostraram que os partidos de direita, distantes do extremismo do presidente, têm força. Infelizmente parte deles, sobretudo nas alas ligadas ao MDB e siglas menos importantes, há um vínculo claro e forte com a corrente do Centrão, aquela ala fisiológica do Congresso que troca apoios por cargos em quaisquer circunstâncias. Não por coincidência é justamente dessa ala que provém o presidente da República, velho militante do "baixo clero" da política brasileira. Ele, claro, não representa a "nova política", seja isso o que for. É líder de si mesmo, de seus filhos e amigos mais diretos num projeto de governo extremista e que só tem "ala ideológica"  na defesa de interesses pessoais.

O mais importante dos resultados de ontem é o fato de estar provado que o apoio popular ao pensamento (sic!) político presidencial fica mesmo na casa dos 30 por cento, um pouco a mais, um pouco a menos. Pazolini, o seguidor de Bolsonaro que foi ao segundo turno em Vitória junto com o PT, teve exatos 30,95 por cento dos votos válidos. Isso indica que qualquer candidato ligado diretamente ao governo federal pode ser derrotado por uma coligação de centro esquerda. Ele vai enfrentar perto de 70 por certo dos demais, ao menos em teoria.

Mas terá a centro esquerda e a esquerda a capacidade de renúncia a projetos pessoais capaz de formar blocos coesos de enfrentamento a esse nazi-fascismo tupiniquim pobre do Brasil? É o que se pergunta. É o que perguntamos nós daqui de Vitória, onde um representante do extremismo, jovem, bem apessoado, falante, invasor de hospitais e suspeito de estar ligado direta ou indiretamente a setores podres do espectro político capixaba vai enfrentar um ex-prefeito de boa avaliação.

Vamos ver como esse teste será feito. Afinal, nosso voto tem poder! 
           

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