2 de dezembro de 2020

Mas então já era tarde...


 Fui amigo de Hélio Demoner (foto de arquivo pessoal) durante cerca de 47/48 anos. Primeiro, acompanhando o veterano jogador de basquete e depois dirigente no Saldanha da Gama. Depois, um jornalista e outro professor universitário, cobrindo as múltiplas atividades dele à frente dos esportes, sobretudo o "bola ao cesto", como às vezes falávamos acerca de seu esporte preferido. Até que em abril deste ano rompemos a amizade. Por isso a notícia de sua morte dói tanto e tão intensamente em mim.

E foi tudo por causa de política. No dia em que ele me chamou para entrar nos grupos de apoio ao tal Bolsonaro, primeiro aceitei para espionar, mas logo em seguida senti-me na obrigação de dizer a ele que estávamos em lados opostos. E o afastamento começou imediatamente.

Demoner, dentre inúmeras outras atividades, criou os Jogos Abertos Jerônimo Monteiro, os JAJEM. Por que o nome? "Para abrir as portas da Rede Gazeta", ele respondeu. Dirigiu os JAJEM por 23 anos, a maior parte do tempo contando com minha ajuda para divulgar ao máximo a iniciativa. Era tremendamente meritória, pois visava ao esporte da meninada, do início, da fase da paixão esportiva. E revelou muita gente boa. Poderia muito bem ter outro nome e teria o mesmo mérito. Mas acabou morrendo de inanição mais de duas décadas depois com o pauperismo dos esportes amadores capixabas contra o qual lutei tanto...e não adiantou nada ter aquele nome.

Hélio era um professor muito querido na UFES. E também um entusiasta pela história dos esportes. Guardava centenas de fotos, vídeos, depoimentos de muitas pessoas. Um arquivo valioso. Espero que esse acervo não seja jogado fora. Que seja preservado, principalmente pela Universidade.

Minha maior briga com ele aconteceu em abril último e por causa da pandemia da Covid-19. Eu postei que o presidente era um boçal por chamar a doença de "gripezinha" ou "resfriadinho" e ele disse que nós, os opositores, estávamos criando um meio de destruir a economia para atingir "meu capitão". Retruquei, nos bloqueamos mutuamente nas redes sociais e nunca mais nos falamos.

E foi por saber hoje cedo que ele havia morrido de Covid-19 que sofri mais. Não acredito em festa no céu, em campeonato celeste de basquete. Mas acho sinceramente que o doente terminal, antes de ficar inconsciente e mesmo depois disso consegue pensar, sente que vai morrer e, quem sabe, avalia que errou. Sou capaz de apostar, e por isso chorei, que no final meu amigo Hélio soube que estava no fim. Quem sabe, que havia errado. Talvez, que faria tudo diferente caso pudesse.

Mas então já era tarde...           

Um comentário:

SHEILINHA disse...

POIS É "AMIGO"! ESTE É O PREÇO DE DEIXAR UMA AMIZADE, POR PESSOAS WYE NEM SABEMOS DA NOSSA EXISTÊNCIA. POR ISTO, RESPEITO À OPINIÃO E IDEOLOGIA ALHEIA. SEU SOFRIMENTO VAI SERVIR DE EXEMPLO. NADA PAGA UMA AMIZADE! FIQUE EM PAZ. VIVA A SUA IDEOLOGIA. O PT NÃO VIRÁ AQUI, ACALMAR O SEU CORAÇÃO AGORA... MUITO TRISTE.... MAS VC VAI FICAR BEM! SINTO MUITO PELA SUA DOR, IRREPARÁVEL!