10 de janeiro de 2021

"Lá eu como!"

- Lá pelo menos eu como!

Foi essa a reação do morador de rua do bairro de Jardim da Penha, em Vitória, ao ser detido por um policial militar após ter sido surpreendido tentando roubar dinheiro de uma senhora que deixava um dos supermercados do lugar. Para ele a prisão era a garantia de ao menos duas refeições diárias sem ter que mendigar, roubar, invadir prédios à noite ou consumir drogas para fugir à realidade e enganar a fome.

Dia desses, ao entrar numa das agências bancárias do bairro, tive a reação de puxar rapidamente o braço para não ser tocado por um dos mendigos que me abordava junto à porta de entrada. Eles se colocam em bancos, estabelecimentos comerciais diversos, pontos de ônibus, praças. Quaisquer lugares onde seja possível mendigar ou dormir nas calçadas com trapos velhos e papelões de caixas.

- Caramba, senti nojo de um ser humano que passa fome! - pensei eu.

A miséria cresce no Brasil em uma velocidade cavalar de dois anos para cá. Pode parecer preconceito político, mas não é: eis o Brasil de Bolsonaro! Nu e cru!

Segundo dados do IBGE, hoje temos 14,5 milhões de miseráveis absolutos nesse País e a multidão aumenta sem parar. Pessoas que não têm onde dormir, se lavar, fazer necessidades fisiológicas com dignidade, se alimentar. Que não conseguem ver algo no horizonte. São, na maioria dos casos, drogados e que não mais se interessam em sair das ruas. E quando para eles a prisão é a liberdade ao menos para parar de sentir fome, então é preciso a gente pensar se essa sociedade na qual vivemos agora é mesmo de homens livres. Porque não é, ainda que se queira esconder a realidade com uma peneira.

Recentemente dois desses homens brigaram por "ponto" nessa mesma Jardim da Penha que já foi um paraíso de tranquilidade para a classe média capixaba. Um dos dois, que ostentava a testa rachada em outros confrontos, terminou morto. Houve aglomeração, chegou a polícia, foi identificado o matador e o cadáver do morto acabou no IML. Meia hora depois, calçada lavada, tudo seguiu a vida normalmente, como se nada tivesse
ocorrido. Sim, o morto era nada.

O morto em briga de rua
Pela cidade de Vitória, como de resto por todas as cidades brasileiras, a miséria ocupa as ruas. Cresce como um câncer social que não vai ser extirpado porque a política oficial do governo federal, o Brasil de Bolsonaro, não quer acabar com a miséria. Seu foco "do capital, pelo capital, para o capital", é fazer com que os miseráveis morram. Assim eles deixam de ser problema.

Infelizmente para os mandatários atuais já não se pode agir da forma como era "solucionado o problema" na época de Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro, quando "invisíveis" eram mortos e jogados no Rio Guandu. E olhem que o Rio de então era um paraíso perto do de hoje! Aqui nós temos alguns rios e o mar para jogar cadáveres. Mas, nesses tempos onde todo mundo tem uma câmara e uma filmadora acopladas ao celular, fica perigoso matar dessa forma. Sai no jornal e dá na TV.     




Nenhum comentário: