9 de março de 2021

Entre o céu e a terra


Você já leu William Shakespeare? Eu já. Embora apaixonado por "Júlio César" acho que agora nesse texto cabe mais nos lembrarmos de "Hamlet", o príncipe da Dinamarca. É ele - falo do criador da peça - o autor do monumental pensamento: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia" (em tradução livre e um pouco deturpada). Sim, e poderíamos completar com "a verdadeira substância da ambição é a sombra de um sonho".

Que sombra de sonho pontuou de pesadelos o sono do ministro Edson Fachin quando ele, com cinco anos de atraso, aceitou um pedido de habeas corpus em favor do ex-presidente Lula? (habeas é medida de urgência) E que fantasma surgiu para o também ministro Gilmar Mendes quando manteve o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro? Entre o céu e a terra certamente há a luta surda pela sobrevivência ou não da Operação Lava Jato. Talvez o ex-presidente Lula seja pano de fundo...

Nas leituras de Shakespeare a gente entra no âmago das lutas pelo poder ontem e hoje. Tudo isso está exposto nos monumentais textos do autor de tantas obras primas. Tive muita vontade de encontrar no mestre algum exemplo capaz de explicar Bolsonaro e não consegui, talvez por ser ele inexplicável.

Algumas pessoas dizem que o Supremo Tribunal Federal está tendo ingerência demasiada fora de seus limites. Talvez seja verdade. Mas o Supremo, assim como o restante do Judiciário, o Legislativo e o Executivo retratam o Brasil. Nossos defeitos e nossas virtudes. Assim como o golpismo latente na sociedade e entranhado em setores militares, mostrando a face canalha do brasileiro.

Tudo isso somos nós!

Não vou me atrever aqui a julgar Lula, Bolsonaro ou qualquer outro protagonista do atual momento político. Não nesse texto. Isso é difícil demais para mim. Ou para nós, aqueles que desprezam julgamentos precipitados. Vamos dar corda ao tempo, permitir que ele corra e que os atores se coloquem no palco de suas ambições, à sombra de seus sonhos, produzindo farsas e desprezando verdades. Se eles conseguirem pensar ao menos por um momento - ainda que breve - no ente Brasil, fruto primeiro de nossas atenções, já será maravilhoso.                      

Por isso, e porque também nos vem à memória o célebre "to be ou not to be, that is the question", igualmente em "Hamlet", o ideal é aguardarmos o correr dos dias. Os próximos. As questões vão aflorar. Vivemos hoje o risco imenso de  nos defrontarmos com nossos maiores pesadelos, superiores àqueles que puderam povoar o sono do personagem shakesperiano quando a pena molhada de tinta pelo bardo produziu a escrita final de sua tragédia cinco séculos passados.

Tomara isso não seja necessário, mas nossos maiores pesadelos de ontem derrotaríamos hoje!       

      

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