13 de julho de 2022

Tradição golpista

O jornalista e escritor Elio Gaspari, um intelectual brilhante e autor de cinco volumes sobre a história do regime militar no Brasil, publicou hoje uma carta fictícia de Tancredo Neves para Lula. Resumo da ópera: não aceite provocações de Bolsonaro (bem "sereno" na foto) e sua quadrilha nesses tempos bicudos que antecedem as eleições presidenciais. Criar um clima de instabilidade política é tudo o que interessa a essa corja. O artigo "O senhor precisa de um país que olhe para a frente" serve também a Ciro Gomes e Simone Tebet. Os demais atores desse enredo são insignificantes.

Ninguém melhor que Gaspari conhece a tradição golpista das Forças Armadas do Brasil. Isso está claro na densa obra dele que detalha os 21 anos de ditadura militar brasileira vividos entre 1964 e 1985. Mas a nossa tradição golpista remonta ao término do Império e a todo o regime presidencialista. Em tempo algum os militares brasileiros deixaram se estar associados a aquarteladas e tentativas de golpe. 1964 é apenas o exemplo mais recente e doloroso. Portanto, aí vai o "conselho" de Tancredo para Lula no texto "psicografado": não aceite provocações. Ciro e Simone também não.

O presidente atual é um excremento político desses muitos que o Brasil defeca de tempos em tempos, sobretudo durante crises. Nesse caso, foi gestado pelos escândalos envolvendo o PT durante os governos Lula e Dilma, sobretudo o primeiro. Figura menor até mesmo no baixo clero, o capitão quase expulso do Exército viu na crise sua chance de ouro de ascender ao trono. Não a perdeu. E levou para o Palácio do Planalto o que existe de pior e mais tacanho na política brasileira. Sobretudo o golpismo, a mentira como forma de agir e a violência que ele não tem nem pudor nem vontade de disfarçar.

Infelizmente para nós, conta com a ajuda de algumas poucas empresas de comunicação e "jornalistas" que divulgam suas mentiras travestidas de verdades como se efetivamente verdades fossem. E se prepara para tentar promover um golpe de Estado, movimento já em curso, se perder a eleição como tudo indica que vai acontecer. Aliás, ainda não fez isso porque, ao contrário de 1964, não teria ajuda externa, sobretudo dos Estados Unidos, para sobreviver à aventura.

Nós podemos, hoje, iniciar o sepultamento do golpismo no Brasil. Mas é preciso ter inteligência, tirocínio e calma. Sei que é difícil. Gaspari mesmo destaca em sua carta a tendência "palanqueira" de Lula. Portanto, é agora ou quem sabe nunca mais - se estivermos vivos - para presenciar essa oportunidade de derrotar não apenas o presidente e seus generais de bravata, mas o golpismo. 
     

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns! Muita competência para expor verdades com clareza e firmeza.