11 de novembro de 2022

Mercado seletivo


Duas considerações precisam ser feitas relativamente à reação nervosa do mercado financeiro brasileiro ontem, depois do pronunciamento de Lula em Brasília. Primeiro, que se trata de um movimento seletivo e que visa atingir um governo ainda não formado e com o qual o grande capital não tem afinidade alguma. Portanto, uma reação ideológica. Segundo, para evitar esse tipo de movimentos que tendem a desestabilizar o governo por meio de chantagem financeira, seria bom o novo presidente não fazer discursos de improviso ou então tirar o tema "âncora fiscal" de seus contatos públicos com a população e a imprensa.

Vamos nos lembrar do seguinte: nos últimos quase quatro anos o atual mandatário Jair Bolsonaro produziu uma imensa quantidade de discursos fantasiosos, falaciosos, arrogantes, desafiadores e destituídos de qualquer lógica ou civilidade. Em momento algum houve reação tão pronta contra suas falas. Claro que o cidadão ainda no poder (?) falava quase a mesma língua desse mercado que tem um único interesse: ganhar a cada dia mais dinheiro. Se ele sente que seu chão não está seguro o reflexo na bolsa de valores é imediato. Junto com ele vem o sobe/desce do real e das principais moedas internacionais, sobretudo o dólar. Lula, nos seus dois primeiros governos respeitou as regras dos gastos, reduziu a inflação e a dívida pública. Mas o mercado já se esqueceu disso.  

Esses movimentos muitas vezes são usados como chantagem econômica. E vai ser assim doravante, até que o novo governo se estabeleça com a confiança de quem realmente interessa: a população ou uma grande parcela dela. O "tal mercado" não está mais acostumado a ouvir político falando em matar a fome do povo. Coisa de comunista! Isso pouco ou  nada interessa à "República da Faria Lima". Ela gosta de ouvir que o Brasil é o celeiro do mundo, embora a produção agrícola gigantesca que serve à exportação não mate a fome de uma imensa parcela dos brasileiros e só sirva ao enriquecimento dos barões do agronegócio.

Vai ser difícil enfrentar a reação, porque até pequenos produtores se deixam acariciar pelo canto das sereias. Mas tem que ser assim. Matar a fome do povo, recuperar a Educação, dar um sentido à saúde e gerar uma economia direcionada a todos, sobretudo aos mais fracos sempre provoca reações as mais desesperadas possíveis. Então, para não botar lenha na fogueira seria bom se os principais assessores convencessem o presidente a falar pouco. E a sair do palanque, já que o Palácio do Planalto vai ser seu local de trabalho por quatro ano depois de primeiro de janeiro.                    

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom o seu texto. Análise perfeito.
“Mas tem que ser assim. Matar a fome do povo, recuperar a Educação, dar um sentido à saúde e gerar uma economia direcionada a todos, sobretudo aos mais fracos”
Sim. Destaco este trecho porque concordo que:
Está deve ser a preocupação do novo Presidente porque o mais virá como acréscimo.
Parabéns!