8 de dezembro de 2022

"Você não entendeu..."


Corria o ano de 1965 e o primeiro presidente da ditadura militar leu em um jornal que um seu irmão, servidor de carreira da Receita Federal havia ganho dos outros funcionários um carro Aero Willis zero quilometro como retribuição à ajuda que dera para a feitura de uma lei que organizava a carreira federal naquele órgão. Imediatamente o presidente, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco ligou para o irmão e determinou que o veículo teria de ser devolvido à concessionária.

O irmão então disse: "Veja, Humberto, se cada fiscal tivesse sido presenteado com uma gravata, o valor seria muito maior". E acrescentou que a devolução o colocaria fragilizado no seu cargo. Então o presidente encerrou a conversa: "Você não entendeu. Afastado do cargo, você já está. Estamos agora decidindo se você vai ser preso ou não". Esse episódio foi narrado pelo jornalista e historiador Elio Gaspari para a Folha de S. Paulo em 10 de julho de 2005.

Vamos nos transportar para esse final de 2022. O que um jornalista como eu, que odeia a ditadura militar, pensaria se tivesse que traçar um paralelo entre o Castelo Branco de 1965, apenas um ano depois do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart e o Jair Bolsonaro de hoje que, às vésperas de entregar a presidência a Luiz Inácio Lula da Silva, abastece todos os canalhas que o seguem nos projetos de golpe de Estado e destruição da democracia construída a duras penas de 1985 para cá. Isso quando o último ditador de plantão, João Batista Figueiredo, que preferia cheiro de cavalo a cheiro de gente, não tentou um golpe.

Na montagem de foto acima estão Castelo de um lado e Bolsonaro de outro. É abissal a distância ética entre um e outro. No caso do presidente atual, eleito pelo povo, ele escondeu anos de "rachadinhas" suas e dos filhos. A familícia comprou mais de uma centena de imóveis em dinheiro vivo. Agora mesmo o mais velho da filharada quer passar por cima de normas legais para ter uma ilha no litoral fluminense. São tantas as falcatruas que isso chega a desconcertar. E mesmo assim ainda há uma legião de idiotas e criminosos capazes de seguir esse esquema rezando para pneus e chamando extraterrestres.

Chega, por favor. Todos têm que ser processados para pagar por seus crimes. Essa gente precisa ser condenada e presa, sem que se cogite em anistia. O Brasil não pode mais ser desmoralizado como está sendo por essa quadrilha de maioria psicopata. E os processos devem envolver também os que não estão diante de quartéis, mas alimentam de ódio todos os dias as redes sociais. CHEGA!                        

Um comentário:

Anônimo disse...

Desta eu não me lembrava! Excelente sua narrativa também porque nos traz esta lembrança/exemplo de retidão tão forte e atual.
Parabéns!