31 de julho de 2024

Mude o foco, presidente!


"Não é a pornografia que é obscena...é a fome que é obscena! E enquanto nós não compreendermos isto, que não há o direito, não há nenhuma razão para que um único ser humano morra de fome, então todo o discurso sobre a moralidade pública é um discurso hipócrita"
(José Saramago, escritor)

Em dias como hoje não consigo reprimir em mim a vontade de atacar esse tema. Passei por uma praça do bairro onde moro em Vitória, Jardim da Penha, e vi uma cena inimaginável ao menos para mim: três moradores em situação de rua saiam de um lugar onde estavam e se dirigiam para debaixo de uma cobertura de marquise diante de uma farmácia de manipulação ao lado de outra, de rede nacional. Duas mulheres passavam aparentemente em direção a um supermercado uma delas comentou: "Que horror; onde estão as autoridades que não tiram essa gente daqui e jogam em outro lugar?"

Não é a  miséria que agride essa parcela da classe média brasileira, é o miserável!

Falo isso porque a fixação do presidente da República em não admitir que o seu colega da Venezuela é apenas e tão somente um ditador de aldeia barato alimenta o discurso daqueles que o estão vendo apenas como um demagogo e não como quem nasceu na  miséria, passou fome e da forma como pode e acredita quer lutar contra isso, mas não contra o miserável.

É a hora de acordar, presidente Lula! Coloque Nicolás Maduro quase podre no lugar onde ele deve ficar, abandone-o à própria sorte e siga tentando reduzir o nível da miséria brasileira usando para isso de todos os recursos possíveis e disponíveis. Aquelas madames de Jardim da Penha preferem o horror ao miserável do que ser engajadas na luta contra a fome. Fazem parte de um imenso contingente de brasileiros que apoiam um ex-presidente capaz de imitar falta de ar, de debochar de doentes por covid em rede nacional em vez de atacarem um dos problemas mais graves da vida nacional. O presidente brasileiro disse que preferia ouvir críticas a elogios baratos, mas parece que não anda lendo ou escutando nada.

E por fazer isso aumenta o contingente daqueles que, como também ouvi outro dia, acreditam que ele quer instituir o comunismo no Brasil em vez de ajudar a população. Mude o foco, Lula! Mude sua visão de América! Eu que também me sinto atingido pela fome horrorizo-me quando a vejo pela frente, mas não tenho caneta para mudar essa realidade.                          

25 de julho de 2024

Maduronaro


Todo ditador de aldeia é um projeto pronto e acabado!

Quando o presidente Lula recebeu Nicolas Maduro (na foto, cheio de medalhas) com todas as honras e todas as pompas em Brasília logo no início de seu mandato, estava cometendo um ato temerário naquele 29 de maio de 2023, na reunião da Unasul. Afora ele, poucas pessoas acreditavam que um democrata perseguido pelo "Império" e pelo anterior governo brasileiro estivesse recebendo tantas honrarias naquele dia. O gesto foi tão exagerado que até o presidente socialista do Chile, Gabriel Boric, protestou pelo fato de os demais presidentes terem sido recepcionados de maneira diferente e diplomaticamente inferior. O tempo passou e agora Lula, mesmo sendo teimoso como uma rocha, deve estar avaliando melhor seu engano.

Bolsonaro foi quem rompeu relações diplomáticas com a Venezuela e entregou a embaixada daquele país à representante de um "governo" títere. Durante seus quatro anos no Palácio do Planalto tratou os representantes de outros governos como amigos ou inimigos. "Aos amigos, os favores. Aos inimigos a lei", como disse Nicolau Maquiavel. E assim ele agiu embora, como creio, pouco tenha ouvido falar no florentino autor de "O Príncipe", sua principal obra de referência e escrita em 1512. No governo passado, o ex-presidente brasileiro tratava com desprezo todos os que discordavam dele. E os atacava de forma feroz.

Em sentido oposto, milhares de milhas ideologicamente distantes, Bolsonaro e Maduro são farinha do mesmo saco. Unidos formariam o Maduronaro!

Talvez Lula, que ao ser empossado presidente disse gostar de ouvir criticas em vez de elogios baratos, esteja considerando essas que chovem de todos os cantos hoje. É preciso dar ao projeto do ditador venezuelano a distância regulamentar e de segurança que se dá a todos aqueles defensores da cartilha do banho de sangue depois de eleições. A vida em democracia não pode ser como imaginava Augusto Pinochet, não pode incluir no projeto a tomada do Capitólio e nem uma invasão dos poderes da República em Brasília após uma eleição perdida. Um projeto de governo jamais deve ser emporcalhado por tão pouco.

No G20 o presidente do Brasil tem sido aplaudido de pé. A luta contra a fome é meritória e oportuna. Muitas das medidas econômicas tomadas por esse governo brasileiro são providenciais nos dias de hoje, mesmo dividindo o PT e desgastando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Universidades, vacinas e o triunfo da ciência sobre a imbecilidade, além de outras coisas, precisavam mesmo acontecer no nosso país. Então por que perder tempo com um projeto de ditador de aldeia sul-americano, se o nosso que ameaçava os horizontes brasileiros está, creio, definitivamente fora do jogo?

Vamos em frente! Ainda há muito por fazer. 

20 de julho de 2024

O AR-15 e a democracia

Não importa a ideologia que você tenha ou venha a ter um dia; quando ouvir falar em democracia jamais associe esse termo à extrema direita política que nos Estados Unidos é capitaneada por Donald Trump e no Brasil tem seguidores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Lembre-se: foi a esquerda política brasileira aliada a setores mais lúcidos da centro-direita quem desgastou e derrubou a ditadura militar 1964/1985. Os idólatras do Fuzil AR-15 odeiam democracias e tudo o que possa se ligar a elas. Mesmo quando um deles belisca a orelha do protofascista favorito à presidência do maior império do mundo.

O fuzil AR-15, hoje símbolo americano é um Colt. Segundo a Associação Nacional de Rifles dos Estados Unidos existem 20 milhões de modelos desta arma comprados legalmente por lá. Vira e volta um deles é usado em massacres que acontecem sempre em qualquer ponto do país. Em 2004, durante o governo George W. Bush foi derrubada lei que impedia a comercialização de armamento militar para uso civil. Em 2005 surgiu a Lei de Proteção ao Comércio Legal de Armas e assim a indústria armamentista deixou de ser responsável pelo uso irregular de fuzis ou outros tipos de armamento. De 2002 a 2012 a produção de "rifles" cresceu 160 por cento e se tornou acessível à grande maioria da população. E a lei de proteção não considera o AR arma militar porque ele só dispara um tiro a cada vez que o gatilho é pressionado (não se trata de metralhadora). Então acabou classificado como "fuzil esportivo moderno". Lá nos EUA qualquer um pode sair de uma loja com um deles debaixo do braço por preços que variam de 400 a dois mil dólares, dependendo do modelo e de adicionais como, por exemplo, tripé, mira telescópica (luneta), etc.

No discurso do band-aid Trump não tocou em democracia a não ser de passagem. Falou de tudo o mais, sobretudo na sua crença de um Estado de Direito relativizado e com armamento letal sendo vendido regularmente e mostrado no comércio sobre bandeiras dos EUA (foto). Ele evita falar que "povo armado não pode ser escravizado". Sabe que esse povo armado é seu exército particular e de todos os que lutam por uma sociedade de regras a cada dia mais frouxas e com uma Constituição em constante perigo de dissolução. Afinal, para o movimento extremista mundial liberdade é só um detalhe menor. Tanto que nenhum deles fazia parte da luta anti ditadura de direita política nem aqui a nem em outro país onde isso aconteceu nos tempos modernos.

No Brasil grande parte da população que hoje engrossa as fileiras da extrema direita não sabe onde está o fundo do poço. Mas ele é bem profundo. Se as forças democráticas não tiverem força e clareza para lutar contra essa praga neofascista, os inocentes uteis ou adesistas vão descobrir que o fundo fica bem lá embaixo, onde a vista não alcança. E de onde não vai dar para sair mais.         

18 de julho de 2024

O santo é de barro...


Uma das denúncias do governo Lula, quando iniciou a administração federal, envolvia duras críticas ao anterior, sobretudo e principalmente por causa dos tais sigilos de 100 anos impostos em contratos ou acordos celebrados até então. Muitos desses sigilos foram quebrados e chamados de meras blindagens de atos da administração pública que não poderiam ser explicadas de forma honesta. O que não faltou foram casos espúrios e que envolveram até mesmo, como se sabe hoje, o uso de um órgão federal como a ABIN para "arapongagem" contra adversários políticos ou até mesmo aliados. Mas agora o governo atual faz o mesmo, alegando que pedidos de explicações envolvendo a Âmbar Energia, empresa do grupo J&F envolveriam assuntos privados de pessoas como o ministro Alexandre Silveira.

É o mesmo argumento usado no passado bem recente pelo genocida inelegível.

Está tudo correto com os contratos firmados entre o governo e a empresa dos irmãos Batista? Ótimo, então basta abrir os dados a todos os interessados porque um negócio de R$ 19 bilhões no qual está presente dinheiro público é tudo menos assunto privado. O atual governo deve ou deveria saber que todos os olhos, ouvidos e línguas da extrema direita brasileira e adjacências estão voltados a ele. Mesmo sem como provar qualquer coisa todos os dias as tais redes sociais são inundadas de falas ou denúncias, irresponsáveis ou não, contra as autoridades federais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está sendo chamado de "Taxad" porque o acusam que aumentar a carga de impostos dos brasileiros, embora isso seja mentida. Aumentam os impostos dos ricos mas se reduzem os dos pobres e isso incomoda muito.

Lula deveria determinar que todos os dados envolvendo a negociação com a J&F, muito feliz ao fazer propaganda de seus negócios como mostra a imagem acima, fossem tornados públicos. Se aqui ou ali houver alguma coisa sobre A ou B que não seja de interesse público somente esse fato é vetado e explicado o veto. Mesmo assim haverá ataques, achaques, mas o governo terá tido o cuidado de mostrar todos os papéis, dados e fatos que envolvem o contrato. E também com a fala de Alexandre Silveira ou qualquer outro ministro. Tem que ser assim se tudo é licito e feito em razão do interesse público.

O atual governo, em razão dos fatos atuais, tem que ir devagar com o andor...                               

15 de julho de 2024

As vítimas da cultura das armas


Desde o primeiro registro até hoje são 16 os atentados contra presidentes ou candidatos à presidência dos Estados Unidos naquele país. O primeiro que morreu foi Abraham Lincoln, assassinado no Teatro Ford, em Washington, em 1865 (foto), mas já tinha havido atentados antes, desde 1835. Daí para cá foram mais 15 ocasiões distintas, sendo que em quatro outras oportunidades o presidente ou candidato perdeu a vida. Todos eles, sem exceção alguma, foram assassinados pela cultura das armas dos Estados Unidos.

Essa cultura do "uso arma para me defender" tem início com a famosa "conquista do Oeste" pelos colonos norte-americanos. Ocorre que lá havia moradores originários, as diversas nações indígenas. Então eles tinham que ser eliminados para a chegada dos brancos. E afora no episódio de Litle Big Horn, quando o general George Armstrong Custer foi morto e escalpelado por indígenas dos EUA, no mais todos, rigorosamente todos os grandes chefes índios acabaram exterminados. Recomendo a leitura do livro "Enterrem meu coração na curva do rio", do historiador Dee Brown.

Pois a cultura do uso indiscriminado de armas produziu a morte de Lincoln e também de James Garfield, William McKinley, John Kennedy e Robert Kennedy, este último candidato em campanha. Também houve atentados contra Andrew Jackson, Theodore Roosevelt, Franklin Delano Roosevelt, Harry Truman, George Wallace, Gerald Ford (duas vezes), Ronald W. Reegan, Bill Clinton, George W. Bush e agora Donald Trump. E não foram apenas esses as vítimas da cultura da violência norte-americana. Também terminou morto o Beatle John Lennon, que não fazia mal a ninguém, além de centenas de outros como estudantes eliminados dentro das escolas por psicopatas armados. Aliás, um em cada 20 cidadãos dos Estados Unidos possui fuzis como o usado por Crooker, um rapaz de 20 anos, para tentar matar Trump.

Uma sociedade que se arma para atirar em tudo e em todos monta o palco de seu próprio velório. O rapaz que tentou tirar a vida de Trump e foi morto em seguida certamente buscava notoriedade, como tantos outros o fizeram. As autoridades dos Estados Unidos não vão encontrar nenhum complô internacional depois das investigações desse caso. Vão achar, isso sim, um atestado de sua própria doença como povo e nação. Doença essa que Donald Trump, um ferrenho defensor do uso de armas, alimenta todos os dias e agora se voltou contra ele.        

13 de julho de 2024

Dora de Esmeraldo

Na foto, Esmeraldo assina o livro de posse como prefeito de Santos. Nunca chegou a exercer o cargo

Para quem não conhece, vou apresentar Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho. Mas pode chamar apenas de Esmeraldo Tarquínio que basta. Negro, crooner de prostíbulo do Cais do Porto de Santos, despachante aduaneiro, advogado, jornalista, vereador, deputado estadual e prefeito de Santos além de torcedor apaixonado do  Santos Futebol Clube, não conseguiu cumprir o último mandato porque o teve cassado pela ditadura militar que infelicitou o Brasil de 1964 a 1985. E por quê? Eleito prefeito, foi convidado para uma entrevista pela apresentadora Hebe Camargo, à época na TV Record de São Paulo, e esta perguntou a ele se era verdade que havia cantado em "grupo de zona". Ele disse que sim, pois havia nascido pobre, era negro e precisava ganhar dinheiro honestamente para se formar como advogado e viver a vida que queria, inclusive como politico, pois tinha muito a dar na qualidade de militante ativo do Partido Comunista Brasileiro, PCB ou Partidão.

Eram tempos duros da ditadura militar e no dia seguinte ele teve seu mandato cassado. Para justificar e violência, os generais de plantão disseram que, "por motivos de segurança nacional" daquele dia em diante balneários, estâncias hidrominerais e outros lugares afins teriam seus prefeitos escolhidos pelo governo e não mais pelo povo. Esmeraldo não se conformou, mas nada podia fazer. Triste, foi aos poucos sofrendo de depressão - doença então não diagnosticada - e no dia 10 de novembro de 1982 sucumbiu a um enfarte agudo do miocárdio. Tivesse suportado mais três anos, viveria para ver seu país livre da ditadura.

Conto essa pequena história porque ontem, em reunião politica na casa de um amigo, este que é fazendeiro de Linhares, reagiu a uma pergunta minha sobre como estava o bolsonarismo na sua região e disse que isso não existe. O que há são pessoas que lutam contra a corrupção e não toleram invasão de terras. Nada disso, amigo. Fosse assim e o criminoso que leva o nome do grupamento político atual de extrema direita não teria sido eleito presidente da República. E não estaria até hoje conspirando para dar golpe de Estado e destruir instituições civis reconstruídas com tanto esforço e mortes como a de Esmeraldo.

E ele não foi um caso único. Aqui no Espírito Santo, seu Flores, o crooner do Regional de Mestre Flores, não conseguia trabalhar como marceneiro depois do golpe de Estado de 64.  Para não morrer de fome e sustentar a família, passou a cantar na zona de meretrício de São Sebastião, conhecida como Carapeba. Fez isso durante muito tempo. Um de seus filhos, o jornalista Francisco Flores Rodrigues, o Chico Flores, hoje falecido, recordava-se com carinho e orgulho da luta do pai durante os anos de chumbo.

Não, querido amigo, seus vizinhos de fazendas nessa Linhares um pouco chegada à extrema direita não são patriotas que lutam contra a corrupção. Eles, ao contrário. dão seu apoio a militantes formais e informais de um pensamento político espúrio que prega a destruição da democracia e o assalto aos bens do País. Haja vista que o ex-presidente, seus filhos e demais membros da quadrilha fizeram uso do Estado Brasileiro, através da ABIN, para enriquecer e vasculhar a vida dos outros, além de se protegerem de investigações. Poucos de seus amigos, meu querido camarada, fazem isso inocentemente. A esmagadora maioria desses patriotas de araque sabem que conspiram. Sabem e pagam para ver... 

E só para terminar, na entrevista dada a Hebe, o prefeito Esmeraldo, primeiro negro eleito para aquele cargo na história santista, foi convidado a cantar. Pensou um pouco, mais um pouco e depois disse que faria isso porque "cantar não tira o respeito de ninguém", E então se levantou e emprestou seu vozeirão a uma das obras primas de Ary Barroso e Dorival Caymmi, para deleite de todos os espectadores. Ele cantou "Dora, rainha do frevo e e do maracatu". Ainda o vejo no palco na TV Record:

"Dora, rainha do frevo e do maracatu

Dora, rainha cafusa de um maracatu

Te conheci no Recife

Dos rios cortados de pontes", etc, etc, etc.                         

11 de julho de 2024

Arapongas & assemelhados


Quando estava no início de seu (des)governo, em 2018, o genocida inelegível Jair Bolsonaro, antecessor do atual presidente da República dizia que queria ter acesso a todo tipo de informação e isso vinha sendo dificultado a ele. Numa de suas arrogantes declarações disse, dentre outras coisas que "o meu sistema de informações pessoal é muito bom". Claro que se tratava de algo ilegal como pode ser visto hoje depois de o ministro Alexandre de  Moraes, do Supremo Tribunal Federal ter aberto o sigilo de uma investigação que descobriu arapongagem de muita gente, inclusive ministros, políticos e jornalistas. O criminoso que atuou no Palácio do Planalto durante quatro anos não respeitava ninguém. Rigorosamente ninguém! Nem lei alguma!

Só para especificar, o sistema mais usado no Brasil para monitorar ilegalmente uma pessoa é de origem israelense e adquirido pela ABIN - Agência Brasileira de (pouca) Inteligência - já faz algum tempo. Comprado à empresa Cognyte, anteriormente chamada de Verint, o First Mile é um software de monitoramento que permite o rastreamento de até 10 mil celulares por ano e foi largamente usado durante quase todo do governo bozista. Rastreia em tempo real e localiza todas as pessoas perseguidas. Logicamente isso só pode funcionar com autorização judicial que jamais foi solicitada ou obtida pelos espiões tupiniquins.

O chefe do tráfico ilegal de informações era e é o ex-delegado da Polícia Federal e atual candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Alexandre Ramagem (na imagem montada, está ao lado da sede da ABIN, em Brasília). Ele fazia e fez até hoje qualquer tipo de trabalho sujo pedido pelo "patrão". Conheceu o inelegível durante a campanha deste à presidência, tornaram-se amigos (ou seriam capangas?) e daí em diante o delegadinho só não virou diretor geral da Polícia Federal porque a Justiça não deixou.

Eis, sintetizada, a promiscuidade que era o governo federal anterior, isso só no campo da espionagem ilegal. Não estamos nem entrando no terreno das joias tomadas ao Estado, aquisição de imóveis com dinheiro vivo e outras coisas menores...  Estamos nos atendo apenas aos arapongas e assemelhados que ainda vivem à custa do poder, ao lado dele, alimentando-se de suas entranhas e atentando contra os poderes da República. Diariamente cidadãos acima de quaisquer suspeitas (alguns nem tanto...) têm suas vidas devassadas. 

 Cabe uma pergunta: quando esses chefões mafiosos vão ser presos?           

7 de julho de 2024

"Sic transit gloria mundi"


Hoje, 07/07/2024, é um dia especial. E especialmente perigoso. Na França os franceses estão decidindo o futuro da democracia daquele país numa eleição legislativa que tem como objetivo para as forças antifascistas impedir que as viúvas do nazifascismo cheguem a poder levadas pelo descontentamento popular para com a política tradicional. Essa mesma política que hoje reúne em Balneário Camboriú a fina flor do reacionarismo político nacional em torno de um fenômeno de massa que se intitula "bolsonarismo" para os brasileiros.

Isso me remete a uma figura consagrada do carnaval brasileiro, Clóvis Bornay. Foi museólogo, carnavalesco, criou o Baile de Gala do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, considerado ícone do ramo, fazia do baile cenário perfeito para se mostrar ao mundo com fantasias grandiosas e cafonas. Mas todas, rigorosamente todas, caras. Assim foi uma, a considerada melhor de todas e chamada "Sic transit gloria mundi", ou "assim transitam as glorias do mundo", ou ainda "assim terminam as glorias do mundo". Mostrava cena de morte com lantejoulas e paetês, além de penas de bichos que alimentavam um ego gigantesco. As glórias do mundo, para Clóvis Bornay, terminaram aos 89 anos, em 2005.

Hoje algumas figuras que nos remetem a um dos períodos mais lúgubres da história mundial e que custou 40 milhões de vidas humanas tentam destruir o conceito de democracia em vigor na maioria das nações para reviver a extrema direita à custa da destruição de constituições nacionais. Na França tenta-se impedir que ela possa indicar um primeiro ministro. Em outros países está sendo feito o mesmo movimento, inclusive nos Estados Unidos com a figura patética de Donald Trump tentando sobreviver a uma carrada de processos referentes a crimes de todos os graus e tipos.

Aqui no Brasil também hoje cerca de quatro mil pessoas estão reunidas num balneário de luxo de Santa Catarina para, de maneira indisfarçada, conspirar. Tentar meios ilegais de devolver a um ex-presidente criminoso e indiciado o direito de concorrer a nova eleição presidencial, buscar mostrar aos outros que quem tentou destruir a democracia em 08 de janeiro do ano passado não é bandido de sim perseguido político e ainda organizar o Congresso Nacional para votar uma lei que anistie a todos, mesmo sendo ela inconstitucional e desde já condenada a ser assim declarada pelo Supremo Tribunal Federal. Só como registro: Brasil tem hoje cerca de 530 grupos políticos de extrema direita em atividade, sobretudo no Sul, com ações maiores em Santa Catarina. 

A ojeriza à politica tradicional está por trás de todo esse movimento. Ele nasce do descontentamento da população para com partidos e políticos que só agem em benefício próprio e tentam capturar o Estado para seus clientelismos. E isso é feito, tanto aqui quanto em países com elevado grau de conhecimento porque a demagogia tem tentáculos longos e os demagogos conseguem capitalizar momentos de fraqueza das nações. Sabem no fundo que as glórias do mundo são efêmeras, mas também podem usar seu tempo para minar tudo aquilo no qual não acreditam e tentar dessa forma formar uma nova ordem mundial que talvez leve a humanidade à ruína. Tanto, faz, contanto possam ser eles os donos, ainda que por pouco tempo, de todas as glórias do mundo.