4 de agosto de 2024

Campanha de saúde política


Quando estive no Chile pela última vez a presidente era  Michelle Bachelet. Nós, turistas, fizemos um city tour pela capital e subimos uma colina de onde se tinha bela paisagem de Santiago. O guia disse a certa altura que iria voltar antes de chegar ao topo porque ele não queria passar diante da residência do ex-ditador. Argumentei que Pinochet já não mandava nada, mas o rapaz simplesmente completou: "Não vamos passar por lá". E ponto final!

O que acontecia era simples: ainda havia no Chile milhares de viúvas da ditadura deles, todas saudosas dos tempos de prisões ilegais, torturas e assassinatos. Como aconteceu no Brasil... Tudo o que um guia de turismo não queria fazer era colocar em perigo as pessoas que estavam sendo levadas a passeios. Durante o tempo que se passou após isso, Bachelet governou para mostrar aos chilenos que democracia é muito melhor. Foi sucedida por um presidente de direita, mas que jogou com a regra do jogo. Depois veio Gabriel Boric, socialista moderno e capaz de entender que o antiamericanismo é hoje um cadáver insepulto na maioria dos países onde se elegeram presidentes de visão socialista. Como na Colômbia de Gustavo Petro, por exemplo.

Lula ainda não entendeu como se faz política internacional em 2024 e conversará muito com o chileno amanhã (vejam os dois juntos na foto). É teimoso como uma porta, mas talvez atenda a alguns conselhos sobre a insensatez de demorarmos a considerar a Venezuela como um feudo de Nicolás Maduro. Autocratas não são de direita nem de esquerda como muitos pensam; eles governam para si próprios e seu grupo político/familiar. Nesse ponto não há diferença entre Maduro e Bolsonaro além do fato de que na Venezuela as forças armadas foram todas compradas pelo Chefe de Estado enquanto aqui o ex-presidente não conseguiu ir além do Centrão. Ao menos nesse ponto estamos bem melhores...

Precisamos lançar uma campanha de interesse público: Maduro faz mal à saúde!

Se Boric conseguir ajudar ao menos um pouco talvez alguém consiga fazer Lula entender que se seu apoio cair muito mais por causa desse autocrata decrépito, não será apenas ele o derrotado. O projeto político do Brasil perderá junto porque abrirá caminho para a volta do inelegível genocida ou quem ele nomear seu sucessor. Há muitos extremistas de direita se candidatando a esse cargo e todo dia um discursa. Hoje foi o candidato a prefeito de São Paulo, aliado do governador carioca importado por lá. Em Minas um outro governador caipira e iletrado também sonha com a chance de se hospedar no Planalto. Oportunistas em busca de oportunidades não faltam.

Sonho para que o sol de Santiago, mesmo nesse inverno sul-americano, areje a cabeça do presidente brasileiro. Os tempos da "ditadura do proletariado" ainda presente na cabeça de muitos dirigentes do PT, já passaram. E pode haver um caminho de luz para todos nós, brasileiros, no horizonte de 2026. É só evitar o que faz mal â saúde política.

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