6 de novembro de 2024

Guerra sem xeque-mate


No jogo de xadrez o xeque-mate é a rendição do rei. Ele não tem mais como se defender no tabuleiro e o jogador cercado derruba a pedra que o representa. Na vida real essa rendição, sobretudo quando se fala em super potências, é cada vez mais improvável. Uma guerra nuclear não teria vencedor, de modo que faltaria a mão para derrubar o monarca. Então a ninguém mentalmente são interessa esse xeque-mate. 

Digo isso porque a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos em muitos provoca calafrios ligados à guerra nuclear. Bobagem. O presidente eleito é um fanfarrão, mas mesmo assim menos belicoso que Joe Biden. Ele conhece o terreno minado onde pisa e estará cercado por gente capaz de dar conselhos. Além do mais as forças armadas dos Estados Unidos dificilmente seguirão um residente maluco em direção ao abismo.

Trump é negacionista e isolacionista. Mas aqui no Brasil tivemos na chefia de governo até pouco menos de dois anos passados um outro que era filhote dele. Disse até um "y love you" para seu ídolo em encontro pessoal. Declaração de amor respondida com o protocolar "nice tho meet you too". Trump o vê como fã, nada mais. E a América do Sul nunca foi prioridade para a política externa dos EUA. Isso não vai mudar agora.

Trump pode, sim, taxar importações, mas para negociar depois. Isso causa prejuízos e inflação, mas para eles também. Vai continuar a levantar o muro na fronteira mexicana e a chamar os imigrantes de criminosos. Afinal, todo extremista de direita precisa de inimigos. Vive disso, seu pensamento se baseia nisso e o prejuízo para os mexicanos acabará maior do que para os outros. No horizonte próximo continuará a tratar a China como inimiga porque vê nela - e acertadamente - o país que suplantará o seu em breve no campo econômico. Os chineses gastam muito menos dinheiro que os norte-americanos em orçamento militar. Talvez Benjamin Netanyahu não tenha tanto a comemorar. Nem o inelegível por aqui. Mas isso precisamos ver depois. Barbas de molho devem colocar Irã e Ucrânia.

Há uma hipótese pouco avaliada hoje: a de que os remédios do presidente eleito prejudiquem a saúde de quem pretende beneficiar nessa "era de ouro" anunciada para seu povo. Se isso acontecer ele não deverá mesmo ter outro mandato, como anunciou. 

  

5 de novembro de 2024

Podres Poderes 2

Em meados da década de 1980 a revista Placar, da Editora Abril, foi a campo para denunciar o que se convencionou chamar de "A máfia da Loteria", um esquema corrupto de manipulação dos resultados de jogos da Loteria Esportiva para fraudar resultados e enriquecer ladrões. Muita gente ganhou dinheiro com isso, num esquema que construía "zebras" em resultados de jogos de favoritos contra times de menor porte. O jornalista Marcelo Rezende ficou meses levantando dados inclusive em Vitória onde dois goleiros, um do Rio de Branco e outro da Desportiva foram comprados. Seus clubes perderam jogos graças a falhas propositais desses dois sujeitos. Eu, que era correspondente de Placar acompanhei o trabalho no Estado. 

Marcelo veio a Vitória para levantar dados. Ouviu até o presidente da Federação de Futebol do Espírito Santo, FES, na época um picareta. Placar publicou várias vezes as denúncias com um título interno de "Podres Poderes". Ao final o esquema foi desmontado pelo menos em parte. O ruim é que a Loteria Esportiva, muito ferida com o fato, jamais voltou a ser o que era. Marcelo, que tinha planos de prosseguir em seu trabalho, morreu de câncer. E como a revista perdeu parte de sua importância do passado, também não precisava de correspondente em Vitória...

Agora aparentemente tudo está voltando. O esquema das  BETs substitui a corrupção antiga com a vantagem de não precisar mais da Loteria Esportiva. A mão de obra continua disponível agora na figura de jogadores famosos como é o caso de Bruno Henrique, do Flamengo, e outros. São pessoas que não têm uma formação moral sólida e acabam sendo alvos naturais para espertalhões. Aceitam ganhar dinheiro fácil não se apercebendo de que estão sendo desonestos. Ou então fazendo isso com plena consciência do que ocorre.

Essa onda das BETs ainda vai provocar muitos danos ao Brasil, sobretudo porque jornalistas conhecidos e ex-jogadores de futebol feitos comentaristas as divulgam. Muita ilegalidade já foi desmascarada e outras o serão em breve. Pior: milhares de pessoas estão se endividando, caindo no buraco das dívidas de jogos de azar de onde é muito difícil sair. Mais uma vez nosso pais cava um buraco para ele mesmo.

Esporte depende de credibilidade. Se perder isso estará mortalmente ferido.