Talvez "Ainda estou aqui", filme maravilhoso de Walter Salles e que conta a história do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva leve poucos prêmios internacionais nos tempos de extremismo de direita de hoje. Mas é maravilhoso e capaz de fazer o telespectador ficar em silêncio durante todo o tempo de exibição, além de sair da sala de projeção da mesma forma. Ouvi uma senhora falar com o homem ao lado - possivelmente o marido - um "não acredito que isso aconteceu". Mas aconteceu, senhora. E em milhares de casos.
Rubens foi assassinado de forma cruel, brutal até, muito pouco tempo depois de ter sido preso sem acusação formal, coisa alguma. Acabou seus dias num dos centros de tortura mantidos pela ditadura militar que tomou o poder no Brasil em 1º de abril de 1964. Não foi em 31 de março, certo? Da mesma forma que ele, inúmeros outros morreram ou foram perseguidos ao longo dos 21 anos que durou a noite sem estrelas da ditadura brasileira.
O bom de esse filme estar sendo exibido agora é que sua apresentação coincide com tempos em que uma nova horda de extremistas de direita tenta se erguer no Brasil e no restante do mundo. Temos um Donald Trump nos Estados Unidos e um Javier Milei na Argentina, para ficarmos apenas em dois casos. Mas a tragédia pode aumentar, e muito. Portugal que o diga. Eles entram sorrateiramente país adentro, para tomar corações e mentes desprevenidas. Já se diz que isso é coisa passageira, que logo tomaremos noção do risco que corremos, mas o perigo deve ser bem maior do que pressentimos nós, os mais crédulos.
Eles hoje, os extremistas de direita. tentam tomar praticamente todos os espaços. Não poupam nem academias de letras, onde ingressam pelo medo ou omissão de seus membros. Sorriem, fazem festa, bajulam, mas o objetivo claro é o de tomar as instituições tão logo seus ocupantes estejam em menor número. Um projeto maquiavelicamente simples, de ocupar esses espaços para aprisionar, acorrentar a cultura em seguida.
Temos que estar atentos. Em "Ainda estou aqui" Fernanda Montenegro tem uma apresentação maravilhosa e de poucos minutos, sem pronunciar uma só palavra. Seu silêncio diz tudo. A mim, por exemplo, disse também que essa raça de canalhas derrotada no passado pode ser vencida novamente agora, da mesma forma, por convencimento, depois de seus inocentes uteis irem aos poucos descobrindo uma coisa muito simples:
- Nós ainda estamos aqui!
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