19 de outubro de 2007

Um Rolex roubado


Faz mais de 40 anos que isso aconteceu. Meu pai era dono de uma pequena fundição de alumínio em São Paulo, onde produzia peças para o motor do automóvel Simca. Houve um problema qualquer que ele precisava solucionar colocando a mão na massa e, para não sujar o relógio Rolex de que tanto gostava, tirou-o do pulso e o colocou sobre uma bancada. Nunca mais viu a peça.
Os policiais chegaram a sugerir a ele deixar que os deixasse dar "uma apertada" nos empregados da Termo Flux, a empresa de então, mas papai disse não. Quem iria depois garantir a segurança dele nas idas e vindas ao trabalho? E tortura, mesmo naquela época, início dos anos 60, não era coisa com a qual se convivesse dormindo em paz todas as noites.
Até hoje, passados tantos anos, às vezes a lembrança do relógio vem à mente dele. E ele fala com tristeza do que aconteceu num dia de trabalho. Foi roubado por um de seus empregados, dentro da fundição onde ganhava dinheiro para sustentar a família e pagar salários.
Luciano Huck também tem o direito de ficar revoltado. Eu teria, você teria.
Ninguém tem o direito de tomar de mim o que conquistei trabalhando, com dinheiro ganho e não roubado. Ladrão não é Robim Hood e não se faz justiçaz social às avessas, protegendo quem rouba e condenando "as elites", como diz nosso presidente, sem explicar direito o conceito.
Se um dia construirmos uma sociedade digna, vamos nos indignar todos quando formos roubados. Mesmo os excluídos e "excluídos" de hoje.

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