16 de abril de 2010

Construções de si mesmos


O governo Lula elogia os Estados Unidos mas não o afaga. Age como a cobra, que morde e assopra. Cercado por antigos militantes de partidos clandestinos, o presidente apoia regimes como o de Cuba, Coréia do Norte, Irã, Venezuela, Bolívia e outros. Mas elogia o livre investimento, defende a economia de mercado e o capitalismo "não selvagem", seja lá isso o que for e o que o leitor puder entender.
Não se trata de um governo pragmático, como pode parecer à primeira vista. É um governo aproveitador mesmo. Inculto, arrogante e debochado. E, juro, não estou sendo preconceituoso.
Em época de eleições, o presidente não pode se afastar de seu sustentáculo gerencial. E por isso mantém apoio a regimes políticos considerados hoje como fora de moda. Mas também deve evitar ao máximo contrariar princípios e crenças da esmagadora maioria da classe média - as classes pobres não entendem nada disso - e, assim, deve louvar a cada momento a propriedade privada e o sagrado direito de ir a vir.
Seriam contradições de um governo sem carteira de identidade político-ideológica? Não, claro que não. Isso é a essência de presidente que se sustenta no PT, partido que não é partido, que aglutina todas as correntes existentes de (pseudo)esquerda e, desde 2003, renunciou à ética em nome da contituidade no poder. Se possível, em nome da perpetuação do poder.
O ministro Carlos Ayres Brito, ao multar o presidente, disse com sapiência e propriedade que os chefes de Executivos não são eleitos para fazer seus sucessores. Eles são eleitos para governar, para colocar em prática um projeto de governo. Essa é a essência da democracia representativa, que exige alternância de poder. De homens e de ideias.
Mas como explicar isso a Lula? Se falta ao atual governo sobretudo um norte definido e uma ética consagrada, tudo é possível. Dele espera-se qualquer coisa.
E, esperamos nós, quem sabe essa tal democracia representativa seja capaz de sobreviver a ele. E a outros que não governam para governar, mas sim para se perpetuar no poder, até mesmo se for necessário que isso se faça através de outros. De construções de si mesmos.
Em síntese, um governo pode ser o que quiser. De esquerda, de centro ou de direita. Contanto tenha estofo para tanto e apoio popular para se sustentar onde está. O que ele não pode ser é aético e de vocação continuísta. E disso estamos cheios.

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