7 de abril de 2010

Os pais (e mães) das tragédias

Há algumas décadas, quando o Aeroclube do Espírito Santo foi construído em Barra do Jucu, Vila Velha, não havia nada em seu entorno, ao lado direito no sentido de Guarapari da Rodovia do Sol. Nos anos que se seguiram, incentivadas por políticos inescrupulosos, milhares de pessoas ocuparam uma região ao sul, onde hoje se situa um bairro miserável denominado Grande Terra Vermelha. Lá convivem, na miséria, quase absoluta ou não, os diversos tipos de marginalidade. Inclusive, é claro, o tráfico de drogas.
Assim como lá, as ocupações irregulares de terras públicas foram incentivadas, na Grande Vitória, a região metropolitana do Espírito Santo, várias ocupações irregulares em áreas de risco, sobretudo nas encostas de morros. E é nesses lugares que ocorrem as tragédias, sobretudo quando chuvas fora do normal atingem os grandes centros urbanos.
Foi isso o que aconteceu nesse início de abril de 2010 no Rio de Janeiro. A quase totalidade dos muitos mortos pelas tempestades foram vítimas de desmoronamentos de encostas. Eram miseráveis que lá, como aqui, construíram suas habitações em laterais de morros, incentivadas pela omissão ou pela corrupção de políticos inescrupulosos. Um crime que se origina em todos os níveis: vem desde a presidência da República até o poder público municipal.
É certo que chuvas torrenciais, o poder de escoamento de água das cidades não suporta. Não há galeria pluvial que aguente. É correto também afirmar que a falta de educação cívica do brasileiro - e aqui nesse ponto todos são igualmente culpados, desde o mais pobre ao mais rico - colabora com isso. Mas é inegável e irrefutável dizer que a classe política é o pai e a mãe dessas mazelas capazes de se repetirem sempre.
Enquanto o exercício do poder político, em todas as suas esferas, for entendido e exercido apenas como um meio de manutenção desse mesmo poder, custo o que custar, doa a quem doer, renuncie-se ao que for necessário renunciar, as consequências doerão mais nas vidas dos miseráveis. E os políticos, por conta da desinformação, da boa fé e ignorância da esmagadora maioria da população, sobreviverão graças a atos e acordos espúrios.
É sempre assim: sobrevive o mais forte. Ainda que não tenha ética, nem vergonha na cara.






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