6 de outubro de 2010

De Cacareco a Tiririca



Dos 130 milhões de eleitores brasileiros, 54% são analfabetos, analfabetos funcionais ou não terminaram o ensino fundamental. E a esmagadora maioria deles ama Lula e acha Tiririca o máximo. Daí porque este último obteve 1,3 milhão de votos na eleição de domingo como deputado federal pelo Estado de São Paulo.
Fosse o Judiciário brasileiro mais ágil, mais vigilante e sequer o registro da candidatura do palhaço seria aceita. Afinal, um membro do Poder Legislativo tem que saber ler, escrever e ter conhecimentos que permitam a ele exercer minimamente suas funções. Mas o palhaço está eleito e agora um processo de cassação de seu registro será algo constrangedor para ele que não escolheu sua falta de cultura formal. Só escolheu - ou escolheram por ele - usar um discurso errado, de deboche, para captar votos numa campanha política onde nada mais tinha a dizer.
Temos, portanto, qualquer coisa em torno de 71,5 milhões de eleitores situados entre aqueles que, como Tiririca, também não sabem o que faz um deputado federal. Ou um vereador. Ou um deputado estadual. Ou um senador. Ou um prefeito, um governador ou o presidente que eles idolatram. Aliás, no caso deste, sabem que conta piadas sobre futebol e paga Bolsa Família.
Por todos esses motivos, surpreendeu aos jornalistas do The Guardian, da Inglaterra, a eleição de nosso palhaço gaiato foi classificada por eles como deprimente ou coisa parecida. Mas não surpreendeu a nós, brasileiros. Lembro-me de que quando era criança e morava em São Paulo, os eleitores daquele Estado elegeram Cacareco vereador. Mas ele não tomou posse talvez principalmente por excesso de peso, como se pode ver pela foto ao lado.
É que Cacareco era um rinoceronte do Jardim Zoológico de São Paulo e recebeu imensa votação - naquela época escrita sobre cédulas de papel - como protesto contra a falta de seriedade política existente no Brasil. Estávamos na década de 1960. De lá para cá pouca coisa mudou no que tange a isso. O rinoceronte já morreu faz muitos anos e Tiririca hoje é o retrato não de um Brasil que protesta, mas do outro que não entende para que servem os parlamentares.
Um Brasil que se vê em Tiririca. Que se identifica com ele. E que cultua o seu presidente Lula até mesmo em altares nordestinos em frente aos quais o povo reza todos os dias, nas salas de casa, como se fosse ele um novo Padrinho Cícero Romão Batista versão século XXI. E isso pode ser visto em matérias jornalísticas sérias e focadas nas eleições de domingo, dia 03 de outubro de 2010. Cerca de 50 anos depois de Cacareco.
Isso o The Guardian não sabe ainda.

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