12 de janeiro de 2011

This is Cinerama


Quero me permitir um pouco de saudade.
Avatar, um sucesso absoluto em cinema 3D, atraiu a atenção de todos para esse recurso cinematográfico realmente fantástico. E muita gente pensa que a filmagem em terceira dimensão foi uma criação de James Cameron ou da equipe de filmagem desse seu grande sucesso. Que o 3D veio para ficar não resta dúvida. E que em breve as TVs e cinemas apresentarão esse recurso diuturnamente, também. Mas isso não é novidade, mesmo aqui no Brasil. Muito pelo contrário.
Em agosto de 1959, em São Paulo, foi inaugurado na Avenida São João, 1.462 (Bom Retiro) o Cine Comodoro (primeira foto à esquerda), em um evento que teve até transmissão ao vivo de rádio e televisão. Era um absurdo de conforto e modernidade para a época, com filas imensas de espectadores que aceitavam aguardar quatro, às vezes seis horas para poder entrar. Isso numa época em que ainda era permitido estacionar na São João, coisa absolutamente impensável nos dias de hoje. Na primeira foto à direita temos o interior do cinema. Alguns dos maiores sucessos do Comodoro eram filmes em 3D. O maior deles - talvez por ter sido o primeiro -, This is Cinerama (segunda foto à direita), transportava os cinéfilos para montanhas russas, aviões de guerra ou outros artifícios. Havia uma infinidade de gritos na sala de projeções quando o carrinho da montanha russa despencava de grande altura. Parecia que todos estávamos lá, no parque de diversões, descendo as rampas em grande velocidade. Eu pelo menos estava, criança ainda, saco de pipoca nas mãos, ao lado dos meus pais, curtindo aqueles momentos caros de ócio dos finais de semana e que as crianças costumam valorizar depois que não existem mais.
E era mesmo um parque de diversões. Cinerama não explorava histórias, como Avatar. Suspense, aventura, romance, terror, nada. Na época, os efeitos especiais, ainda pré-históricos, eram chamados de "truques". E o Cinerama era um dos mais bonitos truques criados pelo cinema de então. Cada filme era formado por vários assuntos ligados uns aos outros por cortes de cena e sempre explorando a impressão que o espectador tinha, de estar dentro da tela. Ou então de a tela ter invadido a sala de exibições. E isso graças a equipamentos - projetores - imensos, pesadões e que ocupavam praticamente toda a grande sala de projeções.
Logo ele caiu em desuso. E isso porque não contava histórias, não havia tramas, nada. Eram apenas diversões rápidas, que com o tempo cansaram. O Cine Comodoro fechou depois de algumas décadas. Mesmo passando filmes tradicionais, grandes sucessos (como Evita, mostrado na foto). O mundo de Cinerama ficou apenas na memória das milhares de pessoas que foram até aquele cinema se divertir.
Restou, da época, pelo menos em minha lembrança, o Filé do Morais. O restaurante próximo dali e para onde meu pai levou-nos para comermos o mignon mais gostoso que existia, uma ou duas vezes. E esse filé ainda existe. Continua sendo o mais gostoso, não do Brasil, mas talvez do mundo!
Agora o 3D volta. Adulto, tecnologicamente avançado, capaz de nos contar dessa forma, com esses recursos invadindo as salas de projeções, todas as histórias que o cinema pode mostrar. Para quem pensava que ele - o cinema - havia morrido, ou iria morrer, eis a prova em contrário.
As salas mudaram de endereço e de formato. Em Vitória mesmo, como em São Paulo, a maioria dos cinemas ficavam quase todos no Centro. No caso capixaba, Santa Cacília, São Luís, Paz, Juparanã, Vitorinha, Jandaia, tantos outros. Hoje eles estão nos shopping centers, ocupando áreas nobres, com luxo,conforto e o que mais se busca nos dias atuais: segurança.
A arte renasce a cada dia, a cada criação. Ou através de recriações, mas em todos os lugares. Assim ela é feita. Ela é a essência do gênio humano e esse não se basta!

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