16 de fevereiro de 2011

Os pobres nos seus catres


Fiz questão de usar a calculadora para que essa conta saísse exata: um brasileiro que ganha salário mínimo (de R$ 545,00) precisa trabalhar 49,03326605504587 meses para botar no bolso os R$ 26.723,13 mensais percebidos por um deputado federal. E eles ganham isso, afora os penduricalhos do cargo, que vão de auxílio moradia a polpudas verbas de gabinete, passando por outros. E são estes, os deputados, quem decide quanto vão ganhar aqueles, os trabalhadores que ganham salário mínimo, todos os anos. E decidem quanto eles vão ganhar também, como fizeram no final do ano passado, concedendo a si próprios quase cem por cento de aumento em seus subsídios. Um escárnio, um atentado ao pudor político!
Nos últimos dias, acompanhamos as discussões acerca do salário mínino. Quando se tratou de decidir os vencimentos dos senadores e deputados, foi fácil o Congresso Nacional chegar a um veredito: rápido e rasteiro, bem tarde da noite, o aumento foi auto-concedido. Mas decidir quanto vão receber os pobres diabos envolveu até mesmo discussões sobre cargos de primeiro e segundo escalão do Governo, além de liberação de verbas parlamentares. Existem prostitutas que se recusam a chegar a um patamar tão baixo em suas atividades.
O Ministro da Fazenda certamente poderá continuar a desfilar uma longa lista de justificativas e ameaças para o mínimo continuar bem pequeno e, de agora em diante, fora da apreciação do Parlamento. Mas ele sabe, e os deputados e senadores também, que se as vantagens dos políticos e apaniguados do Governo fossem menores, se não houvesse o inchaço demagógico da máquina pública e se todos emprestassem honestidade às suas funções isso seria suficiente para reduzir ao máximo a extrema desigualdade brasileira. A presidente Dilma Roussef também sabe disso.
Quer acompanhar a evolução do mínimo de 2000 até agora? Vai lá: 2000 - R$ 151,00; 2001 - R$ 180,00; 2002 - R$ 200,00; 2003 - 240,00; 2004 - 260,00; 2005 - R$ 300,00; 2006 - 350,00; 2007 - 380,00; 2008 - 415,00; 2009 - 465,00; 2010 - 510,00; 2011 - 545,00.
A propósito desse tema, um belo dia já faz um bom número de anos, um vereador pitoresco e simpático de Vitória (ES), fazendo discurso na Câmara municipal, disse hilariamente em alto e bom som, para defender um projeto de lei qualquer, pretensamente defensor dos sem (quase) nada: "Meus amigos, aqui no Brasil enquanto os ricos dormem em camas maravilhosas de colchões de molas, os pobres têm que se esticar nos catres de pau duro!".
E nem serve de consolo porque não é verdade. Infelizmente!

Um comentário:

Severino disse...

E isso aí gostei!