29 de outubro de 2012

Acordos evangélicos espúrios

Evangélicos na política: um risco para o Estado Laico e que cresce mais e mais
Ao contrário do que muita gente pensa, imagino que os resultados das eleições legislativas e municipalistas brasileiras não representam uma renovação ou oxigenação nos quadros partidários do País, embora gente jovem tenha sido eleita e o número de partidos participantes da política, aumentado. Ao contrário, trata-se basicamente do aprofundamento de um fenômeno que, se não for contido, poderá colocar em xeque o princípio do Estado Laico no Brasil. São as tais bancadas evangélicas e os acordos, muitos deles espúrios, feitos por candidatos com membros dessas correntes para garantir eleições e participação no poder.
Os evangélicos desconhecem que a vida em política é feita por acordos entre partidos. Eles desconhecem siglas e se unem em torno de algumas bandeiras, principalmente o torpedeamento de tudo o que se refira a casamento gay e à interrupção de gravidez. Até mesmo em casos de estupros, fetos anencéfalos e comprovado risco de vida para a paciente, na visão deles a gestação tem que ser levada forçosamente a cabo. Embora nesses casos a igreja católica os acompanhe, na visão dela não há um projeto de Estado envolvendo dogmas. Os evangélicos o têm e se um dia chegarem ao poder federal e com maioria congressista, planejam mudar a Constituição para adaptá-las às suas crenças. E danem-se aqueles que forem contrários ao Estado não laico.
o Brasil vive em paz religiosa justamente por causa disso. Dá a todos o direito de seguir suas crenças livremente ou não seguir nenhuma delas. Ainda assim isso parece ser pouco. Pretende-se acabar com o Estado sem religião oficial para formar um outro, religioso, marcadamente cristão num país que também tem budistas, muçulmanos, judeus e membros de outras confissões religiosas, além dos ateus e agnósticos. O que virá disso será o fim da paz religiosa neste País.
Vou citar apenas dois exemplos de como as coisas se dão: no Espírito Santo, a eleição de grandes bancadas evangélicas municipais já permite reuniões para a formação de grupos com objetivos comuns firmados. E não se trata de grupos partidários, mas sim religiosos. Já o prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende, mesmo sendo filiado ao PPS, uma agremiação oriunda do antigo PCB, o Partidão, foi quem venceu o acordo por adesão com os membros mais reacionários de correntes evangélicas. A bem da verdade, digo que esse acordo foi tentado também pelos demais candidados - Luiz Paulo, do PSDB e Iriny Lopes, do PT, já que os demais pouco importam - visando ao aumento na quantidade de minutos do horário eleitoral obrigatório do primeiro turno.
Algumas dessas vertentes ditas religiosas, mas não obrigatoriamente todas, vivem sobretudo e principalmente para enriquecer seus líderes graças às facilidades de se criar seitas no Brasil - vide exemplos dos roubos de dízimos e processos a que alguns deles respondem na Justiça do Brasil e dos Estados Unidos. Trata-se de uma facilidade que eles fazem avançar mais, dia após dias, graças a leis votadas no Legislativo sob o beneplácito do Estado e que promovem isenção fiscal e dão vantagens inimagináveis a essas seitas perante os outros segmentos da sociedade.
É insuportável! E todos nós vamos sofrer, no futuro, com as aberrações e os filhotes da demagogia política nascidos à sombra de discursos bem articulados e supostamente bem intencionados.            

Um comentário:

João Marcos T. Theodoro disse...

É por isso que você falou e por outros motivos que se deve usar a internet para atacar com fervor o pensamento religioso e seus instituições. Até a intransigência se faz bem-vinda contra essa ameaça apocalíptica.