22 de junho de 2013

A democracia sem partidos

Desde o início da crise institucional que levou milhões de pessoas às ruas do Brasil em protesto contra a deterioração das instituições maiores do País, questiona-se o fato de manifestantes estarem sendo alijados dos movimentos e passeatas, às vezes violentamente, por portarem bandeiras e outros símbolos de partidos políticos brasileiros. Uma democracia não se faz sem partidos, e isso é certo. Mas democracia alguma se faz com partidos prostituídos como os existentes hoje no Brasil.
Antes de criticar os manifestantes, antes de considerar antidemocráticas as manifestações dos que se dizem apartidários, é preciso avaliar o que têm sido nos últimos anos - digamos, décadas - os partidos políticos brasileiros que crescem em número ao mesmo tempo em que minguam em qualidade. Na maioria esmagadora dos casos, não passam de legendas de aluguel, feudos com donos municipais, estaduais e federais, instituições à venda por preço módico e com posições e votos a serem trocados por nomeações de primeiro, segundo e terceiro escalões tanto em municípios, quanto em estados, quanto na Federação.
Tenho lido artigos de pessoas pelas quais nutro grande e sincero respeito. Como, por exemplo, o jornalista Luiz Carlos Azedo, hoje em Brasília. E ele nos remete a figuras tétricas como as da ditadura hitlerista para ilustrar como são os estados sem partidos. E todos nós queremos um Brasil onde a democracia se sustente sobre instituições sólidas. E o Poder Legislativo, sobre partidos dignos.
Um partido precisa ter uma ideologia e filiados a ela ligados. Precisa de um código de conduta ética e de filiados com ele comprometidos. Precisa ter um programa municipal, estadual e nacional discutido e decidido em reuniões amplas e tornado princípio a ser seguido por todos como uma religião. Quantos partidos políticos brasileiros são assim hoje? Quantos, ao contrário, estão à disposição do Executivo para trocar votos por indicações políticas? Quantos sequer analisam os diversos pleitos vindos do Judiciário por que seus membros respondem a processos vários, na maioria dos casos por corrupção ativa e passiva?
Dou um exemplo meu: durante a vida toda fui filiado ao Partido Comunista Brasileiro, PCB ou Partidão. Na época dura da ditadura nos defendíamos ao abrigo da fiel legenda do MDB. Depois o PCB virou PPS. Agora, MD que uns dizem ser Mobilização Democrática e outros, Manipulação Democrática. Quando alguém me pergunta qual foi a mecânica que gerou essa troca de legendas, essa renúncia ideológica, esse samba do crioulo doido de programas e alianças nos mais diversos estados, o que respondo?
Se não sei eu, como o saberá o cidadão comum?
Sim, uma democracia se faz com um Poder Legislativo forte, atuante, fiscalizador do Executivo e gerador ou reformador de leis em atuação consonante com o Judiciário. E é isso o que não temos no Brasil de hoje. Por isso e somente por esse motivo os partidos foram expulsos das passeatas e hostilizados. Eles têm que ser mudados. A ampla reforma pela qual o Brasil precisa passar passa por eles também. Não apenas pela aposentadoria do lixo que os habita, mas também pela recuperação de sua forma e destino histórico.        

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