20 de fevereiro de 2013

O ecumenismo como caminho?

A igreja católica condena o uso de pílulas anticoncepcionais ou quaisquer outros meios contraceptivos, como o DIO. A esmagadora maioria das católicas em idade fértil os usam. Ela também combate o uso de camisinha. A maioria dos católicos que fazem sexo casual a utilizam. A igreja, da mesma forma, abjura o aborto. Muitas católicas, por motivos diversos, o fazem. Nos casos de gravidez com anencefalia comprovada, gravidez motivada por estupro e gestação que comprovadamente coloca em risco a vida da mãe, há uma campanha nacional por sua total regulamentação. Interrompe a gravidez quem quiser agir assim. Uma imensa legião dos defensores dessas três hipóteses é composta por católicos.
No mundo as coisas se dão dessa forma: ou você se adapta aos fatos novos e consagrados pelas pessoas aceitando-os ou eles o atropelam.
Estão em discussão hoje, também, situações que não ocorriam num passado nem tão distante assim como no início da década de 1960, quando do Concílio Vaticano II. Como as pesquisas com células-tronco, por exemplo. E a inseminação artificial e o descarte de óvulos fertilizados. Isso são conquistas científicas que a cada dia mais fazem parte das vidas das pessoas. Elas, essas pessoas, vão tomar posição a respeito, caso ainda não o tenham feito, independente da orientação da Igreja. Estou citando apenas alguns fatos. Como a igreja católica vive hoje sua maior crise dos tempos modernos, vai ter que pensar nisso. Rever conceitos e dogmas. Além e juntamente com a crise ética, moral e de princípios de honestidade que, ao que tudo indica, motivaram a renúncia de Bento XVI. No dia 21 último, o porta-voz da Santa Sé confirmou que em dezembro o papa recebeu de cardeais aliados um relatório de 300 páginas denunciando corrupção e homosexualismo na cúpula da igreja. É o fim da picada!
Na Europa, a sangria de fieis é tão grande que o total de católicos, que era de 38,5% em 2000, hoje é de apenas 23,7%. Uma queda gigantesca em 12 anos! No Brasil, não havia ateus e agnósticos em 1890. Hoje eles são 8%. Mas o pior para a igreja católica é que ela tinha 99,7% dos fieis brasileiros em 1870, depois 89,89% em 1980 quando os evangélicos começaram a "incomodar" com o percentual de 6,6%. Hoje, o catolicismo abarca 64,6% da população e as diversas correntes evangélicas, 22,2%. A sangria cresce...
No artigo anterior a este, falava eu da encruzilhada católica. Para muitos, e não sou expert nisso, o renascer dessa religião passa pelo ecumenismo representado pelo desenho infantil que ilustra o texto e pela aceitação da maioria das mudanças no mundo moderno. Ou ao menos de parte delas. Será? O problema é que o cardinalato, formado por pouco menos de 120 eleitores, hoje é composto basicamente por conservadores nomeados por João Paulo II ou Bento XVI. E a maioria de europeus, sobretudo italianos.  A chamada "Igreja Progressista" foi eliminada como corrente religiosa. Embora o presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno tenha dito que a reforma necessária à sua fé passa por uma adaptação do catolicismo aos tempos modernos, não se sabe o que ele entende por isso. Se entender como pouca coisa, estará incorrendo em erro.
Resta aguardar. Para os "donos" das denominações evangélicas chamadas neopentecostais onde só o enriquecimento e a exploração da inocência das pessoas interessa, a expectativa é pelo sepultamento da fé católica. Para os interessados em que o cristianismo siga seu caminho com a honestidade das religiões tradicionais e milhões de fieis, a torcida é pelo inverso.              

12 de fevereiro de 2013

A encruzilhada católica

Ratzinger anuncia no Vaticano que vai deixar de ser Bento XVI em breve
A renúncia do papa Bento XVI, o ex-cardeal alemão Ratzinger, longe de ser um mal para os crentes do mundo todo, pode se tornar um bem, sobretudo para a Igreja Católica, representada por ele. Essa religião precisa urgentemente se fortalecer, deter a sangria de fieis identificada já faz muitos anos, e isso não pode ser feito com uma imagem política conservadora, fechada dentro de si mesma, como numa fortaleza medieval.
E por que deixar essa identidade visceralmente conservadora é hoje necessário? No caso brasileiro, para deter ou diminuir o ritmo de crescimento de seitas chamadas oficialmente de "confissões neo-pentecostais" ou simplesmente "evangélicas". Diferentemente das religiões Católica e protestantes tradicionais e seculares, nascidas quando da Reforma, como Luterana, Batista, Anglicana, Pentecostal e outras, a quase totalidade das mais recentes não passam de grandes negócios escusos. Multinacionais por sinal. Ou têm seus líderes (ou seriam seus donos?) envolvidos em escândalos ou já os tiveram. Provavelmente terão. Agem como franquias, abrindo templos que visam especificamente o lucro. E enriquecem mesmo. Seus donos são multimilionários e dividem lucros. Dividendos.
O Brasil já assistiu a vários episódios de envio irregular de dinheiro amealhado por essas seitas para o exterior, bem como escândalos de desvio de dízimos. Um líder de uma congregação pediu em televisão para que os fieis passassem a pagar seus dízimos via autorização de desconto bancário, para que "o diabo não faça você se esquecer". Mesmo assim, o governo brasileiro cometeu a leviandade de dar passaporte diplomático a um "apóstolo". É assim mesmo que eles se intitulam: apóstolos. Esse passaporte, da mesma forma que os demais, vai ser usado para tirar dinheiro ilegalmente do País e levá-lo para o Exterior.
Mais do que isso: essas seitas têm um projeto de Estado. Querem conquistar o poder para moldar o Brasil à sua vontade, desconhecendo o fato de sermos um Estado laico. E esse país sem religião oficial comete outra leviandade: permite que as seitas aluguem espaço de televisão, uma concessão de serviço público, para transmitir suas pregações e conquistar mais incautos. Isso é fácil, porque além de termos no nosso solo milhões de pessoas religiosamente inocentes, nenhuma dessas seitas paga impostos.
As religiões tradicionais podem deter esse movimento, pura e simplesmente conquistando novos fieis, reconquistando muitos dos que foram perdidos e não perdendo mais os que têm, embora eu não creia que os protestantes tenham interesse nisso.. O maior poder nesse sentido vem do catolicismo, que agora precisa atentar para os novos tempos. Moldar-se a eles. E não existe ocasião mais propícia à escolha de um papa do Terceiro Mundo do que essa. Um pontífice oriundo de um país africano, centro-americano ou de outra região pobre do mundo teria uma visão diametralmente oposta à de um europeu, por exemplo, no que tange à miséria, ao colonialismo, às práticas ditatoriais e outras.
Dom Elder abraça um pobre em sua igreja. Ele sequer tinha o direito de falar
Nas últimas décadas, a chamada Teologia da Libertação foi combatida porque era comum dizer que ela seria uma intromissão da igreja na política, no Estado. Mas o que fez João Paulo II ao combater o comunismo na sua Polônia e em outros países do mundo, inclusive na então União Soviética? Aqui, a Opção Preferencial pelos Pobres lutou contra a ditadura. Ela era uma opção ruim somente porque essa ditadura era de direita? Matava tanto ou mais que as demais.
Sacerdotes como Dom Elder Câmara, de Pernambuco, foram alijados de decisões maiores da igreja, jamais chegaram ao cardinalato e terminaram proibidos de falar pela ditadura militar brasileira porque a combatiam. Dom Paulo Evaristo Harns (este, cardeal) e Dom Pedro Casaldaliga sofreram perseguições sérias. E ameaças. Eram e são exemplos de dignidade, de sabedoria e de respeito às suas crenças e aos valores dos próximos.
A Igreja Católica está numa encruzilhada. E pode surgir em breve, caso queira, como uma instituição reformadora, conquistadora de fieis, lúcida, moderna e com espaço maior para a atuação das mulheres (coisa que as outras também não fazem). Mas é preciso acordar para os tempos modernos. O papa que renunciou disse que as mudanças hoje acontecem muito rapidamente. É verdade, e ele teve a lucidez de identificá-la, da mesma forma como sabia e sabe ser incapaz de se adaptar a ela. Se for sucedido por um reformista com visão de futuro, o Trono de São Pedro será pequeno para tantos fieis.
Quem diz isso, assinando esse blog, é um agnóstico oriundo de uma família de forte vocação religiosa. e com raízes fincadas, firmes como as toras, no catolicismo.                         

9 de fevereiro de 2013

O mundo de Mônica Veloso

Desinibida, Mônica Veloso curte os louros da fama. E engorda conta bancária
Há uma regra que quase todo mundo segue para determinar se um fato é notícia ou não. Trata-se do seguinte: se você é um homem público (alguns também são notórios) e tem uma amante, isso não é notícia. Mas se você é um homem público, tem uma amante e isso gera um escândalo ou desvia dinheiro de impostos de alguma forma, direta ou indireta, isso é notícia. E daquelas que fazem com que, no Brasil, o termo "homem público" seja muitas vezes confundido ou comparado com "mulher pública".
O presidente do Senado, Renan Calheiros, ou não conhecia ou fez vista grossa a essa norma informal quando transou com o jornalista Mônica Veloso, engravidou-a, deixou que sua esposa descobrisse (veio aí o escândalo) e depois pagou a pensão de alimentos da filha que tiveram com dinheiro de uma empreiteira. Essa, ganhou como prêmio a "concorrência" de obra pública mais descarada dos últimos tempos (veio aí o uso indireto de dinheiro de nossos impostos para assuntos pessoais. O outro escândalo).
Renan , o senador que se apaixonou (?) por essa desinibida jornalista aí da foto, que também aproveitou para ganhar dinheiro da revista Playboy, precisou renunciar à presidência do Senado mas voltou agora. Além de a memória dos brasileiros ser curta, à classe política pouco interessa esse negócio de ética. Essa separação entre assunto público e privado. Tudo é deles. Afinal, não adianta abaixo assinado, protesto em praça de Brasília, nada. Eles não ligam. E a presidente(a) também não.
Uma jornalista séria um dia desses definiu na Globo News como são os políticos: insaciáveis. E não sei, sinceramente, se mulher é mais atraente para eles do que desvio de dinheiro. Ou os dois empatam  ou eles preferem o segundo item, pois com ele é possível comprar o primeiro. Isso serve sobretudo e principalmente ao PMDB, que do MDB da resistência à ditadura entre 1964 e 1985, tornou-se uma prostituta do poder, atualmente capaz de abrigar qualquer figura em sua sigla e ter um cacique em cada Estado.
Mônica Veloso não é santa, está longe disso, mas apenas fez o jogo do poder. Para alguns, participar do Parlamento do Brasil hoje em dia significa desviar dinheiro dos impostos do cidadão para suas contas bancárias, de empresas ou para as de laranjas. Para outras, cair numa boa cantada e abrir as pernas escondido de todo mundo tem o mesmo efeito. Quando ninguém descobre.
E esse é o Brasil que nenhum de nós merece. Nenhum de nós com vergonha na cara. Mas, infelizmente, é o mundo de Mônica Veloso, Renan Calheiros e mais uma carrada de outros desqualificados, tanto de Brasília quanto de qualquer Estado.            

3 de fevereiro de 2013

A demagogia do "problema social"

Flanelinha atua no Centro de Vitória, perto à região do Porto. Impunemente!
Ao ser eleito para governar Vitória, o prefeito Luciano Rezende deu uma entrevista à TV Gazeta, respondendo a perguntas de telespectadores. Um deles questionou o que seria feito com as gangs de flanelinhas que infestam a cidade. Ele disse que o fenômeno existe faz anos,  nunca ninguém o combateu e se trata de um "problema social". Em síntese, demagogicamente revelou o que todos sabemos: não pretende fazer coisa alguma.
E isso se confirmou. Depois de empossado, houve uma denúncia de extorsão praticada por flanelinhas contra um morador da cidade que havia estacionado o carro na área central. Uma pergunta foi encaminhada à PMV, perguntando o que seria feito, e a "assessoria" respondeu que não existe lei alguma considerando a prática como ilegal. Se o cidadão se sentir ameaçado, deve se dirigir à Polícia e pedir providências.
Maravilhoso! Vitória começou a mudar! Para pior!
As quadrilhas de flanelinhas infestam toda a cidade. No Centro já fui abordado por vários deles pedindo dinheiro "para o vagabundo não riscar o carro do senhor, doutor!". E a abordagem se dá entre o Palácio Anchieta e o Fórum. Entre sedes dos poderes Executivo e Judiciário. Uma amiga que precisou parar às pressas para ver um parente que estava internado em estado grave no Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do ES, ao voltar teve o carro cercado. Ou dava ao flanelinha o dinheiro de seu "serviço" ou não saia. Mulheres são coagidas dessa forma. No caso de homens, o sujeito até pode ir embora sem ser agredido fisicamente. Mas que não volte. Se voltar vai encontrar seu veículo destruído porque a placa terá sido anotada e distribuída para todas as gangs.
Por sinal, na legislatura passada um vereador votou a provou lei considerando crime essa prática. O então prefeito, João Coser, vetou. Por isso não existe lei: o Executivo barra todas as tentativas de combate a esse tipo de crime mal organizado, mas mesmo assim organizado.   
Se um dia a Polícia reunir o grosso de seu efetivo e fizer uma limpeza na cidade, levando todos os flanelinhas ou os que puderem ser detidos, para uma triagem numa delegacia, a metade não volta às ruas. Uma boa parte deles respondem a processo, seja lá por que delito for. A metade, ou mais, comete ou cometeu crimes. E podem ser até mesmo crimes bem graves!
Não, senhor prefeito. Não se trata de um problema social. É  um problema criminal! E dos grandes. Sua demagogia, sua omissão, seu cinismo e seu bom-mocismo de araque não conseguem esconder essa verdade que salta aos olhos de todo mundo, todos os dias em todos os bairros.
A questão dos flanelinhas tem que ser enfrentada. De peito aberto, como os verdadeiros homens enfrentam os problemas ou definem suas posições. O fato de outros não terem tomado providências no passado não justifica a omissão covarde de agora. E faça uma coisa, caso o senhor não acredite nos cidadãos dessa cidade: mande que uma pessoa de suas relações pare o carro ao lado da Prefeitura. E diga e ele que não pague os flanelinhas que infestam o lugar, debaixo da janela de sua sala de trabalho.
O senhor vai ser o que acontecerá ao carro dele.