8 de setembro de 2015

Antes que surjam outros Aylans

Imagens mudam o mundo; sempre mudaram. A foto de uma garotinha vietnamita sendo queimada por bomba de napalm em 1972 forçou o fim da Guerra do Vietnam. Os cadáveres de palestinos massacrados nos campos de refugiados de Sabra e Chatila em 1982 sepultaram a fama imerecida de humanistas dos israelenses (ver artigo anterior a este). Agora, Aylan Kurdi, um menininho de três anos que apareceu morto em uma praia da Turquia pode fazer com que os governantes e até mesmo a ONU se voltem para o drama dos refugiados da Síria e de outros países em conflito ou miseráveis daquelas regiões. Do norte da África ao Oriente Médio, Balcãs e regiões mediterrâneas, além de orientais.
Todos parecem que se movimentam enquanto artistas pintam a tragédia de Aylan de todas as formas. Tentam mostrar respeito pela criança e, ao mesmo tempo, incitar aqueles que decidem a intervir no maior êxodo humano de depois da II Guera Mundial. Mas de modo responsável.
É preciso fazer isso.
Melhor seria se o esforço fosse dispendido sob orientação ou coordenação da ONU, de modo a que os países capazes de colaborar e dispostos a fazer isso tivessem sua responsabilidade medida pela capacidade de ajudar. Sim, todos devem ajudar menos Israel, quer quer ver os Aylans do mundo dividido no fundo do Mar Mediterrâneo. Mas devemos ajudar dentro de nossas possibilidades. Portugal, por exemplo, não tem a capacidade de absorver os mesmos esforços que a Alemanha e a Grã-Bretanha.
As imagens de Aylan morto despertaram nas pessoas o sentimento de que o drama daquela gente é um drama da raça humana. Deve ser compartilhada por todos aqueles que fazem parte dessa raça.
E uma coordenação responsável é necessária porque nessas horas surgem aqueles que desejam minorar o sofrimento alheio, da mesma forma que os demais, minoria creio, mas dispostos a tirar proveito da situação de forma pessoal ou corporativa.
O Brasil está recebendo refugiados sobretudo da Síria e isso é necessário. Necessário também se torna medirmos nossa capacidade de ajudar: num momento de crise como o que vivemos, quantas pessoas podemos receber sem agravar ainda mais a crítica situação econômica interna? Precisamos medir isso antes que algum irresponsável proponha a criação do projeto Meu Refugiado Minha Vida para tirar proveito da desgraça alheia em benefício próprio.
Por último, essas medidas são urgentes. Outros Aylan vão dar à praia em breve.




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