27 de julho de 2017

Nosso câncer político

A impressão que o "leigo" tem é a de que o político brasileiro faz um curso superior de desonestidade ao assumir seu mandato. Ele estuda muito ao decidir ser candidato, intensifica o "curso" durante a campanha, escolhe a quadrilha - ou partido, se preferirem - ao longo desse tempo e, quando assume o cargo, finalmente está apto para "seguir carreira". Melhor de tudo, já sabe como usar meios e modos de enriquecer, sobretudo com as emendas parlamentares.
Elas são se tal forma essenciais à atividade do indivíduo que, recentemente, quando houve um movimento pela extinção dessa figura jurídica, o Poder Legislativo rapidamente fez lei tornando impositivo o pagamento das ditas emendas. Ou seja, o Poder Executivo, que tem participação em praticamente todas as falcatruas contra o dinheiro público, é obrigado a destinar verba a vereadores, deputados e senadores mesmo que o chefe do Executivo não queira.
O valor varia. Mas é sempre grande, sobretudo no âmbito federal. Por princípio, o dinheiro dessas emendas deveria ser usado para que o parlamentar fizesse obras de real interesse público em seus redutos - currais - eleitorais. Mas o real interesse público é o que menos se olha. Geralmente uma parte desse dinheiro vai para o bolso do parlamentar das mais diversas formas. Todas desonestas.
Foi com dinheiro das emendas parlamentares que o presidente Michel Temer comprou os votos de que necessitava para evitar que a denúncia de corrupção contra sua pessoa fosse enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). E ele vai continuar distribuindo o meu, o seu, o nosso dinheiro aos deputados federais e senadores até conquistar seu intento.
Não o levam à cruz! Ao menos não o levem sozinho. Lula fez isso de maneira rasgada durante todos os seus dois mandatos, a começar pelo episódio do Mensalão, e Dilma Roussef também. Antes deles, outros presidentes fizeram o mesmo. Os menos honestos, à socapa e os mais honestos, de forma discreta. Mas não fazer de forma alguma, não. Todos fizeram.
Esse talvez seja um dos problemas que estão na raiz da corrupção política do Brasil e explica em parte por que é tão difícil combater essa chaga. A distribuição de cargos "de porteira fechada" é outro motivo e talvez quase tão forte quanto o primeiro. Também mostra que a principal quadrilha de crime organizado do Brasil tem mandato, costas largas e ainda nem um pouquinho de medo da Lava Jato.
Vai demorar até que curemos esse nosso câncer.        

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