21 de fevereiro de 2019

Terá ele "aquilo roxo"?

Da mesma forma que eu, milhares de brasileiros ainda estão sem entender totalmente a reforma da Previdência enviada ontem ao Congresso Nacional pelo governo federal. A mim parece incontroverso que algum tipo de mudança precisa ser feita em nome da economia nacional. Mas sempre tenho um pé atrás quando ouço, vejo e leio informações sobre isso. Só dois exemplos: pagar um salário mínimo mensal a quem faz 70 anos e não tem como se sustentar é uma piada! Trabalhar 40 anos para obter aposentadoria integral é desumano!
Por que o projeto de Previdência dos militares não foi enviado juntamente com tudo o mais? Ainda são necessários mais 30 dias para essa remessa? Problema nenhum: o Congresso pode esperar mais um mês antes de começar a avaliar tudo. A medida enviada ao Congresso fala especificamente em cortes no Executivo e no Legislativo. Mas o Poder Judiciário não é citado. Ele faz parte do todo? Ótimo. Mas fica a dúvida da razão da omissão cometida.
O governo fez questão de dizer via presidente da República que as dívidas da Previdência serão todas cobradas. Elas ultrapassam os R$ 500 bilhões e muitas jamais serão recebidas porque os devedores não existem mais. Cito Varig e Mesbla como dois exemplos. E todos desapareceram sem pagar o que deviam porque o Estado Brasileiro sempre foi leniente. Eram grandes corporações, poderosas e não valia a pena mexer com elas. Além disso, sempre boas "doadoras" enquanto existiram.
E quanto às outras? Um movimento capitaneado pelo senador Paulo Paim toca nesse assunto via CPI. E conclui que não é necessário reformar a Previdência porque ela seria, na verdade, superavitária. Mas o senador deve à Previdência. Então seu argumento é letra morta.
Causa ânsia de vômito em mim falar sobre dívidas previdenciárias milionárias e, ao mesmo tempo, ver fotos do senador Fernando Collor de Mello no Senado. As Organizações Arnon de Mello são das maiores devedoras da Previdência. Até a Vale, que assassina brasileiros via suas barragens, deve uma fortuna. A justificativa é de que os fatos estão sendo discutidos na Justiça. E a gente sabe que no Brasil, tendo dinheiro, isso pode demorar gerações. A menos que o Estado compre a briga, lute abertamente, use seu poder para cobrar e pressione o Congresso no sentido de que leis sejam mudadas. Mas terá o atual presidente, Jair Bolsonaro, o mesmo "aquilo roxo" que Collor alardeia ter desde seu tempo de presidência? A conferir...
Finalmente, os penduricalhos do Executivo, Legislativo e principalmente Judiciário vão bem, obrigado! E todos nós sabemos como vai ser difícil tornar cada um deles fato passado. Afinal, até mesmo para deixar de receber "auxílio moradia" tendo onde morar o Judiciário lutou. E nós sabemos que todos continuarão a lutar para não abrir mão desses "direitos adquiridos". Repito a pergunta: o presidente atual tem "aquilo roxo"? Vai encarar mesmo? Consultará Carlinhos, Dudu e Flavinho antes? Seguirá acreditando que a imprensa - ou a Rede Globo - é sua maior inimiga e não o despreparo, o radicalismo político e o fisiologismo que marcam sua vida pública?
Tenho dúvidas.
Não bastará reformar a Previdência, mas será preciso ir além disso, além dela. Construir um País Justo vai ser bem mais difícil do que imaginamos hoje, no calor dos fatos.

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