15 de abril de 2019

As milícias estão chegando

Bairro do Rio de Janeiro cominado por milícia: construções irregulares
Não se iludam: o drama vivido pelo Rio de Janeiro, onde quadrilhas de milicianos dominam as áreas mais carentes do Estado impondo o reino do terror, está chegando ao Espírito Santo. Ainda não tem a proporção do Estado vizinho mas as intenções são as mesmas. E se as autoridades espírito-santense nada fizerem em breve estaremos no mesmo buraco. Um buraco profundo!
Como agem as milícias no Rio de Janeiro? Simples; vamos começar pelo mais óbvio: elas ocupam o espaço do Estado ausente. Onde ele não atua ela está presente. E como rios de dinheiro são movimentados nesses negócios escusos por essas quadrilhas, a cada dia que passa elas são mais fortes e agem vandalismo e "coragem" acima da lei. Já o Estado não deixa de agir porque não tem meios nem modos. Deixa por omissão. Mais do que isso; por omissão criminosa.
Miliciano mostra o seu porrete: "Direitos Humanos"
Na Muzema, onde dois prédios desabaram matando muita gente, o poder das milícias é igual ao de outras comunidades. Eles invadem terrenos, áreas de proteção ambiental e outros e começam a construir prédios de apartamentos. Dominam totalmente o comércio de material de construção nas regiões onde atuam e controlam venda de gás, sinal de internet, etc., além de outros serviços básicos. Os compradores dos apartamentos - ou casas e pontos comerciais, se houver - não têm garantia alguma. Pagam pouco porque os custos são baixos e esse é o atrativo maior mas se não pagarem o que devem são expulsos sumariamente. E depois de terminarem de pagar, se não se submeterem às cobranças de proteção que virão, igualmente terminam na rua depois de terem seus imóveis invadidos. E não há a quem recorrer pois o Estado novamente se omite.
As construções irregulares não têm projeto de engenharia, acompanhamento técnico, nada. Os materiais são de péssima qualidade e as estruturas, deficientes. Os desmoronamentos no Rio de Janeiro mostram isso. Os edifícios foram corroídos por infiltrações de água e lama que desceram das encostas atrás deles durante tempestade, pois ali não era possível construir com segurança.
Isso dá muito dinheiro, é claro. Um chefe de milícia era vizinho do presidente da República no  condomínio de luxo onde ambos viviam na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Mas o chefe do Executivo, claro, não sabia de nada. Ele e os filhos dele, um vereador, um deputado estadual e um senador empregavam em seus gabinetes legislativos parentes e amigos de chefes milicianos até recentemente. Mas todos foram demitidos após denúncias porque antes eles também nada sabiam.
O prefeito nada fez. Está preocupado com sua religião evangélica. E o presidente? Nada diz. Libera caça a animais silvestres, tenta proibir radares em rodovias, a queima de máquinas e equipamentos de desmatadores e garimpeiros de regiões de proteção ambiental permanente e outras coisinhas mais. Claro, não sobra tempo para combater o crime organizado, esse pequeno detalhe. 

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