29 de julho de 2019

O desqualificado do Planalto

"Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele".
A declaração acima parece ter sido dada por um desqualificado qualquer, desafeto do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (na foto, à direita, abraçado ao ex-presidente Cláudio Lamachia). Mas não; foi dada pelo desqualificado que hoje ocupa a presidência da República, Jair Messias Bolsonaro, inconformado que está porque a OAB, cumprindo normais constitucionais, impediu que a Polícia Federal quebrasse o sigilo telefônico de um dos advogados do réu Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra ele.
Parece piada de mau gosto. Hoje mesmo, depois de vomitar palavras  mais uma vez em entrevista e tentando atingir Santa Cruz, o presidente ainda referiu-se com desprezo contra os índios que, no ver dele, preferem ficar em seus zoológicos a se inserir na "civilização".
Jair Bolsonaro, o presidente autor do ataque, não respeita nada nem ninguém. O pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, desapareceu e foi assassinado aos 26 anos de idade pelo aparelho repressivo da ditadura militar brasileira. Até hoje não se sabe o destino do corpo, jamais devolvido aos familiares depois do suplício pelo qual passou. Ele fazia parte de um grupo político clandestino e que lutava contra os ditadores de plantão. Foi preso e assassinado no Rio de Janeiro.
O presidente diz conhecer o destino do morto por "vivência". Deve ser verdade. Um dos ídolos dele, Carlos Alberto Brilhante Ustra, já morto, foi oficial do Exército brasileiro e identificado como assassino e torturador já há muitos anos. Como ele, diversos outros terminaram desmascarados depois do final da ditadura. Bolsonaro os considera a todos como seus ídolos. Ele preserva essas tristes memórias que impedem que centenas de famílias tenham paz. Para ele a tortura e o assassinato de adversários e inimigos políticos deveriam ser instituições nacionais intocáveis.
O exercício de um cargo como a Presidência da República exige de seu ocupante ao menos compostura. Se possível, pudor. Nada disso o indivíduo eleito para ocupar o Palácio do Planalto em fins do ano passado tem. Nem tenta ter. Em diversas ocasiões era visível o desconforto de seu entorno nos momentos em que ele dava entrevistas desrespeitosas, agressivas, incapazes de honrar a posição ocupada. Ou então falando besteiras e dando risadas que chegam a parecer latidos de hienas.
O presidente do Brasil é uma tragédia. Pior de tudo é percebermos que os filhos, vozes atuantes quase todos os dias, talvez sejam ainda piores do que ele. Estamos no mato sem cachorro.   

Nenhum comentário: