2 de agosto de 2019

A lei da selva nos jornais

Tenho um amigo contador, dono de empresa de contabilidade e "ex-assinante" de A Gazeta. Hoje eu me encontrei com ele e ouvi: "Álvaro, quando eu vi o balanço de AG do ano passado fiquei impressionado. A empresa estava com patrimônio líquido negativo. Quebrada. Publicou o balanço porque isso é exigência legal, mas creio que a família dona do negócio o estava sustentando".
Eu, que conheço aquela história há muito tempo, também tinha conhecimento  disso. E os jornalistas que trabalham na empresa em cargos de chefia, embora não avisados com antecedência do que iria acontecer, já sabiam que as coisas iam de mal a pior e poderiam mudar. No caso da Rede Gazeta isso era inevitável. O "desenlace" acabou chegando mais cedo do que se imaginava. Do que eu imaginava, pelo menos.
O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo, Zero Hora e outros jornais - ficaria difícil fazer uma listagem agora - são dirigidos por gerações de famílias de jornalistas. Eles conhecem seus negócios e sabem como tocar o barco. Outras grandes, médias e até algumas pequenas empresas são administradas não por jornalistas mas por administradores de empresas profissionais. Daqueles que recebem a incumbência com carta branca para agir e ganham, além do salário, mais um adicional pelo lucro líquido obtido. A empresa lucra. E se mantém, mesmo em mercado adverso.
No mundo capitalista as coisas funcionam dessa forma. Há um movimento de pêndulo na vida e no formato dos negócios e todos, sem exceção, tendem a passar por situações de bonança e de dificuldades. Mudanças são inevitáveis e só os competentes sobrevivem. Como na lei da selva, onde até mesmo a reprodução preserva os mais fortes e sacrifica os mais fracos.
O capitalismo é a reprodução da lei da selva no mundo dos negócios!
No jornalismo, o fechamento de um jornal diário tradicional é péssimo, sobretudo, quando somente um outro sobrevive na praça. Por mais que a gente queira dizer que o mundo agora é digital, olhar notícias pela tela de um computador, celular ou o que quer que seja é muito diferente de ter uma publicação em mãos. A nova geração talvez discorde, mas ela não tem ainda a força de ser formadora de opinião como as anteriores. Um jornal de internet está longe de ser, hoje, o que é a TV. Afinal, esta está formando opiniões só no Brasil há cerca de 70 anos. É um bom tempo.
Terminei minha conversa com meu amigo contador às gargalhadas. Ele me disse: "E agora, depois de 30 de setembro o que eu vou fazer com o cocô do Mike?". O cachorrinho da família, afinal, era o destinatário do jornal diário já lido. Recomendei a ele assinar o concorrente!
Mas insisto: existe em Vitória, Vila Velha, etc, espaço para um jornal diário de âmbito estadual no Espírito Santo. Isso é saudável até mesmo para manter a democratização da informação.               

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