15 de abril de 2020

O genocida contido

Mandetta, o único "inimigo meu" de agora para Bolsonaro
O que o Supremo Tribunal Federal fez na tarde/noite desse dia 15 de abril não foi produzir mais uma derrota para o presidente Bolsonaro. Foi impedir a sua escalada em direção a uma política genocida - termo usado pelo ministro Gilmar Mendes -, capaz de deixar totalmente desprotegidos no Brasil os pobres e os índios, duas "raças" que ele detesta.
Infelizmente só por enquanto.
E quando digo "por enquanto" tenho em mente que tão logo o chefe do Executivo encontre uma forma de voltar ao ataque, seja com a ajuda da PGR, dos advogados que o assessoram mais diretamente ou até com o auxílio discreto do Procurador Geral da República, tentará novamente. Está umbilicalmente ligado aos setores empresariais rurais, industriais e comerciais e não vai se afastar destes. Da mesma forma continuará ao lado da ala endinheirada das congregações "evangélicas" e outros. É preciso entender: para essa mente psicopata tal comportamento é uma questão de sobrevivência. No cara a cara, no debate político ele não tem preparo nem moral nem intelectual para enfrentar as raposas da política brasileira. Perderia fácil.
Dou um exemplo de como as coisas funcionam: um diretor do Ibama que investiu contra o garimpo ilegal em terras indígenas foi imediatamente demitido de seu cargo. Se Bolsonaro não pode pura e simplesmente acabar com as reservas, que acabe com os índios, tanto garimpando suas terras quando destruindo suas matas. Não importa se é ilegal. É preciso que nada reste a eles como condição de sobrevivência. Essa é o que pode ser definido como a "política de Estado" do presidente.
É triste. Também é cruel termos que admitir não existir no Brasil de hoje uma oposição capaz de enfrentá-lo, ao menos por enquanto. Nossos lideres no centro e à esquerda ou estão cheios de processos ou acusações de natureza ética. Ou então ainda se amarram a conceitos que os tempos modernos não admitem. São saudosistas de termos como "ditadura do proletariado", tão ultrapassado quanto a ditadura que militares, caladinhos, ensaiam nos impor novamente se o caos social vier.
Enquanto o tempo passa, o COVID-19 se desvia do ainda ministro Mandetta e mata aos milhares ou milhões os paupérrimos. Estes se preparam para morrer, coitados, enquanto representantes do grande capital esfregam as mãos e esperam. Como lobos em tocaia. Sabem que esse Bozo precisa deles como um homem no deserto depende de água. Vão encher-lhe o embornal em troca na manutenção de todos os seus privilégios. Rigorosamente todos.
O momento é crítico porque hoje, como sempre, o brasileiro é presa fácil para todo tipo de demagogo, sobretudo por sua rasa instrução. E é aí que os apoiadores de Bolsonaro darão o golpe. Todos nós sabemos disso da mesma forma como sabemos que pouco mais de dois anos e meio é mísero tempo para ser montada uma perfeita tática de enfrentamento. Ainda, porque o caminho esbarra em ambições políticas pessoais, coisa tão difícil de tirar da frente quanto derrotar a ignorância.

2 comentários:

MT disse...

Concordo com quase todo o teor do texto. Só discordo de um ponto: nao creio que apoiadores de Bolsonsaro( esse, cada vez mais desgastado)tenham poderes para encetar golpe algum.

Álvaro José Silva disse...

Honestamente, espero que você tenha razão e não eu.