18 de abril de 2020

Teich, o SUS e Sofia

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tomou posse sem pronunciar a palavra SUS. Na véspera, ao ser apresentado pelo presidente da República, fez o mesmo. Falou de pandemia, de letalidade e falta de informações sobre o vírus, em não haver mudanças bruscas e de SUS, nada. Somente silêncio.
Ao lado do presidente, Teich (D) se apresenta como ministro
Aí foram futucar as falas passada dele. Descobriu-se uma relativamente recente e na qual discorre sobre o médico em época de escassez de recursos ter de escolher entre tratar um homem idoso e um jovem. E ele escolhe o segundo, por ter muito mais vida pela frente. O ministro nos remeteu a todos ao drama de Sofia Zawistowa, levada por um sargento nazista a escolher entre os dois filhos pequenos qual deveria viver, qual deveria morrer. Hitler, o ideólogo do sargento e de milhões de outros, também pensava que esse tipo de escolha servia para aprimorar a raça.
O SUS é um instrumento de suma importância para a saúde pública no Brasil, mas tem sido sempre, ao longo dos anos, tratado com pouco caso embora sendo a tábua de salvação dos pobres. Os investimentos para o setor são sempre menores do que as necessidades. E esse governo detesta tudo o que é público. Como as universidades federais e os institutos federais de ensino, por exemplo. Por isso o ministro da Educação trata o ensino público tão mal a ponto de pregar sua extinção. E é um ministro feito sob medida para o cargo: ignorante, mal educado, desconhecedor da língua pátria.
Talvez tudo seja coincidência, talvez não. Talvez eu esteja sendo injusto ao traçar esse quadro sem esperar pelos resultados do trabalho do novo ministro, quem sabe não. Mas pelo passado desse governo que ainda não completou 16 meses, seria prudente ter mais cuidado ao falar. A menos que por motivos a serem revelados ao longo de sua atuação, Teich não tenha como explicar agora.
A Escolha de Sofia representa um momento de profunda dor provocado pela falta de empatia de uma ideologia psicopata que torturava através de exemplos como o narrado na obra de Willian Styron. Um discurso que se aproxima dela deveria separar claramente tempos de paz de situações extremas de guerra. Porque fora disso o médico deve socorrer os dois. Tanto o jovem quanto o idoso.
Teich tem um currículo que confere a ele extrema competência no tratar com a medicina, mas também mostra uma trajetória burguesa e um pensamento voltado ao trabalho médico empresarial. O SUS, obviamente, sempre esteve fora de seu periscópio. Talvez nem o conheça. Mas segunda-feira ele começa efetivamente a mergulhar nas carências do ministério da Saúde e mostrar a que veio.
Pode ter vindo com o intuito de encontrar para a pasta soluções que contemplem a todos. Pode deixar claro ser um instrumento a serviço de um governo representante das elites econômicas. Cada um sabe como melhor homenagear ou rasgar seu passado. A escolha é pessoal.       

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