20 de dezembro de 2021

Viva Chile! Viva a Democracia!


Ontem à noite, enquanto era saudado por milhares de pessoas após ser eleito presidente do Chile aos 35 anos de idade, o ex-deputado descendente de croatas Gabriel Boric discursou agradecendo o esforço de seus correligionários e dizendo também ser grato àqueles que votaram em seu "contendor" pois todos haviam dito "sim" à democracia chilena. Antes disso o extremista de direita e admirador pinochesista José Antonio Kast, o derrotado, havia admitido ter perdido e cumprimentado o vencedor. Isso partido de um político com raízes paternais no nazismo é muito bom.

Vamos demorar um pouco para saber do que Boric é capaz, ainda jovem e à frente de um país em crise e que terá de ser governado sem maioria parlamentar. Mas o jovem de fala clara parece focado, parece disposto a negociar e a apostar no regime democrático que para os chilenos custou tanto sangue, suor e lágrimas num passado ainda não muito distante. O novo presidente não é membro do Partido Comunista Chileno, mas foi eleito com o apoio deste (foto de O Globo). Talvez por isso acredite tanto na democracia e queira apostar num "estado de bem estar social".

Explico: no Chile - como no Brasil - foram os comunistas os maiores construtores da democracia. Estudem um pouco a história mais recente! Depois dos golpes de estado que estupraram as constituições daqui e de lá - de outros países latino-americanos também! -, foi com o suor e o sangue das oposições onde pontificavam os comunistas que a normalidade democrática acabou sendo restabelecida. A democracia que temos hoje é fruto dos esforços desses que são os maiores, os verdadeiros patriotas. E não daqueles que pregaram e pregam as ditaduras, a intervenção sobre o Poder Judiciário e a dissolução pura e simples do Legislativo.

O tempo passa, as coisas mudam. Hoje conceitos como "ditadura do proletariado" estão relegados aos livros de história. Foram uteis às lutas iniciais, mas agora não são mais. Hoje o estado moderno é construído por todas as mãos disponíveis num país como o Chile de Boric. Porque nos tempos de Pinochet isso não seria possível. Naquela época o que contava era a capacidade de o detentor do poder esmagar seus opositores, tivessem eles quaisquer das cores ideológicas existentes.

Foi e é assim, por exemplo, com o indivíduo Bolsonaro. Ele faz de sua vida política uma luta sem quartel contra qualquer pessoa ou grupo que discorde dele. Não admite isso. Ao contrário de Kast, não cumprimentaria seu opositor e vencedor em uma eleição, como não pretende fazê-lo. Ao inverso de Boric, jamais teve a intenção de promover o "estado de bem estar social", pois nele não cabem o golpismo, o autoritarismo, o "milicianismo" e os acordos de grupos, familiares ou não. A ele e aos iguais a ele no mundo moderno, à esquerda ou à direita, está reservado o lixo de história.

Boric não haverá de nos decepcionar e servirá de modelo para nós do ano quem vem em diante. Torço por isso desde ontem à noite, quando fui dormir feliz da vida, leve, livre e solto.

Viva o Chile! Viva a Democracia!             

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