24 de outubro de 2022

Um país bizarro

De tudo o que aconteceu ontem envolvendo o cidadão Roberto Jefferson, a Polícia Federal e até mesmo um escondido ministro da Justiça, o que foi mais bizarro? Mais inacreditável? Mais inaceitável? De forma geral eu diria que o "conjunto da obra". Mas um fato se destaca e foi filmado, levado à TV e apresentado para todo o Brasil: um policial federal brasileiro sorridente e conversando com o preso na casa deste, debochando da colega ferida momentos antes por estilhaço de granada e perguntando ao marginal se ele queria mesmo se render. Isso depois de oito horas de tiros, explosões e negociações as mais estranhas. Muito, muito bizarro mesmo.

Hoje fiquei com a TV diante dos olhos o mais que pude. O ministro da Justiça estava no Rio de Janeiro almoçando e conversando com a cúpula da Polícia Federal. Sobre o quê? O preso que foi capaz de usar contra uma ministra do Supremo Tribunal Federal os termos mais chulos, mais desqualificados possíveis aguardava ser ouvido pela Justiça. Para dizer o que, por favor? Nada justifica o que foi feito, as cenas que os brasileiros tiveram diante dos olhos por quase um domingo inteiro e até mesmo aquela ridícula figura fantasiada de padre e negociando com a PF a entrega de armas de guerra que o preso não poderia ter. O policial federal do deboche pode dizer que representava um personagem. E foi mais convincente do que esse padre que já mereceu palmas e dancinhas da primeira dama na internet.

Muita gente daqui e de fora se pergunta hoje que samba do crioulo doido é esse que nos tomou um domingo inteiro. Há pouco tempo um pobre diabo foi morto asfixiado pela PRF porque não tinha documentos e tentam colocar 100 anos de sigilo nas peças do processo a que os policiais respondem. O marginal de ontem foi transportado da cidade onde vivia para o Rio de Janeiro num carro blindado da Polícia Federal usado quase sempre para proteger altas autoridades, algumas estrangeiras.

Não acredito no que estou vivendo. Alguma coisa está muito errada comigo. Ouvi até o presidente da República falar que não há uma única fotografia conhecida dele com esse sujeito. Maneira de dizer que nem sabe quem é. A foto que ilustra o texto mostra que ele não mente. Definitivamente.  

Um comentário:

Anônimo disse...

Inacreditável, mesmo!
Quanto mais vivo, mais assombração aparece?
“Não acredito no que estou vivendo. Alguma coisa está muito errada comigo. Ouvi até o presidente da República …”
Parabéns! Falou por nós? Pelos brasileiros!