2 de outubro de 2022

Anauê para o bem do Brasil


Uma das pessoas que mais amei na vida foi meu pai. Ao final, quando ele estava próximo de  morrer, toda vez que nos despedíamos era como se fosse a última. E durante anos não conseguia entender nele sua juventude no Partido Integralista Brasileiro e o fato de ser dono de um um conservadorismo politico extremado que o levava a nunca fazer concessões fora do espectro político da direita ou extrema direita. Só muito mais recentemente, anos depois de ele morrer, pude concluir que o velho não era mal, não era tão reacionário assim e sobretudo não era um ponto fora da curva. Foi, isso sim, o retrato do conservadorismo/reacionarismo brasileiro.

Quando eu me irritava com seus argumentos e dizia "Anauê para o bem do Brasil" com o fito de colocar um freio nele, apenas ria a dizia: "Não sou fascista!". Mas às vezes era. E durante a juventude havia sido muito. Tanto que era admirador de Plínio Salgado e amigo pessoal do representante político deste no Espírito Santo, Oswaldo Zanello. Deixou o movimento muito mais porque era ateu do que por divergência doutrinária. Não suportava ter que conviver com o lema "Deus, Pátria, família" daquele movimento.

Na história brasileira o integralismo se mostra e se esconde, se mostra e se esconde, num movimento de vai e volta que aproveita a arena política e as crises brasileiras para mostrar as garras. Foi o que aconteceu em 2018, quando da eleição de Jair Bolsonaro. Os escândalos que cercaram os governos de Lula/Dilma serviram como caldo de cultura para uma nova eclosão do movimento e, hoje, para o resultado geral das eleições nacionais. Muitos dos eleitores dos reacionários que agora vão ter mandatos políticos fizeram isso de caso pensado. Mas a maioria foi embarcada na calda de cometa da propaganda fascista. Não tem estofo intelectual para entender o que acontece.

Afinal, o que se pregava na campanha de Bolsonaro e se vai continuar pregando é um falso virtuosismo religioso. Além do antigo lema "Deus, Pátria, família" são trazidos à arena política o neo-evangelismo brasileiro, um difuso conceito de liberdade e a "pauta de costumes".  Como se uma vitória da "camarilha comunista" fosse tirar a liberdade das pessoas. Na verdade, foi durante as ditaduras do Estado Novo e do Golpe de 1964 que todas as garantias constitucionais caíram por terra. E cresceu no Brasil a prática da tortura política. Milhares se lembram disso. Sentiram na carne.

Temos possibilidade de vencer essa onda? Sim, temos. Mas vamos precisar começar agora elegendo Lula presidente e fazendo o possível e o impossível para que ele seja capaz de governar como um monge. Uma freira. Sem escorregões. Com um projeto de inclusão social, de recuperação da economia e de distribuição de renda capazes de anular o discurso da extrema direita. "Anauê" é um termo talvez de origem tupi, uma saudação, um modismo entre escoteiros do início do século XX e que nossos fascistas adotaram juntamente com suas camisas verdes e que os fizeram ser chamados de "galinhas verdes". São as que você pode ver na foto acima.

Mas não se iludam: essas atuais têm bico longo, projetos de futuro e são muito perigosas para o que a gente entende como democracia. Elas corroem nossos valores de dentro para fora.                  

2 comentários:

Anônimo disse...

Minha avó italiana tbem participava de reuniões entre eles. Espero que se envergonhe disso.

Anônimo disse...

Anauê para o bem do Brasil!
Bico longo, são perigosos para o bem da democracia.
Triste realidade!