Uma das pessoas que mais amei na vida foi meu pai. Ao final, quando ele estava próximo de morrer, toda vez que nos despedíamos era como se fosse a última. E durante anos não conseguia entender nele sua juventude no Partido Integralista Brasileiro e o fato de ser dono de um um conservadorismo politico extremado que o levava a nunca fazer concessões fora do espectro político da direita ou extrema direita. Só muito mais recentemente, anos depois de ele morrer, pude concluir que o velho não era mal, não era tão reacionário assim e sobretudo não era um ponto fora da curva. Foi, isso sim, o retrato do conservadorismo/reacionarismo brasileiro.
Quando eu me irritava com seus argumentos e dizia "Anauê para o bem do Brasil" com o fito de colocar um freio nele, apenas ria a dizia: "Não sou fascista!". Mas às vezes era. E durante a juventude havia sido muito. Tanto que era admirador de Plínio Salgado e amigo pessoal do representante político deste no Espírito Santo, Oswaldo Zanello. Deixou o movimento muito mais porque era ateu do que por divergência doutrinária. Não suportava ter que conviver com o lema "Deus, Pátria, família" daquele movimento.
Na história brasileira o integralismo se mostra e se esconde, se mostra e se esconde, num movimento de vai e volta que aproveita a arena política e as crises brasileiras para mostrar as garras. Foi o que aconteceu em 2018, quando da eleição de Jair Bolsonaro. Os escândalos que cercaram os governos de Lula/Dilma serviram como caldo de cultura para uma nova eclosão do movimento e, hoje, para o resultado geral das eleições nacionais. Muitos dos eleitores dos reacionários que agora vão ter mandatos políticos fizeram isso de caso pensado. Mas a maioria foi embarcada na calda de cometa da propaganda fascista. Não tem estofo intelectual para entender o que acontece.
Afinal, o que se pregava na campanha de Bolsonaro e se vai continuar pregando é um falso virtuosismo religioso. Além do antigo lema "Deus, Pátria, família" são trazidos à arena política o neo-evangelismo brasileiro, um difuso conceito de liberdade e a "pauta de costumes". Como se uma vitória da "camarilha comunista" fosse tirar a liberdade das pessoas. Na verdade, foi durante as ditaduras do Estado Novo e do Golpe de 1964 que todas as garantias constitucionais caíram por terra. E cresceu no Brasil a prática da tortura política. Milhares se lembram disso. Sentiram na carne.
Temos possibilidade de vencer essa onda? Sim, temos. Mas vamos precisar começar agora elegendo Lula presidente e fazendo o possível e o impossível para que ele seja capaz de governar como um monge. Uma freira. Sem escorregões. Com um projeto de inclusão social, de recuperação da economia e de distribuição de renda capazes de anular o discurso da extrema direita. "Anauê" é um termo talvez de origem tupi, uma saudação, um modismo entre escoteiros do início do século XX e que nossos fascistas adotaram juntamente com suas camisas verdes e que os fizeram ser chamados de "galinhas verdes". São as que você pode ver na foto acima.
Mas não se iludam: essas atuais têm bico longo, projetos de futuro e são muito perigosas para o que a gente entende como democracia. Elas corroem nossos valores de dentro para fora.
2 comentários:
Minha avó italiana tbem participava de reuniões entre eles. Espero que se envergonhe disso.
Anauê para o bem do Brasil!
Bico longo, são perigosos para o bem da democracia.
Triste realidade!
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