11 de dezembro de 2024

A nova ordem trumpista


Afora o fato de que o mercado brasileiro, esse que manobra o comportamento da economia de acordo com suas vontades e interesses nem sempre confessos faz o possível para sabotar o governo Federal, em um ponto o atual quadro de instabilidade econômica brasileiro tem um fator externo bastante forte: a expectativa geral pela posse, em janeiro próximo, do novo presidente dos Estados Unidos, o extremista de direita Donald Trump. Uma parcela considerável do nervosismo da economia internacional está repousada justamente no fato de não saberem as pessoas até que ponto irá o novo mandatário na concretização de seus arroubos de valentia contra tudo e contra todos.

O filósofo, escritor e ativista italiano Franco Berardi publicou no último dia 08 um artigo intitulado "A desintegração do mundo ocidental" e  no qual ele diz, dentre outras coisas que "somente avaliando o abismo do inconsciente americano podemos decifrar as raízes da ferocidade social que agora está em plena manifestação". Sim, e isso nos atinge em cheio e a todas as democracias ocidentais, sobretudo as que estão hoje sendo arrastadas ao extremismo de direita graças à ascensão ao poder de gente que reza na cartilha do futuro presidente norte-americano. Procurem ver e vocês terão um quadro claro do que pode vir por aí: esses extremistas têm uma única preocupação: a de destruir o que foi construído até hoje para erguer em lugar das democracias atuais e da pretensa democracia dos EUA uma estrutura de poder reacionária, totalitária, próxima de que foi o poder nazista em passado recente.

Fazer isso nos Estados Unidos não é difícil. Dos primeiros presidentes daquele país, sete eram senhores de escravos. Outros que não o foram podem ser considerados como supremacistas brancos. Trump é um deles. Só não abraça descaradamente a Ku Kus Klan (foto) porque isso hoje é ilegal em seu país. Mas acredita nos princípios que essa gente espalha. Seus mentores diretos, Steve Bannon e Elon Musk desejam o fim da sociedade tal qual ela é atualmente, e para tanto o futuro presidente está se cercando de gentalha da pior espécie, a maioria formada por criminosos. Jair Bolsonaro, nosso modelo brasileiro os copia em tudo, mas sem a força que eles têm lá em seu país, onde querem libertar os espíritos animais da sociedade americana.

Os Estados Unidos nasceram de genocídio, deportações e escravatura. Seu processo de enriquecimento está fundamentado dessa forma e por isso Musk tem a pretensão de formar um sistema escravagista de alta tecnologia. Pouco antes de morrer, Paul Auster escreveu no livro "Bloodbath Nation" que o racismo está no cerne do inconsciente americano e por isso Trump é a alma dos Estados Unidos. Vejam como as coisas se fecham! Então o futuro presidente dos EUA é a "erupção psicótica do inconsciente branco".

Os norte-americanos não querem deixar de viver em um império. Mais do que isso, querem esse império controlando e dominando todo o mundo. Por isso é hoje angustiante vermos aos poucos um sintoma de derrocada na União Europeia que deverá ser atacada de todas as formas de fevereiro próximo em diante. Nenhum dos estrategistas atuais norte-americanos que conseguiram incorporar a alma sequestrada de seu país sequer tenta disfarçar. Bannon esteve palestrando recentemente na Universidade de Nova Iorque e disse: "Sou leninista". Quando alguém o questionou sobre o sentido de suas palavras ele completou: "Lenin queria destruir o Estado e esse também é meu objetivo".  Mas Lenin queria destruir o Estado de então em nome de uma justiça futura que jamais foi concebida na prática.

Há como conter esse movimento. Houve no passado, existem meios agora e haverá no futuro. Basta estar alerta. No Brasil a sabotagem do governo Lula em vez de ajudar esse presidente a vencer fragilidades pode abrir a porta para a volta do reacionarismo ao poder, ainda mais agora, com a hospitalização dele. Não é isso que a maioria dos brasileiros quer, tenho certeza. E nos Estados Unidos Trump saberá cavar sua própria sepultura política ou pessoal. Isso já aconteceu com outros no passado. 

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