José Alberto Mujica Cordano, o homem que todos chamam de Pepe (foto), anunciou em entrevista que está morrendo. Pediu a todos permissão para ir em paz no sítio onde mora junto a seus pertences amontoados numa casa velha, o Fusca à porta e uma pequena horta da qual cuida com esmero. O gigante uruguaio, dono de um patrimônio moral de valor inestimável, está em vias de deixar a vida depois de saber que não há mais tratamento para o câncer que o devora por dentro, em metástases. Irá embora dentro de muito pouco tempo.
Esse velhinho de ar doce e frágil é um ex-guerrilheiro Tupamaro e foi preso por uma das ditaduras de extrema direita que governaram o Uruguai. Ficou 15 anos na cadeia e, em alguns momentos, dentro de um buraco. Saiu dele e da prisão para se tornar presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e senador de 2015 a 2018. Nascido em Paso de La Arena, em Montevidéu, chegou ao Movimento de Libertação Nacional, ou Tupamaro, grupo marxista-leninista de guerrilha urbana, com o intuito de combater o fascismo em seu país. Pagou caro por essa opção - como no caso brasileiro, errada -, da mesma forma como aconteceu com Dilma Roussef, a quem sucedeu no Mercosul. Também já foi deputado, Ministro da Pesca um monte de coisas. Mas sobretudo vai deixar a vida e entrar para a história como um homem de honra.
Mujica não usou a política para enriquecer. Usou-a para construir e fortalecer a democracia no Uruguai. Depois de deixar o poder, jamais interferiu na vida pública de seu país. No seu estertor, usou o prestigio pessoal para ajudar a eleger o atual presidente, a quem jamais procurou depois disso. Em hipótese alguma para pedir favores ou cargos. Vai morrer pobre, mas cercado pela admiração de milhões. Será enterrado de mãos limpas, como poucos.
Pepe teria muito a ensinar aos políticos brasileiros, mas não vai se ocupar disso. Seu anúncio de morte próxima aos 89 anos foi feito sobretudo para os compatriotas uruguaios. Ao Brasil veio algumas vezes, na última para prestigiar o presidente Lula. Este, teria muito a aprender com ele, mas imagino que não o fará. Certamente chorará no velório caso possa ir, e serão lágrimas verdadeiras. O melhor, esse exemplo de vida, será sepultado com Pepe. Monumento à ética pessoal e política, à honra, à dedicação total e incondicional ao interesse público, ele viveu pelo Uruguai, sempre lutando, de início com armas nas mãos como no episódio da Tomada de Pando, em outubro de 1969, e depois na política que usou largamente e jamais em benefício próprio. O Uruguai, país minúsculo, em breve sepultará um gigante! Caso raro!
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