As Fernandas no momento da vitória maior da filha |
A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro anunciado ontem nos Estados Unidos possui um significado simbólico muito grande e ela tem a exata noção disso. Significa que o Brasil que preza sua Constituição, que sobrevive a tentativas de golpe de Estado e luta pela manutenção do sistema político baseado no Estado Democrático e de Direito vai vencer os vermes golpistas que emergem dos esgotos da história onde vivem para, de tempos em tempos, buscar reviver seus pesadelos de violência, de negacionismo e de obscurantismo.
Significa explicar porque ainda hoje estamos aqui e vamos continuar estando.
A extrema direita golpista é diferente da direita politica. Essa última representa uma visão de mundo antissocialista e que luta por alguns dos ideais caros ao capitalismo, mas dentro da regra do jogo e respeitando quem pensa diferente. Conheço muita gente assim. A extrema golpista vive nas sombras porque não pode emergir dos esgotos impunemente. Faz como fez uma acadêmica da Academia Espírito-santense de Letras (AEL) que postou imagem mostrando duas figuras religiosas ligadas à mãe de Jesus à esquerda e ao centro da "arte" com, à direita, uma da bandeira do Brasil, nosso maior símbolo pátrio, representando o extremismo que aqui ainda sobrevive respirando por aparelhos ligado a Bolsonaro. Retirou do ar, pediu desculpas e disse ter se enganado de grupo. Engano grande, disse eu...
Fernanda sabe, assim como eu e muitos outros, que Rubens Paiva é agora somente um símbolo. Da mesma forma que ele, muitos outros brasileiros foram presos ilegalmente, torturados e assassinados nos porões do regime que ocupou o Brasil entre 1964 e 1985. Teve mulher grávida jogada ainda viva de helicóptero sobre a selva. Teve homem amarrado à traseira de Jeep militar e com a boca presa no cano de escape enquanto o acelerador era pressionado para gerar mais gases e calor. Teve pau de arara, cadeira do dragão, afogamento simulado ou não, espancamentos que levaram à morte como aconteceu com Rubens Paiva e Vladimir Herzog, o Vlado. Em comum entre os dois o fato de que foram buscados em casa para "prestar depoimento". Vlado, o jornalista, foi mostrado num enforcamento simulado em instalação militar. Já Rubens Paiva, desapareceram para sempre com seu corpo.
As pessoas que vivem nos esgotos da história pensam o que da figura do Deus no qual dizem acreditar?
Irônico, mas "Ainda estou aqui" é uma produção da Globo! Há sempre tempo para as pessoas e instituições reverem seus princípios, suas crenças. E hoje, depois da vibração incontida de Fernanda Torres, da alegria de Fernanda Montenegro (vejam a montagem fotográfica) haverá muito tempo para que nós, brasileiros, pensemos em que país queremos viver. No dos esgotos da história, não, pois nunca na vida acamparei perto de quartéis militares, rezando para pneu ou chamando extraterrestres. No do exemplo contido no filme que nos levou ao Globo de Ouro, sim, porque esse país de homens livres construído pelas esquerdas democráticas é o retrato das aspirações de todos os que renegam o passado de torturas erigido sobre os cadáveres, de Rubens, Vlado e milhares de outros.
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