23 de janeiro de 2009

"Cumprindo ordens"

Agora que o presidente Barack Obama assinou uma determinação legal proibindo torturas nas instalações militares dos Estados Unidos e marcando o fechamento da prisão de Guantánamo para dentro de no máximo um ano ou qualquer coisa além disso, podem escrever que as torturas vão parar. Afinal, os torturadores estavam até agora apenas "cumprindo ordens superiores".

Um psicólogo norte-americano, Jerry Burger (primeira foto acima) escreveu um que praticamente é a confirmação de outro, de Stanley Milgram (foto do meio) e no qual ambos dizendo que a obediência cega a ordens é uma realidade hoje como foi ontem. Principalmente a obediência a ordens superiores.
Burger fez um experimento com alunos seus. Com um ator em uma sala e uma espécie de máquina de choques que na verdade não funcionava, pediu a alunos seus para darem choques de intensidade progressiva no cobaia. Raros se negaram. E os choques começavam nos 15 e terminavam apenas nos 450 volts. O psicólogo procurou traços nas pessoas que davam os choques para tentar descobrir um padrão ou gestos de compaixão. Não os descobriu. Os estudantes apenas demonstravam estar fazendo o que era correto para os estudos. Esse material todo está no livro Personality (Personalidade, 2008).

Os soldados norte-americanos do Afeganistão, Iraque e da base de Guantánamo, onde funciona a prisão de segurança máxima Camp D acreditavam estar fazendo a coisa certa ao torturar porque isso lhes havia sido dito por seus superiores. E os "inimigos" eram pessoas más.

Da mesma forma, em 1961, quando os juízes que julgavam o carrasco nazista Afolf Eichmann (última foto abaixo) em Israel perguntaram a ele porque havia mandado milhares de judeus para morrerem nos campos de concentração, ele respondeu apenas: "Cumpri ordens".

A obediência cega ainda precisa ser mais pesquisada, estudada. Aqui no Brasil, entre 1964 e 1985, época em que durou o regime militar (que eu, prosaicamente, chamo de Ditadura Sanguinária), milhares de pessoas foram torturadas nos porões do Estado. Centenas morreram. Afinal, eram subversivas e queriam o fim do Brasil (sic!).

Os prisioneiros de Guantánamo, os que ainda estão no Iraque e no Afeganistão, não mais serão torturados. Daqui para a frente,os militares continuarão a cumprir ordens vindas de cima, cegamente. Só que as ordens agora são ao contrário.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, pai!
Me fez refletir sobre algo que eu nunca havia pensado.
Sempre achei a atitude da população e soldados americanos completamente alienada, mas nunca analisei desta forma.
Vamos ver se esta providência de Barack realmente surtirá efeito.
Beijos.

Alexandre Mazzei disse...

Muitas vezes, eu, como professor, vejo meus amigos profissionais "todo certinho" fazer coisas absurdas e aceitar determinadas situações só porque são ordens superiores.Veja, se isso acontece com um profissional que deveria ser formador de opinião, que dirá com os outros...parabéns pelo artigo.