26 de janeiro de 2009

Reféns do Terror

2h35m da manhã de domingo para segunda-feira, 26 de janeiro de 2009 . O telefone toca e nos acorda. Vou viver um drama que milhares de brasileiros já viveram ou vão viver. Do outro lado da linha, a voz de mulher com timbre jovem se esgoela:
- Fui assaltada, pai! É (e diz o nome da minha filha, que está viajando), pai!
- O que houve com você, filha?
A essa altura todo mundo acordou em casa. Há terror no rosto da mãe e a irmã está sentada na cama, pernas cruzadas, imóvel, como quem reza.
- Fui assaltada!, repete. E vem ao telefone a voz de um homem: "É o pai da (e diz o nome de novo)? Sua filha está comigo. Agora ouve: nós mata ela se você...
Desligo o telefone. Chamo minha filha pelo celular mas ele está fora de área. O terror aumenta. Quem sabe no telefone da casa da minha sobrinha, onde ela está? Com o medo estampado no rosto, a mãe não consegue encontrar na agenda. Não se lembra. Descontrolado, xingo todo mundo bem alto. Minha filha pega o celular da mãe, encontra o telefone da prima e liga para lá. Pergunta se é a minha sobrinha. Não é. Então, quem é? Era minha filha mesmo, a irmã dela, que acabava de acordar com o barulho do telefone. Todo mundo desaba de alívio. Corro ao banheiro para urinar.
Como esses canalhas conseguiram meu nome? Meu telefone? O nome da minha filha mais nova? E como sabiam que ela estava viajando?
Só depois de voltar, atento para um detalhe: no bina do telefone convencional onde atendi a ligação dos criminosos está o número 9249-3178. Mas ele é do Rio de Janero (021) e não da cidade onde minha filha se encontra. Como atentar para esse "detalhe" na hora do desespero?
Pela manhã, na Polícia, o policial anota o número. Vai passar para os policiais do Rio de Janeiro. O celular será bloqueado (presumo...) mas, em menos de 24 horas, os criminosos encontrarão mais cinco, dez, vinte - quantos forem necessários - celulares roubados. Esse também é roubado. E não há nada, absolutamente nada que se possa fazer para proteger a mim, cidadão, ou a qualquer outra pessoa nesse Brasil onde pagamos impostos injustos, tentando sobreviver à sanha do Estado perdulário, composto por demagogos e corruptos, afora algumas exceções.
Bagda é aqui.
E somos reféns do Terror.

5 comentários:

Anônimo disse...

Puxa Álvaro, que sufoco. Meu sogro já havia me alertado quanto a esses telefonemas mas ainda não recebemos nenhum deles aqui em Sampa. Meu sogro disse que na maioria dos casos os telefonemas saem de dentro dos presídios.

Caramba, mas que susto terrível ! Se você tivesse problemas com o coração poderia ter infartado.

Mas por outro lado ainda bem que foi apenas um trote e sua filha estava sã e salva.

beijos,
Lys

Unknown disse...

Isso é terrivel e sei como devem ter se sentido.Alguns anos atras meu filho mais velho na epoca com 15,fase de aprontar,aprontava mesmo.coias do tipo por travesseiros debaixo das cobertas e as 2 da manha ao ir ao banheiro olhava o quarto dele ja por habito(trauma,medo),ja nao bastava olhar,tinha que erguer as cobertas e ver se era ele mesmo.Bom.uma noite recebo uma ligaçao a cobrar,mas parentes fazendo isso ja era rotina,atendi"Como prefere o caixao do (nome do filho),com ou sem vidro?"...nem sei exatamente o que fiz,nao me lembro direito,minha mae é quem conta que eu com telefone no ouvido comecei a chamar pelos nomes dos 3 meninos ao mesmo tempo que perguntava'Quem fala?Quem fala?acendia um cigarro,abria agenda do cel em busca do telefone de um amigo policial e nao sei mais quantas coisas ao mesmo tempo em desespero .Graças a Deus estavam todos em casa.Alguns anos mais tarde,em 2007 conheci uma familiae a filha unica deles ficou muito amiga de meus filhosessa pessoa que costumava vir dormi aqui em casa usava a net.Como de habito(nao muito correto eu sei)leio as conversas dos meus pimpolhos na net sem que saibam e li uma dessa moça..combinava com alguem do RJ simular seu sequestro"de gozaçao'conversei com ela sobre isso e ela negou tudo apesar das provas,o tempo passou e em fins de 2008 a mae dela me liga desesperada perguntando se eu tinha noticias da filha naquele dia pois algum do RJ dizia estar com ela em cativeiro.Acalmamos a mae e depois de achar a menina com a maior cara de pau negou tudo de novo.Temos que ter muito cuidado com essas amizades virtuais,essa no caso foi uma 'gozaçao' proposital,mas pode haver quem pegue informaçoes importantes como nome,bairro etc, num simples bate papo de uns minutos e os use,repasse ou venda.Recebi proposta de 'vender' dados de meus ex-funcionarios' pra que fim nem perguntei.todo cuidado é pouco ..e mais uns programinhas de segurança ajudam.

Ninna disse...

Acho que vale investigar sutilmente todos que se relacionam com a familia,aigos,funcionarios,ex funcionarios,amigos de filhos,nao instaurar um processo em cima de cada um,mas uma olhada mais de perto ,mais atenta,sempre achei que embora as ligaçoes venha de presidios.alguem fornece os dados a quem liga.

Don Oleari disse...

Você continua o excelente jornalista que sempre foi. E que texto, cara! Quando crescer quero apredner a escrever assim
Abraço do Oleari, seu admirador.

Anônimo disse...

Oi, Álvaro, aconteceu comigo também. Era uma mulher gritando e dizendo "mãe, por favor, fui sequestrada e estão querendo dinheiro, me ajude etc...". Já passava de meia-noite, eu estava dormindo. Me apavorei e falei o nome dela, aí uma voz masculina falou que se não desse dinheiro ela iria morrer. Como moro longe dela disse que naquela hora eu não podia fazer nada, eles desligaram e aí a ficha caiu. Liguei para o celular dela e estava desligado, o do marido dela também, a vizinha disse que não sabia de nada, liguei para a tia do marido dela e ela me disse que iria na casa deles para ver se estavam em casa. Respirei aliviada quando ela me ligou dizendo que estavam dormindo desde cedo. É brincadeira, o coração da gente acelera de uma tal forma que se tiver algum problema cardíaco acaba morrendo. Álvaro, obrigada pela oportunidade de participar do seu blog.